Capítulo 1- o real começo da narrativa

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- É muito cedo para isso -murmuro, vendo a notícia do jornal local pelo celular.

- Já se faz um mês - meu irmão respondeu com um palito de pirulito na boca - tem que estar preparada para isso, você sabe.

Faço uma careta e olho para frente. Estávamos parados no único semáforo da cidade, já que Ethan decidiu passar por todas as ruas possíveis antes de pegar a rota certa para a minha escola, mas eu não estava reclamando.

Eu realmente não queria ir.

- Tem pessoas que aparecem depois de anos. Teve aquele caso no Texas -tentei argumentar enquanto respondia Adriana, a amiga quem tinha me mandado o link da notícia- Eles não podem deixar de procurar uma pessoa para começar a procurar um corpo. Não faz tanto tempo assim, precisa de muito mais do que um mês, não é?

- Tecnicamente, eles podem, é o que já estão fazendo -ele ignora a minha última pergunta e o semáforo finalmente abre.

- Você já sabia disso - acusei, olhando para o meu irmão.

Ele, entretanto, não responde, apenas passa a mão no cabelo platinado e mordisca o piercing no lábio inferior rapidamente.

Sim, ele já sabia.

Adriana me responde com um emoji choroso e eu apenas me afundo mais no assento, querendo ser engolida por ele. Addy deve ser um dos únicos seres no planeta que ainda usam emojis sem usar ironia ao mesmo tempo, e isso normalmente me faria sorrir.
Mas não nessa situação.

Letícia, a nossa amiga, tinha desaparecido há mais ou menos um mês enquanto vinha se encontrar conosco na sorveteria local. A casa, embora apresentasse vários sinais de luta, não continha nenhuma digital ou prova de DNA que não fosse da família, e como os vizinhos não tinham escutado nada bem como os pais que estava em um bingo promovido pela igreja, todos tínhamos começado a perder as esperanças.

- Muito bem, regras básicas agora, fedelha - ele estaciona em cima do meio fio, quase subindo na calçada da escola.

- Sou apenas um ano e meio mais nova - resmungo automaticamente e sou ignorada.

- Se alguém bater em você, o que você faz?

- Ninguém vai bater em mim.

- E se acontecer? - Ele pressiona.

- Não vai - digo exasperada e solto o cinto, revirando os olhos ao receber o seu olhar de 'eu sou o responsável aqui' - se acontecer, eu bato de volta.

- Não, você vai na diretoria.

- O que?! Mas você quem sempre me disse...

- E se fizerem piadas com você?

- Eu vou lá e confronto eles...? - respondo meio hesitante dessa vez.

- Diretoria.

- Ah, meu deus, eu desisto de entender você - balanço a cabeça em negativa.

- As suas respostas estariam certas, garota, mas agora que essa notícia saiu, não. A polícia está desesperada por suspeitos, mesmo que esse alguém for uma pessoa que era próxima da vítima. Nada de reações violentas, procure as autoridades e seja sempre a pessoa exemplar.

- Você é um insensível do caralho - murmuro pegando a minha mochila aos meus pés, sem saber explicar o sentimento horrível que tomou conta de mim.

- Eu sou realista, é diferente. Mantenha a cabeça baixa - eu saio do carro e estou pronta para fechar a porta quando ele se pronuncia de novo - o seu spray de pimenta?

𝘛𝘩𝘦 𝘚𝘦𝘤𝘳𝘦𝘵𝘴 𝘈𝘣𝘰𝘶𝘵 𝘜𝘴Onde histórias criam vida. Descubra agora