apresentação

487 56 19
                                    



A cada dia que se passava, eu ficava cada vez mais nervoso. A cada hora que se passava, eu concluía cada vez mais que eu era uma espécie parecida com um sociopata por nunca ser capaz de me comunicar com o meu vizinho. A cada minuto, eu me perguntava se um dia eu iria falar com ele novamente. Segundo por segundo, eu pensava que isso era completa besteira minha e que eu tinha coisas mais importantes para me importar com. Porém o 'simples' desenho do Abutre me amaldiçoava 24 horas por dia.

Eu acredito que foi uma maldição que caiu sobre minha cabeça. Sabe, por ter conversado com alguém. Talvez eu devesse ficar só no meu mundinho com minha irmã, pintando paisagens e natureza morta, não pensando em vizinhos que possuíam grande potencial de começar uma amizade comigo já que minhas pobres habilidades socias me bloqueavam de tentar fazer a primeira jogada ou de tentar manter contato com eles.

Impressionante como esses pensamentos chegavam quando eu estava me arrumando após o banho. Eu me considero uma pessoa com uma vida ocupada mesmo não possuindo quase nenhum compromisso, então o momento quando você se sente limpo depois de tomar uma ducha quente é perfeito para você se aprofundar nessas coisas mais... chatas da vida.

Eu observava meu cavalete intocado desde semana passada. Nada. Nenhuma inspiração. Nadinha. Nem um pingo de criatividade. Sentado na minha cama, minha perna direita ia de cima para baixo. Além desse fato, outra coisa não foi realizada desde que eu o conheci: eu não tinha coragem de entrar na minha própria varanda.

Beatrice já tinha ido pintar umas 5 vezes desde então, e sempre voltava para dentro reclamando do cheiro de cigarro que vinha da casa ao lado. Dizia que às vezes ele estava lá, na outra varanda, apenas fumando observando a vista. Ela o achou bem rude. Eu apenas suspirava: como uma pessoa que nunca ficou na influência de álcool ou coisas desse tipo, eu não sabia que as diferenças de alguém chapado e de outro sóbrio eram tão gritantes. Principalmente uma pessoa tão simpática.

'Deus.' coloquei ambas as mãos no meu rosto. Como eu odiava pensar que eu o conhecia por ter apenas passado nem uma hora conversando com ele.

A esse ponto, eu já sabia que o Arthur nem se lembrava de mim.

Então quer saber? Que se foda: levantando com certa confiança, coloquei uma regata, peguei meu quadro branco, os pincéis novos, as tintas e, obviamente, meu cavalete. Eu precisava superar esse bloqueio: eu ficaria preso naquela varanda até eu ter uma mínima ideia de uma próxima obra.

---

"Bem, nós proporcionamos várias oportunidades na nossa faculdade. Os cursos mais procurados são medicina, direito, engenharia... qual o senhor possuí mais interesse no momento?"

"Música." Eu disse, sem hesitar por um momento. Como eu já tinha previsto, o homem na minha frente ficou me observando por alguns segundos, incrédulo com minha decisão. Olhou rapidamente para meu ombro esquerdo

"Oh, bem, escolha ousada!" Abaixou-se para pegar alguns papéis "Bem, nos possuímos algumas especialidades, em qual você gostaria de se adentrar? Você pode escolher fazer até duas ao mesmo tempo."

"Guitarra e..." Pensei, não sabia que seria bem-vindo com duas escolhas logo de cara "canto."

"Ok, senhor... bem, está tudo feito, então. Já analisamos seu currículo escolar, que por sinal é bem interessante." Não expressei nenhuma reação "É com grande prazer que te dou boas-vindas a nossa faculdade." Levantou-se, estendendo a sua mão direita, logo percebendo seu erro e estendendo sua outra. Apertei-a, sabendo que esse seria um longo período da minha vida. Ousaria dizer que seria uma experiência interessante.

únicos || danthur [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora