0.1

67 2 0
                                    


⋅⋅⋅⋅⋅⊰♧⊱⋅⋅⋅⋅

Há algo de errado quando acordo.

Talvez seja no ruído de metal rangendo, do cheiro infernal de pele de animal, pelas luzes que piscam sem parar me deixando com dor de cabeça, mas tenho certeza que algo está muito errado.

Quando meu cérebro parece associar onde estou, meu corpo recebe em resposta um arrepio inibriante que percorre minha pele, arrepiando todos meus pelos.

Me encontro em um elevador feito de grades de metal, um cubículo muito pequeno e muito apertado cheio de caixas e tralhas.

Estou subindo pra algum lugar na superfície, prestes a emergir a qualquer momento, mas tudo o que consigo pensar é; o que diabos está acontecendo?

Tento forçar minha memória para algo que pudesse ter me colocado naquela situação, algo que eu tenha feito de errado.

Recebo o nada como resposta.

Não consigo pensar claramente. As perguntas vagueiam minha mente como um turbilhão de abelhas em meus ouvidos.

Quem sou eu?

Por que esse barulho é tão alto?

Qual é o meu nome?

Pra onde estou indo?

infelizmente as perguntas superam em milhões o número de respostas e sou obrigada a tentar manter a calma.

E então, tudo começa a desacelerar.

A caixa começa a diminuir sua velocidade, indo em direção a duas portas metálicas que consigo enxergar lá no alto. Há uma fresta brilhante entre elas, a luz do sol, presumo.

Seja lá o que tiver ali, imagino que não deve ser coisa boa.

Olho ao redor, no que há junto comigo, caixas e mais caixas, alguns animais e... Ferramentas.

Facões, facas, machados, enxadas e pás, um monte deles.

Não consigo evitar de esconder uma pequena faca na manga da minha blusa, mantendo-a por perto para caso precisar.

Quem sou eu?,  A pergunta vagueia minha mente sem parar, mas tento ignorar o fato de que não me lembro de nada antes de acordar na caixa, nem se quer meu próprio nome.

Estou em desespero, com pensamentos tomando minha mente, as perguntas são a única coisa qual tenho. Não sei de nada para responde-las.

A caixa finalmente para e me escoro na grade de metal, observando enquanto as portas duplas são abertas uma para cada lado.

A luz me cega por alguns minutos, tenho que me acostumar com a visão qual vejo.

Algumas cabeças curiosas me espiam de cima, com receio. Os sussurros que começam e não param de maneira nenhuma.

- é uma garota. - diz um deles.

- Uma trolha?

- Alby precisa ver isso. - diz outro.

Então um garoto corpulento e loiro, que é um dos únicos que não parece ter medo de mim, chega mais perto da beira da caixa, me encarando de cima com superioridade.

- Ora, Ora... - diz ele. - temos uma novata.

O encaro, ainda meio cega pela luz do sol extremamente brilhoso lá no alto. O garoto pula para dentro da caixa, fazendo com que todos meus instintos fiquem em alerta.

- Fique longe. - tento dizer firme, mas minha voz sai como um pio.

- Ei, calma trolha. - continua. - estou só querendo ajudar.

- Quem são vocês? - pergunto.

O garoto tenta parecer ainda mais intimidador, o que, pra ser sincera, está funcionando muito bem. Ele ainda está do outro lado das grades, longe o bastante para que eu não possa investir contra ele..

- Meu nome é Gally, e o seu? - pergunta.

Não respondo, mas não porque simplesmente não quero, mas sim porque não sei.

Eu não me lembro.

- Relaxa, a maioria de nós lembra do nome nos primeiros dias. - Diz. - agora me deixa te ajudar, trolha.

Ele diz, então da um passo em minha direção e estica seu braço.

Ajo talvez pelo impulso, o medo e receio daquele lugar novo, em algum subconsciente da minha mente eu soube que poderia fazer aquilo.

Agarro seu pulso o puxando em minha direção, ao mesmo tempo dou espaço para que seu corpo seja impulsionado pra frente. Agarro a gola de sua camisa, nos virando em 180° graus. Agora tenho domínio sobre ele, que está colado na parede.

A faca escondida, agora está perto demais da garganta de Gally para que ele ouse se mover.

Consigo ouvir os murmúrios assustados lá de cima, alguns parecem até surpresos.

- ei, ei, ei. O que está acontecendo? - pergunta um garoto alto e magro, seus cabelos são mal aparados e loiros, o semblante delicado e os olhos castanhos-claros. Mas não tenho tempo de notar como é bonito, apenas aperto ainda mais a faca na garganta de Gally.

- Newt, Ela vai matar o Gally! - grita um garoto meio desesperado.

- Ela não vai matar ninguém! - retruca ele.

- Não sabe do que sou capaz. - respondo cética. Na realidade, nem eu sei do que sou capaz, não sei de nada a respeito de mim mesma. - Respondam minhas perguntas ou ele morre. - tento parecer confiante.

- O que quer saber? - pergunta o garoto louro, Newt.

- quem são vocês? Porque eu estou aqui? Porque eu não me lembro de nada? - as palavras são cuspidas da minha boca. Observo o rosto de Newt, impassível.

Então, num descuido, Gally me acerta um chute, me empurrando pra longe. A faca ainda está na minha mão e penso em ataca-lo mas ele é mais rápido, batendo na parte de trás do meu pulso, jogando a faca para baixo, passando pelo meio das grades do elevador e indo em direção ao escuro nada lá em baixo.

- Agora você me irritou, trolha. - começa. - perdemos mais uma faca boa!

- tirem ela da caixa agora. - ordena uma pessoa. Um garoto de pele escura e olhos também escuros. Aparenta, por algum motivo, ser o mais velho dentre eles e parece ser mais inteligente também.

Sou jogada para fora da caixa por Gally, caindo pesadamente no chão de grama. A multidão ainda me cerca, me obrigando a ficar entre eles. Me sinto mais segura se estivesse dentro da caixa, aqui não é o meu lugar.

Então observo os rostos de meus admiradores. Os olhos de diversas cores, diversos tons de pele, os cabelos diferentes, mas o que mais me incomoda, a única coisa que demora a meu cérebro raciocinar é que são em maioria garotos. Provavelmente 30 jovens garotos me encaram com curiosidade.

A percepção me atinge como um soco no estômago.

Sou a única menina aqui.

⋅⋅⋅⋅⋅⊰♧⊱⋅⋅⋅⋅⋅

(N/A: espero que estejam gostando, não esqueçam de deixar a opinião de vocês, fiquem a vontade para críticas construtivas.)

𝐒𝐭𝐮𝐜𝐤 𝐢𝐧| 𝐍𝐞𝐰𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora