2 - N.I.B

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Depois da minha rápida conversa com o menino Steve eu decidi ficar apenas com um de meus fones de ouvidos para prestar - nem que seja um pouco - de atenção no que os professores falavam enquanto eu desenhava em meu caderno. 

Hoje é segunda, o que significa que depois da escola os meninos, amigos de Mike, virão para casa jogar D&D. Por incrível que pareça, desde pequenos Mike e Will - menino que sempre foi completamente grudado a meu irmão caçula - adoram esse jogo. Tenho que admitir uma pequena porcentagem de culpa minha nisso tudo, mas sempre com boas intenções. Mamãe no inicio também não era muito de acordo com eles aprenderem assim tão jovens a jogar, até porque, digamos que é um jogo meio agressivo... as vezes. Porém, depois de um tempo consegui convencer ela de que na maioria das vezes seria bem leve e que não era um jogo tão ruim assim no final das contas. Ela obviamente não conseguiu dizer não quando viu o quanto isso era importante para Mike. Esse garoto sempre me viu como uma inspiração e todos nós sabíamos disso. Não que eu realmente ache que eu seja um bom exemplo, porém eu tento dar o meu melhor para ele ter uma boa figura quando crescendo. 

Nesse momento eu estava desenhando algumas novas ações para o jogo. Gosto de pensar que eu sou o mestre cabeça e o Will é o meu sucessor. Infelizmente, eu sei o quanto Mike tem ciúmes do mesmo por isso, porém eu não poderia dizer não a alguém que na maioria das vezes é tão bom quanto eu no jogo. De qualquer forma, eu precisava deixar isso tudo pronto até o final dessa tarde, porque apesar de sempre deixar tudo para última hora eu nunca decepciono meus pequenos.

- Nossa, você tem talento para desenho. - Steve diz olhando por cima do meu ombro

- Obrigada - eu digo meio envergonhado 

Ele apenas sorri de novo e continua anotando em seu caderno alguma coisa que o professor anotava no quadro. Nesse momento eu me permito perceber o quão bonito ele ficava focado. 

- Nossa, como a letra dele é bonita - eu falo sem perceber algo que era pra ser apenas um pensamento

Ele ri e logo se direciona para mim de novo dizendo um obrigada. Droga, ele rindo era tão bonito... ele é bonito. Como alguém como ele pode querer ser meu amigo? Isso não é possível. Será que ele quer se aproximar da minha irmã? Será que eu deveria testar? Convidar ele pra casa e ver como reage?

Meu olhar novamente se direciona para a minha irmã. A mesma estava focada demais escrevendo em seu caderno e comentando com o professor suas duvidas pra sequer perceber o quão minha cabeça ficava confusa quando alguém se aproximava de mim. Ela com toda certeza seria gentil sobre e diria o quão besta eu estou sendo por achar que qualquer pessoa que se aproxima de mim quer algo a mais. Ela também daria um tapa no meu ombro e diria pra eu ser mais eu. 

Droga, porque tínhamos que ser gêmeos? 

O sinal finalmente toca indicando que era hora do recreio. Fecho meu caderno e coloco dentro da mochila. Deixo a mesma na parte de baixo da minha cadeira e saio da sala indo em direção ao refeitório. No meio do caminho percebo que Steve vinha logo atrás de mim. 

- OI! Nossa, você anda muito rápido, sério. - ele fala meio ofegante tentando me acompanhar

- É que eu to com fome... seus amigos não tão te procurando não? - pergunto meio grosso mas não era a minha real intenção, era só que eu já percebia alguns olhares estranhos e nunca me senti tão observado na vida, tudo por estar acompanhado de um cara bonito? Sério?

- Ah... é que eu meio que... - ele parece pensar, meio sem jeito, suas mãos voltam pra nuca e ele parece desconfortável com o assunto

- Olha, eu não me importo de você passar o recreio comigo sabe... é só que o pessoal com quem eu ando são diferentes do que você provavelmente está acostumado - tento dizer sem parecer grosseiro, mas no final das contas a aparência dele gritava riquinho descolado e eu estranho solitário

Só as estrelas sabem nos dizer - SteddieOnde histórias criam vida. Descubra agora