ressaca

383 48 106
                                    

Juro que eu nunca tive tanta vontade de dormir em uma aula na minha vida.

Nunca fui um dos alunos brilhantes (se não dá pra ver na minha cara), mas dormir? Jamais.

Mas PUTA QUE ME PARIU.

Aquela desgraça de frase que só se repetia na minha cabeça, a maldita frase que tirou meu sono.

'Ui eu nunca estive mais certo mi-mi-mi minha vida toda blá-blá-blá.'

Que ÓDIO, PUTA QUE TE PA-

"Ei." O mestre apontou para minha direção, tirando a minha concentração sobre minha raiva interior "Sol na batida de rock, vamos!"

Percebi que todos ao meu redor já estavam tocando suas respectivas partes, menos eu. Suspirei, tanto como uma técnica de tirar um pouco de nervoso do meu coração tanto para evitar que meu rosto ficasse vermelho de vergonha, enquanto ajustava as cordas para fazer uma nota sol. Em pouco tempo, já estava fazendo o Baixo - Baixo baixo ci- vocês me entenderam.

Comecei me concentrando na batida. Sim, tava tudo certo. Era só continuar assim.

Baixo - Baixo baixo cima - Cima baixo cima - Meu Deus, como eu começaria uma conversa com o Dante?

É óbvio que ele não iria lembrar, eu já sabia disso por experiência: quando ele acordou depois do ano novo no meu sofá, eu tive que fazer um resumo de 5 minutos até ele entender o que tinha acontecido: o bichinho não se lembrava de absolutamente nada. Nadica de nada. E isso era bom, pelo menos eu achava.

Pense comigo: como eu explicaria para o meu amigo héte- ou melhor, 'hétero', que ele tinha literalmente me pedido pra ficar com ele? É óbvio que se eu dissesse isso ele pensaria que eu tava manipulando a mente dele e que eu era só um tarado que não demonstrava que era tarado só depois de uns 8 meses de amizade! Assim, ele me xingaria muito (coisa certa a se fazer) e boom, me odiaria para todo o resto da eternidade, provavelmente me acusando na polícia mas por algum motivo eles nem iriam ligar então eu só seria conhecido como 'o cara que tentou ficar com o Dante quando ele estava bêbado só pra depois falar que era o Dante que queria pegar ele aquele tarado do caralho.'.

Até que me surpreendi em como consegui manter o ritmo da música mesmo depois de prever meus próximos 5 anos na minha cabeça. Bom trabalho para mim, eu acho.

Mas mesmo assim... Deus, ele não saía da minha cabeça. Aquele cabelo loiro, quase branco, que eu havia cortado, os olhos azuis que se destacavam no seu rosto pálido, o braço tatuado dele que havia um espaço vazio mas que por algum motivo fazia ele mais especial, como parecia que nossos abraços se encaixavam perfeitamente...

Pela décima vez, eu assumo: eu estou caidinho... caidão pelo loirinho.

E sim, eu já fiquei com muitas pessoas nas festas, mas parece que ele é intocável, mas no sentido bom. Ele é tão... 'sagrado' de alguma forma que eu não me ouso a só dar uns pegas nele numa festa e no dia seguinte fingir que nada aconteceu. Com Dante parece que algo verdadeiro deve acontecer. Algo não só por impulso, mas por querer.

"E...ok!" Minha mão ficou elevada no ar "É, vocês são bons," o mestre sorriu para nós "mas já está na hora de irmos."

Enquanto ele falava sobre o que devíamos fazer ou não fazer para melhorarmos, minha cabeça parecia uma linha telefônica onde ninguém estava conectado: apenas um grande 'pi'.

Quando a primeira pessoa saiu pela porta, eu já fui a segunda: eu precisava me distrair de alguma forma.

***

Meu pescoço doía. Muito.

Minha coluna também.

Todos os meus ossos, inclusive meus dentes, doíam demais, e logo eu percebi a explicação: eu parecia um contorcionista pela maneira que eu estava deitado na poltrona.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 17, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

únicos || danthur [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora