Chama Perdida

9

O que antes parecia ser uma parede se revela uma porta, ou algo parecido. Se arrasta para a direita e nos permite sair de dentro da grande Nave metálica e gélida.
Ao pisar na grama sinto meu corpo entrar em êxtase. Não posso sentir o solo com precisão pois estou de sapatos. Mas sinto minhas pernas se reestruturarem e darem firmeza ao resto de mim.
O cheiro de macropus é estranho, diferente... Não consigo definir com clareza. Só fica nítido o aroma de algumas árvores que rodeiam o palácio, trazido pela brisa fresca do amanhecer.  A brisa. O Ar. O ar é limpo, puro... Quase purifica meus pulmões da fumaça que inalei.
Olho para cima no momento exato para flagrar um grupo de pequenos pássaros pretos voando juntos, eles vêm da direção oposta de onde o sol se irradia.

"Encantado?"

Dione me pergunta, me trazendo de volta a terra firme.

"É eu... Nunca vi pássaros tão de perto. Nem um nascer do sol tão agradável e bonito assim. As manhãs em Shadowland são frias e escuras, o ar é pesado e fétido. Aqui é como o paraíso pra mim."

"Espere até conhecer o lado de dentro."

Ela sorri, cruza o braço direito no meu e me arrasta em direção aos muros do castelo.
Os cruzamos e eu me espanto ainda mais com a grandeza da arquitetura diante de mim. Eu já Havia visto palácios em novelas antes. Minha antiga patroa, Nova flex adorava assistir todas as noites uma novela que contava a História do nosso mundo e das famílias reais, ela passava horas diante do receptor admirando as imagens diante de seus olhos. Porém nada se compara a estar pisando na escadaria de um palácio de verdade.
Antes que possamos adentrar o local, duas figuras surgem em nossa frente. Da mesma estatura, com os mesmos pares de olhos azuis gelo. A diferença é o tom do cabelo.
Ela tem cabelos curtos e escuros, e ele cabelos grisalhos.

"Benholk, lhe apresento as majestades de     macropus. A Rainha olyvia e o rei ítalo."

É Jorge quem faz as Honras. Me mantive tão vidrado nos detalhes de sua casa, que me esqueci completamente que ele estava logo atrás de mim e Dione.

Ele e Dione se curvam diante dos dois. E eu, no impulso acabo por fazer o mesmo.
O rei me encara com espanto como se eu o assustasse ou lhe causasse algum tipo de incômodo. Já a rainha arregala os olhos com tremenda surpresa, levando a mão direita a boca.

"Você... Não pode ser..."

Por alguma razão, O rei está incrédulo  como se Já me conhecesse e houvesse muito tempo que ele não me via.

"Meninos vocês conseguiram... Encontraram ele. É mesmo você? Benholk Fiama?"

"Fiama? Meu sobrenome é Mills."

Consigo dizer em meio a confusão.

"Oh querido..."

A rainha se aproxima de mim com os olhos embargados por lágrimas, me pegando de surpresa com um abraço. Um abraço forte, sincero e acalentador. Um abraço que eu nunca recebera antes.

"Você tem os mesmos olhos de Lian"

Diz o rei.

"E os mesmos cabelos de Katerine."

A rainha me diz, segurando com carinho o meu rosto.

"Desculpe mas do que vocês estão falando? Eu não entendo..."

Olho para Dione, em busca de socorro.
Mas ela não intervém. Não diz nem faz nada na verdade. Só me olha, com um olhar  vago e meio acusador. Esqueci que ela faz parte disso tudo.

"Acalme-se filho, se você está aqui é porque você é a pessoa certa. Eu reconheceria o fruto de Katerine e Lian em qualquer lugar.
Sei que está confuso, talvez se sinta perdido.
Mas aqui conosco, você está seguro."

O rei diz vindo até mim, me olhando nos olhos. Colocando sua mão em meu ombro direito, que ainda dói pelo acidente com os destroços de minha casa.

"Vamos lhe explicar tudo o que pudermos, peço que entre e faça de nosso palácio sua nova casa. Tome um banho, troque essas roupas e nos encontre para o café daqui a uma hora. Teremos tempo para conversar."

Não sei se realmente tenho alguma outra opção. Apesar de eles parecerem mais doidos que Dione e Jorge com essa história maluca sobre eu ser descendente da antiga monarquia de Shadowland, eles me parecem mais confiáveis. Só pela forma como reagiram quando colocaram os olhos em mim. Eles escondem alguma coisa... E eu quero descobrir o que é.