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Acordo com uma mão tampando minha boca.

Antes que eu consiga morder a pessoa que me acorda, Alby tira suas mãos de mim. Ele me olha e faz o sinal de silêncio, então levanto, ainda meio sonolenta.

Estou descalça e a grama molhada pelo sereno matinal molha meus pés, nós caminhamos lado a lado em uma distância segura, até ele parar em frente ao muro, em frente a uma grande rachadura. Ele pensa um pouco antes de começar a falar.

- você chegou tarde ontem e dormiu no amansador. - começa. - acho que não teve a oportunidade de ver isso.

Alby aponta para os muros que pouco a pouco começam a se movimentar, se abrindo como duas enormes portas e deixando o caminho livre para um enorme corredor cheio de Heras.

- o que é isso? - pergunto, baixinho.

Alby me avalia com os olhos antes de voltar a dizer;

- Esse, novata, é o labirinto.

- O que? - pergunto confusa.

Ele não responde, apenas encara o corredor gigantesco a nossa frente. Alby parece ter lembranças amargas desse lugar e não o questiono sobre.

- Nós últimos três anos a caixa manda fedelhos desmemoriados para cá. - ele começa, imagino que esteja pensando um jeito de me dizer que aqui não é meu lugar.

- E em todos os anos, nunca subiu nenhuma garota. - Ele me fita com os olhos profundos. - Isso significa que as coisas estão mudando. E temos medo disso.

- tem medo de mim? - soa quase irônico, um bando de garotos terem medo de uma simples mulher.

- Temos medo do que você representa. - corta seco. - esse muro, trolha, é tudo o que temos para nos proteger do que há lá fora. - Alby suspira pesadamente. - Infelizmente, esse muro também nos prende aqui.

"Todas as manhãs, essa porta de abre, e todas as noites, sem excessão elas se fecham. Além delas, há um labirinto. Ele muda todas as noites e todos os dias." Continua. "Tentamos encontrar qualquer saída durante os últimos anos, dentro do labirinto e fora."

"Lá dentro, novata, existem criaturas que, quem viu, não sobreviveu pra contar." Diz Alby receoso. "Tem que entender, que não importa o que aconteça, não deve ir além desses muros, entendeu?"

Confirmo com a cabeça sem muita confiança. Alby passa a mão pelo rosto.

- hoje teremos a fogueira durante a noite. - completa. - querendo ou não, você agora é uma de nós. E irá se portar como tal. Sem mais ameaças e facas, entendido?

- entendido. - confirmo e ele me guia para dentro da floresta, para um local mais perto do muro e das árvores.

- Quando estiver pronta... - ele diz. - quando se mostrar digna, seu nome vai estampar esses muros como o de todos os outros.

Observo Alby se afastar, passo meus dedos pelos nomes.

Alby, Newt, Gally, Ben, Minho, Clint, Winston, Jeff, Henry, Adam, Dan, Scott, Lee, Dixon, Roe, Jim, Alfred, Stan, caçarola, Aidan...

os nomes são muitos, mais do que consigo lembrar. Só então meus dedos passam mais firmes pelos nomes riscados, apagando-se com o tempo.

George, Stephen, Justin, Nick...


Outra quantidade de nomes qual mal posso me lembrar. Me pergunto o que aconteceu com eles.

Ando de volta em direção as redes, que agora estão começando a ficarem vazias enquanto os garotos se levantam e vão para seus respectivos trabalhos.

- Eu, trolha. - ouço uma voz conhecida e meu estômago, por algum motivo, volta a doer. Encaro Gally que está em posição imponente em minha frente. - Vai trabalhar com os construtores hoje. - anuncia e quase cogito a ideia de cortar os pulsos. - Eu sou seu encarregado agora. Estou de olho.

Avisa antes de de virar e sair, me deixando sozinha.

𝐒𝐭𝐮𝐜𝐤 𝐢𝐧| 𝐍𝐞𝐰𝐭Onde histórias criam vida. Descubra agora