" O garoto correu, correu e correu quão depressa podia colina abaixo..."
Havia visto um navio viking, e já estava enlouquecendo sem saber o que fazer. Queria fugir, ir para casa e ficar com Jhon, fingir que nada acontecera, mas também queria ir até o cais e ver de perto aquilo. E foi o que fez.
Chegando lá, o navio já havia ancorado. Era uma galé - um navio enorme,um dos maiores, e diziam que era assombrado - e era lindo,feito totalmente com madeiras do norte, madeira das bétulas das terras do extremo norte de Bóreos. Mesmo os anões sendo conhecidos por suas habilidades como carpintaria, nem mesmo eles conseguiam reproduzir navios tão belos e majestosos como aqueles de Bóreos, pois muitos vikings dedicavam suas vidas, corpos e almas à construção naval. O casco do navio era uma beleza, a quilha tinha uma perfeita curva e era reforçada com aço. E logo à proa, a figura de um dragão se erguia imponente, um belo dragão vermelho das histórias vikings. E as velas repousavam sobre os enormes mastros, as velas negras que traziam terror à todos que as vissem.
Ele ficou lá por um tempo, maravilhado com o navio. Já era noite e a lua subia cada vez mais para se colocar em seu lugar no topo do céu estrelado. Era noite de lua cheia, e como tradição do povo de Caldas, era dia de festejar.
-Garoto! -uma voz se aproximou, tirando-o de suas imaginações- Tome cuidado, este é um navios dos grandões do norte, e muitos dizem que os navios de lá são amaldiçoados, principalmente os de velas negras!- então voltou a seguir seu caminho sem esperar resposta, pois também acreditava naquelas superstições.
O garoto saiu do cais, mas não pelo aviso do homem, saiu simplesmente porque já havia apreciado muito e agora queria saber para onde os vikings haviam ido.
Ficou um tempo vagando pelo arredores do cais, mas todos pareciam continuar fazendo suas coisas normalmente, sem dar pistas alguma de que haviam vikings em algum lugar daquele porto. Ele já estava cansado, a lua estava em seu ápice e as pessoas já começaram à voltar para suas casas. Decidiu tomar o caminho que usava todos os dias para ir para casa depois de ajudar Maquiavel na taberna.
Foi caminhando solitário pelas ruas ladrilhadas do porto até que chegou ao centro comercial da cidade. Foi então que começou à escutar gritos e risadas. "Bêbados", pensou consigo mesmo. Mas conforme mais se aproximava do caminho que passava pela taberna, mais altos os sons ficavam, e então apressou o passo, pois deduzia que toda aquela algazarra vinha da taberna de Maquiavel, achou estranho, porque nessas horas o velho senhor já estaria em sua casa com sua mulher e filhos. A pouco menos de meio quilômetro, viu a porta da mesma aberta e uma luz forte, juntamente com as gargalhadas, indicando que o estabelecimento continuava aberto, e ele foi até lá.
A taberna era um lugar famoso na região. Chamavam-na de Convés Verde, pois seus interior se assemelhava a de um velho convés de navio pirata e quando a taberna recebia grandes apreciadores de bebida de outros continentes, alguns traziam um minério que não era encontrado em Barra, o fluyt, um minério esverdeado que fora colocado nas paredes da taberna,e fora isso que a tornará tão famosa e o que originou seu nome.
O garoto estava diante da porta, a porta redonda que também atraía clientes. E diante da porta ele via o velho balcão de sempre, com o mesmo Maquiavel de sempre, e as velhas bebidas atrás do balcão com o mesmo Maquiavel servindo-as. Entretanto, havia uma coisa que não estava como sempre: os clientes não eram os de sempre (não que o menino conhecesse todos os que frequentavam o Convés Verde, mas qualquer um poderia perceber que aqueles não eram os clientes normais de Caldas).
-Heyo,Sardinha! Veja só, você por aqui? Pensei ter te dispensado há muitas horas! -era Maquiavel já meio bêbado, convidando-o a entrar e servir os clientes, balançando um pano e uma bandeja de prata -Vamos! E já que está aqui beba conosco, você já tem dezesseis e tem que festejar! -e um dos que estavam do lado oposto do balcão deu um grande sorriso para Maquiavel.