Ícaro Retornou ao Vilarejo para me deixar em casa. Selamos um beijo e vejo ele seguir seu caminho.
Foi bom revê-lo depois de tanto tempo.
Mas me despedir é doloroso. Desta vez será eterno. Ele encontrou o Amor de sua vida e se casará. Não trocaremos mais momentos como esses, que são secretos para nós.
A rajada gelada de vento me tira de meus pensamentos e eu caminho em direção a porta pesada de madeira da minha casa.
Me deparo com uma linda mariposa preta com bolinhas brancas parada sob a mesma.
Ver qualquer forma de vida e beleza em shadowland é rara. Posiciono a mão esquerda a sua frente, e ela sobe em meu dedo indicador.
Ela é tão linda que sinto vontade de guarda-la em um pote para poder admira-la para sempre. Mas seria uma crueldade sem tamanho fazer isso com tão bela criatura.
Ao invés disso, peço silenciosamente para que um dia minha vida melhore e eu encontre a felicidade. Deposito um suave sopro em sua direção e a vejo bater as asas vagamente para longe, conduzida pela brisa.
Me despeço com um sorriso no rosto e tomo partida para casa.
Ao entrar, minha mãe está fumando um cigarro sentada na cadeira velha de balanço e me olhando fixamente.
Meu pai se encontra ao seu lado, mancando ao tentar caminhar."O que fazem acordados? Já está tarde."
Digo indo em direção a janela que bate sem cessar, tento fecha-la.
"É já está sim."
Minha mãe traga seu cigarro e solta a fumaça fétida no ar.
"Tarde demais para você estar na rua..."
Ela continua.
Não entendo sua preocupação. Ela nunca se importou comigo. Não deveria estar me questionando.
"Filho..."
Meu pai diz. Seu olhar é receoso e um tanto melancólico.
Não, por favor não.
Eu tento desviar dos olhares indo até a lareira, há um pouco de lenha por entre as cinzas. Pego a caixa de fósforos e acendo um. As chamas sobem rapidamente e aquecem meu peito. Abafando os batimentos desesperados do meu coração.
"Você não vai nos contar onde estava ?"
Minha mãe se levanta, e ouço seus passos lentos vindo até mim.
"Ou melhor, o que estava fazendo..."
Ao me levantar, me deparo com os olhos frios dela. E sinto seu hálito fedendo a álcool barato.
Não tenho tempo de Dizer nada, ela mete a mão no bolso do meu casaco e tira o dinheiro que ganhei de Ícaro."Eu não falei? Ele está se vendendo por dinheiro."
Ela grasna. E sinto vontade de chorar quando vejo o olhar de decepção no rosto do meu pai.
"Ben, pelos Deuses..."
Minha respiração ameaça falhar. Meu peito dói. Vou desmaiar.
"P-pai..."
É só o que consigo soltar.
"Eu sabia que você era um garoto mentiroso. Que ganhava muito mais do que o salário na casa dos Flex."
Não importa o que minha mãe diz. Meus olhos não saem do meu pai.
Ele está sentado na cadeira de balanço, chorando. Sinto minhas próprias lágrimas rolarem pelo meu rosto."Para quem você está se vendendo? Deve ser alguém muito importante pela quantidade de dinheiro que tem aqui."
Ela conta as notas.
Eu a encaro sem disfarçar a angústia que tenho por ela."É alguém da capital? Um empresário? Algum Homem Casado que não se basta com a esposa e precisa buscar por corpos miseráveis para brincar?."
Ela fala em tom de deboche. Com ódio no olhar.
Eu não aguento, retribuo o mesmo olhar e sinto meu peito apertar enquanto ouço o "click" da lareira. Sentido o calor das Chamas ao meu redor."Pelo menos eu procuro pessoas com significância. Alguém que pague o necessário para por comida na sua boca."
Ela engole em seco.
Meu pai está nos olhando, com tristeza.
Ele não aguenta mais nossas discussões."Pode me xingar e me julgar o quanto quiser mamãe. Mas sua tentativa de fazer o meu pai se decepcionar comigo, não apagará jamais o fracasso que você é."
"Click"
A lenha se parte, e a chama cresce cada vez mais.
"Você é uma Ninguém que se doa por um pouco de nicotina e Álcool. Sempre foi assim."
Ela encara a lareira, como se minhas palavras estivessem saindo dela.
"Ben..."
Meu pai me chama. Ele tenta se levantar e mancar até mim, mas tropeça no tapete velho e empoeirado e vai de encontro ao chão.
Não consigo me importar, o Ódio que me consome me faz ferver. Já não consigo mais distinguir se é pelo calor do fogo ou de minhas emoções. Não consigo filtrar o que está se passando, apenas deixo as palavras dançarem para fora de minha Boca."Você é a maior vergonha que eu tenho em toda a minha vida. Você nunca foi uma boa mãe e muito menos boa esposa.
Os ordinários que te comem nos banheiros sujos dos Bares que você frequenta te merecem. Você é tão imunda quanto..."Não sinto dor, apenas o estalo do tapa ressoando em meus ouvidos.
Me encontro encarando o Fogo, que cresce sem parar, é como se fosse consumir por completo a lareira. Por entre as chamas posso ver todas as lembranças de minha infância. Os momentos mais tristes e deprimidos.
Vejo todas as vezes que presenciei brigas entre minha mãe e meu pai; consigo ouvir todos os xingamentos que ela sempre direcionou a mim quando estava bêbada. sinto a dor de todas as surras que ela me deu e a vergonha de todas as vezes que ela foi me buscar bêbada na escola, quando meu pai estava trabalhando e não podia ir.
De repente, sinto que já não posso me manter de pé. não sinto minhas pernas e nem mãos. Minha consciência não existe. Meu coração está batendo em pequenas pausas. o fogo da lareira dança de acordo com minhas piscadas e o que acontece em seguida não faz parte de algo que posso Explicar. direciono o olhar das chamas para minha mãe e conduzo o fogo para ela.
ela grita ao passo que sua pele pega fogo. seus olhos são consumidos em uma velocidade surreal, derretendo como cera de vela. Suas roupas já não existem mais e seus cabelos caem no chão em forma de chamuscos. Ouço um grito abafado do meu pai, e a única coisa que faço é direcionar meu olhar para cima. não faço ideia de como mas a mariposa que eu vira do lado de fora está planando sobre minha cabeça. eu a sigo com o olhar - enquanto minha mãe está sendo incinerada em minha frente - mas antes que eu possa ver aonde ela irá pousar, a lareira explode em luz e calor me jogando longe. e tudo fica escuro.
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Chama Perdida
FantasyBenholk Mills é um garoto de 18 anos que vive no desafortunado reino de shadowland. As condições de vida em seu vilarejo São deploráveis e para não deixar sua família cair em Extrema miséria. Ben faz tudo o que está em seu alcance para suprir as nec...