Cyberwave - Hyperising

Vermelho escarlate

Se apenas uma mulher segurando uma catana fosse algo que pudesse me agradar para sempre... eu morreria feliz.

Toda a cena começa com uma pessoa no meio de uma enorme sala fortificada, sentada em uma pequena almofada. A jovem pessoa tenta acalmar sua própria respiração inalando o ar pelo nariz e expirando-o pela boca, lentamente, até finalmente recuperar o controle de si mesma.

 — Estou calm-... eu continuo... lentamente me superando.

Uma voz saindo de uma caixa de som escondida em algum lugar da sala diz:

 — Então pode se levantar e prosseguir com o seu treinamento.

Ao tentar se levantar, a perna direita da pessoa falha, e ela quase cai de joelhos no chão, algo inaceitável para essa pessoa. Ela então joga sua catana no chão, e se arrasta até a porta de saída, que não abre.

 — Você precisa pegar sua catana e colocá-la em cima da almofada, com gentileza.  — Diz a voz na caixa de som.

A pessoa se arrasta até a catana, com sua perna direita fraca, e gentilmente pega a espada, e depois a coloca na almofada com delicadeza e respeito à arma. Ao se virar para ir em direção à porta novamente, as luzes se acendem, sua roupa estava manchada de sangue, e seu rosto finalmente era visível, junto da porta reforçada. Um gás forte é lançado, até que essa pessoa  tonteia, dá vários passos para traz e eventualmente, desmaia, caindo perto de um dos diversos corpos que havia deixado na sala. Vivos, mortos, agonizando até o eventual fim. 

Seja lá quem entrasse naquele lugar era passível alvo da afiadíssima espada que essa pessoa pôde colocar as mãos, não havia nada de especial na pessoa ou na sua catana, apenas... muito, muito treino. E disciplina. Disciplina que eventualmente viria a faltar nessa mesma pessoa, uma disciplina que não deveria ter sido perdida, essencial na hora de se destacar em um emprego novo ou de conquistar a família de sua nova namorada; ou deixar uma pilha de corpos pintados de vermelho escarlate. 

Essa pessoa nunca teve uma oportunidade de demonstrar disciplina.

"Eles me pegam de tempos em tempos, me treinam mais e mais, mas nesse ponto eu sinto que não há mais o que melhorar. Sinto que, se eu parasse de matar todos que eles mandam, sejam homens mulheres ou robôs, eu teria um final mais... feliz. Enfim, pode ser que estejam criando algo que não poderão controlar no futuro."

É inacreditável.

 — Noite passada, ... foi o dia do último treinamento com espadas.

 — Todos mortos, mais de 25 pessoas em uma tacada só. Uma sobreviveu sem as mãos e sem um olho.

Uma terceira pessoa abre uma porta e entra no local, vendo essas outras duas lá, comenta:

 — Tão dizendo que a sala foi pintada de vermelho, quase que completamente. Tem tripa e osso pra todos os lados.

— Nosso último espadachim aguentou seis das 12 sessões, essa pessoa aí aguentou todas.

— Ah, deve ser um jeito de aliviar a raiva.

Os dois homens que já estavam conversando, sentados em uma mesa e comendo pão com mel, param de falar, e o outro que chegou depois lança um último comentário:

 — Se... se eu tivesse no lugar de-... eu também passaria no teste, sabe, anos de raiva acumulada.

Os dois concordam, e um deles comenta:

 — Sinistro. Bom, o frio tá me matando, eu vou ali no refeitório tomar um café com leite pra ir esquentando minhas mãos, vejo vocês em breve... 

Antes de sair da sala, o homem comenta, com a porta já aberta:

 — Besteira isso ai, não faz nem um ano que- ... está aqui. Ainda assim seu desempenho é inacreditável. 

E dali em diante, todos que resolveram enfrentar-... não saíram ilesos, ou sequer venceram um duelo. A vitória de-... tem um gosto doce e quente, e um sentimento reconfortante mesmo que em meio a tanto caos. Em sua última luta é registrado que-... conseguiu superar até mesmo as barreiras da realidade, e dobrar o mundo todo à sua bela e dourada vontade, mostrando uma sanguinolência jamais antes registrada.

E há quem diga que existem melhores espadachins por ai. 

Haviam cinco outros homens usando espadas catana, e todos eles avançaram para cima dessa certa pessoa, todos com reflexos aguçados. Ao verem que o pé dessa certa pessoa se movimentava na intenção de dar um pulo alto, bem alto, eles reagiram junto, mas esse foi um grande erro: No ponto mais alto do pulo, logo de primeira duas cabeças voaram, a terceira figura, embasbacada com a situação, resolve erroneamente olhar para a cabeça voando, e sem ter tempo de reagir, acaba com suas duas mãos cortadas e seus olhos rasgados por um profundo corte horizontal feito pela catana dessa pessoa.

Ao pisar no chão a pessoa rapidamente usou de suas pernas para derrubar o último sobrevivente e fincar sua espada no coração de seu inimigo, ao mesmo tempo que as últimas cabeças caiam no chão em sincronia com a perfuração da catana. 

O chão havia sido pintado de vermelho escarlate de novo.

E essa saga reflete os olhos de uma pessoa muito motivada, com seus ideais acima de tudo, sua paixão por sua família e o fogo jamais apagável que queima dentro de si, guiando-a para a jornada infinita de ser uma pessoa melhor, com mais disciplina.