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Karina's pov:

"Dizem que todo mundo tem alguma estranheza. Mas o mais interessante é a ideia de que há alguém por aí tão peculiar quanto você."

Apesar da viagem de carro para Seul ter durado pouco mais de três horas, não me sinto cansada. Pelo contrário, me sinto completamente desconectada da minha antiga vida. É perturbador, mas também libertador.

Como se eu pudesse recomeçar de verdade.

Yeji me manda uma mensagem, desejando boa sorte nessa nova fase da minha vida e reafirmando que está a apenas uma ligação de distância.

Digito uma mensagem rápida indicando que estou a poucos metros da minha moradia temporária, sem saber se realmente estou. Entro em uma rua que não conheço, assim como a grande maioria das ruas deste lado da cidade, mesmo com os vidros fechados posso ver que se trata de um dos melhores bairros residenciais de Seul.

Eu não fiz planos de onde ficaria; uma parte tola de mim acreditou que, de algum modo, os dormitórios da faculdade eram a opção certa. Mesmo que as coisas não tenham saído assim, eu não estou muito preocupada com o lugar onde vou ficar a partir de hoje. Minha família já cuidou desse detalhe.

Minhas mães nunca disseram isso, mas eu tenho certeza de que elas interferiram nessa questão por que não acham uma boa ideia deixar alguém como eu sem supervisão.

Já foi uma surpresa quando eu disse que tinha me candidatado a uma vaga na Yonsei University. Mas diferente do que imaginei, Seulgi respeitou minha decisão de não querer permanecer em Busan no momento e declarou que estava muito orgulhosa de mim, e Joohyun respeitou o fato de eu finalmente estar correndo atrás de algum sonho.

De certo modo, eu não estava em posição de discordar da decisão delas. E se conseguir provar que vou ficar bem pelo próximo semestre, talvez não precise mais da supervisão de uma tutora.

O GPS me manda virar à esquerda e eu me recosto contra o assento de couro confortável, observando a paisagem de primavera em Seul. Sem dúvidas essa é uma das melhores épocas do ano para visitar a cidade. Tem algo estranhamente relaxante na forma como as árvores florescem ao longo do caminho.

Bom, é relaxante até eu começar a pensar no que realmente me espera.

Ainda que a questão de moradia não seja um problema, não sei muito sobre a família Kim. Quer dizer, conheci Taeyeon há alguns anos quando minha família veio passar uma temporada em Seul. Sei que ela é uma renomada editora literária e que atualmente chefia a equipe de uma das mais importantes editoras da cidade. Também sei que seu ex marido é empresário de importantes nomes do mercado literário. Mas quanto a filha deles? Não tenho ideia.

Não porque não esteja curiosa. As redes sociais teriam me dito o que quero saber num piscar de olhos. Mas, honestamente, achei que não devia bisbilhotar a vida pessoal de alguém que nem sequer conheço.

Só que não consigo parar de pensar em como a voz da minha mãe soou triste ao falar dessa garota. De como uma tragédia tinha se acometido sobre a família, embora as pessoas só saibam daquilo que veio à público.

A voz computadorizada do GPS me traz de volta a minha realidade e estaciono o carro em frente à uma casa. Na verdade, “casa” é pouco. Esta mais para uma luxuosa construção de pé direito alto. O lugar não é nem minimalista nem ostensivo. A única vez que vi algo do tipo foi quando moramos em um condomínio de luxo em Icheon.

Há algumas janelas no segundo andar, e em uma delas vejo uma garota com fones de ouvido olhando pela fresta das cortinas. Quando nossos olhos se encontram, ela desaparece depressa.

Start Over - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora