Prólogo: Chocolate Bottom Eyes

53 11 8
                                    


31 de outubro de 2140. Dois dias antes do dia dos Finados. Para mim está longe de ser Halloween. Muito menos vou à caça às bruxas. Meu objetivo é um só: manter a ordem dos mortos. Ou melhor, manter o trabalho da Ordem Obsidiana. Nós tínhamos um único dever nesse dia: permitir que o acesso às almas atormentadas à diversão. Um ritual de consentimento mútuo entre vivos e mortos, onde os vivos, fantasiados, emprestaram seus corpos a essas almas e seriam felizes por um dia. Viveriam o que não puderam em vida.

Tudo isso era feito com segurança e controle da situação. Porém acidentes podem acontecer. Era raro, mas nesse mesmo dia, do ano anterior, meu parceiro de ordem acabou sendo assassinado por um dos vivos fantasiados, de um emprestado. Até hoje consigo sentir o cheiro e o calor de seu sangue espirrar no meu rosto. O grito de terror alto ainda ecoava na minha cabeça. O meu grito, minhas lágrimas, meu desespero. O meu cetro largado ao seu lado com a ponta de um punhal embebecido de seu sangue.

Cá estava eu, segurando o mesmo cetro que um dia ele me passou, me confidenciando sua vida e lealdade a um trabalho intenso e que mexia com ordens que somente a nossa poderia lidar.

No túmulo, lia-se: Joseph Anthony Francis Quinn, 26 de janeiro de 2111 a 31 de outubro de 2139. "Chocolate Bottom Eyes Forever". Repousei o ramalhete de lírios brancos, com uma promessa: irei até eu pessoalmente ao Ceifador de Copas, buscar sua alma de volta.

- Jamie? - me sobressaltei, achando que ouvi a voz dele. Mas era apenas Jess, com sua feição tranquila, porém de olhos apreensivos. - Está tudo bem?

Apenas balancei a cabeça em afirmação. Ela se aproximou e me abraçou. Eu queria chorar, mas não conseguia. Me recusava a estar de luto por uma alma aprisionada.

- Eu vou te libertar. Nem que seja a última coisa que faça em vida.

A Ordem Obsidiana e o Cetro LunarOnde histórias criam vida. Descubra agora