Ressurreições

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Em muitas ocasiões, a falta do que fazer pode ser algo perigoso. 

Dia 18 de agosto de 2073, Tóquio, Japão.

Eu estava sentando na minha cadeira de escritório dentro do meu quarto, ainda vestido com roupas sociais que usava para trabalhar. Usava, pois havia perdido meu emprego algumas horas atrás. Quando essas coisas acontecem, você não sabe muito bem o que fazer, eu pelo menos sou assim. Pelo menos naquela época ainda tinha um dinheiro guardado então pelos próximos meses eu poderia viver numa boa, sem precisar correr atrás de um emprego.

Mas é que ficar parado por muito tempo é algo que não me faz bem nem um pouco. Eu me lembro bem, no final da tarde, lá pelas 17 horas, meu amigo me enviou uma mensagem no Lino, eu ouvi meu celular vibrar na mesa do computador e também ouvi o som da notificação sair do meu headphone; que também estava na mesa.

No celular: 

"@GaiMaijin1557" — Eu ouvi sobre o que aconteceu com você hoje, que fita meu mano! Espero que tudo dê certo pra você, se precisar, te arrumo algo aqui nas corporações Watanabe, mas respira um pouco antes de voltar pra um trampo.

"NorgMan" — Valeu. Eu vou esperar sim antes de procurar um emprego novo, e vou considerar seriamente sua proposta. 

O amigo visualiza, mas não responde.

"Mas talvez eu devesse tentar outra coisa."

Eu desço as escadas, ando até a cozinha e pego um pedaço de bolo que comprei ontem, bem recheado, com uma cereja em cima, ligo a luz da sala e desligo a da cozinha. Não havia muito o que pensar, e por algum motivo o dia parecia tão mórbido, e isso era nítido aos meus olhos. Enquanto comia pedaços do bolo com a colher de plástico que veio junto na compra, continuava lentamente a tentar gerar pensamentos na minha mente, porém nada vinha. Eu passo uns bons 10 minutos comendo, até largar de lado o pratinho e ir tomar um pouco de água da garrafa que guardo na geladeira; e novamente, nada de pensamentos.

Foram assim os dias seguintes, 19, 20 e 21, mas no dia 22 algo muda. Eu havia passado mais tempo do que nunca quase que não produzindo nenhum tipo de pensamento na minha mente, e apenas obedecia aos meus instintos de ser humano. Essa época foi parte do maior grito silencioso que eu ouvi na minha vida: Nem a cidade estava produzindo barulhos, e eu duvido que seja por causa daqueles dois que viraram famosinhos recentemente. Quando percebi que minha vida estava vazia, foi aí que notei o quão inútil meu chip cerebral havia se tornado.

O chip neural, chip cerebral e em alguns lugares, até mesmo Link-chip, é o responsável por trabalhar como um computador mental, que projeta imagens nos olhos biônicos implantados em qualquer ser humano, não funciona da mesma forma em máquinas como por exemplos androides ou ginoides, que simplesmente já tem a informação processada diretamente. Essas imagens, mesmo que extremamente próximas do olho humano, não perdem foco, é parte da mágica dos implantes oculares de hoje em dia. Por trabalhar como um computador, também podemos conversar com pessoas em redes sociais, ver vídeos, e toda a digitação é baseada no processo de pensar palavra por palavra na barra de pesquisa, e deletar palavras ou a frase inteira é uma questão baseada em "sentir", se eu sinto que devo deletar tudo, assim será e se eu quiser que tudo volte como estava antes de eu deletar, também.

Mas meu feed das redes sociais, meus bate-papos, tudo havia perdido a magia, o interesse por trás de tudo o que eu conheço do mundo moderno havia se perdido. Então resolvi removê-lo da entrada atrás do meu ouvido: Joguei na gaveta da minha mesa de escritório em formato de L, e lá ficou. Mas quando eu o vi assim, largado, notei algo: Assim como as nossas roupas, os chips estão com todas as pessoas do mundo, mais ainda do que as roupas pois quando tomamos banho podemos continuar usando-os. Hoje em dia celulares são quase que completamente descartáveis por causa desses chips, e a segurança de um simples aparelhinho desse é quase que impossível de ser quebrada, mesmo seu formato simples se assemelhando ao de um micro SD, a sua programação em si não é fácil de ser quebrada. Mas eu disse QUASE, por um bom motivo: Há alguns anos, utilizando de dados públicos e quase que nenhuma engenharia reversa, um grupo de crackers conseguiu de alguma forma milagrosa cometer um genocídio, matando 4 pessoas e deixando uma mentalmente instável, apenas mudando o código de programação do chip cerebral das vítimas.

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