únicos || danthur [HIATUS]

potencial

Gaudério: indivíduo sem ocupação, ocioso, inativo; vadio, malandro.

Eu sempre gostava de aumentar meu vocabulário, então quando eu escutei o Arthur sóbrio falar que o termo Gaudério Abutre era um xingamento a minha curiosidade surgiu.

Quando o escutei falar isso na primeira vez, pensava que era uma piada que eu apenas não entendia, logo ignorei. Mas xingamento? Por que ele mesmo se xingaria?

Eu pensava tudo isso na minha cama. O quarto estava escuro, apenas a luz do meu laptop iluminava o cômodo e o meu rosto. Eu e Arthur tínhamos combinado de nos encontrar na varanda mais vezes, ambos concordávamos que era legal passar tempo um com o outro. Já tinha se passado 2 horas e pouco desde que dissemos adeus, porém a minha consciência não parava de se perguntar: o que diabos era um 'gaudério abutre'? No final das contas, decidi saciar logo essa curiosidade.

Mas enfim: como tinha dito a pesquisa, 'gaudério' era sinônimo de sem ocupação, parasita, malandro, comedor, mas ao mesmo tempo de gaúcho. Isso era, no mínimo, bem confuso.

Pesquisando abutre, me surpreendi: era uma ave. Porém também possuía um sentido figurado, que provavelmente era o aplicado nesse 'xingamento', significando alguém que espera/deseja a morte/o desaparecimento de outrem.

Desistindo de interpretar o que diabos aquelas palavras significavam juntas, decidi apelar a internet. Digitei 'Gaudério Abutre', e sem nenhuma hesitação, cliquei no enter. Em pouco tempo, resultados apareciam, porém não eram sites de linguagem informal ou coisa do tipo, eram de notícia.

Folha Gaúcha: Bar dos Gaudérios Abutres é fechado após acid...

Bom dia, SUL: Incêndio mata membros dos Gaudérios Abutres, com ape...

No Rio Sul: Únicos Gaudérios Abutres sobreviventes dei...

Meu dedo ainda estava paralisado em cima do botão. As notícias vinham como bombas. Eram poucas, muito provavelmente eram de apenas uma região, porém seus títulos eram chamativos e brutais. Suas palavras-chave eram "Incêndio", "Sobreviventes", "Carpazinha" e, obviamente, "Gaudérios Abutres."

Minha mente estava a mil: como o nome de membros de uma gangue morta poderia ser um xingamento para meu vizinho?

Porém logo essa dúvida minha desapareceu. Meu cérebro se focou em algo muito mais importante, o qual estava presente no meu computador.

Show dos Abutres: Arthur Cervero, o cantor infernal!

Era um vídeo. Na capa, tinha um cara sorridente em cima de um palco. Seus olhos estavam fechados e seu sorriso mostrava todos os dentes. Segurava o microfone, com uma guitarra pendurada no seu pescoço. Seu cabelo era curto, quase que raspado, sua barba era rala, como se estivesse começando a crescer, e vestia uma camisa de um homem dando um dedo no meio, uma jaqueta jeans sem manga, uma calça preta e botas.

Era Arthur, meu vizinho, sem sua cicatriz e com ambos os braços.

Respirei fundo. Cliquei no vídeo.

Esse vídeo tinha sido postado há quase 4 anos atrás. Ele era de baixa qualidade, parecia ter sido gravado por um telefone muito ruim e por uma mão cheia de tremedeira, porém era evidente a gritaria do lugar. Focando minha visão, eu consegui ver 3 pessoas chegando no palco, sendo uma delas o garoto da capa do vídeo.

Chegou próximo ao microfone, enquanto os dois homens atrás dele pegavam seus instrumentos e os afinavam.

"Opa, gente, boa noite!" Muitos homens gritaram "Então, depois de um longo mês, chegou nossa hora de brilhar, né? Bem, obrigado aos meus amigões da banda e, obviamente, meu pai por sempre deixar seu pirralho gritar nesse palco." Nessa hora, era óbvio que o homem da câmera deu uma grande risada "Bem, vamos começar o show?" Todos gritaram.