Kim Namjoon

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Acho que aquela tinha sido a produção mais complexa que eu já tinha feito.

Indigo era, sob muitas óticas, eu nu e cru. Cada parte de mim, cada vertente diferente que me abrigava e que eu chamava de personalidade. Escrever não foi fácil, produzir menos ainda. Falar sobre as coisas que eu guardava em mim, sobre minhas dores, sobre coisas que eu tinha escondido durante tanto tempo, tantos anos.

E foi por isso mesmo que eu não quis fazer esse álbum sozinho. As letras eram, em sua maior parte, vindas completamente de mim, mas pedi ajuda a alguns amigos para a produção final. Eu queria que Indigo fosse uma releitura de mim, e sabia que nada seria tão verdadeiro e me mostraria tanto quanto a visão das pessoas mais próximas a mim sobre mim mesmo.

Tive a sorte de meus amigos embarcarem nessa ideia, e foi como se cada um tivesse praticamente ficado responsável por uma música (alguns opinando em mais de uma). E pra juntar tudo e fazer a produção do resultado final, combinar músicas entre si, me ajudar a escolher ordem e decidir se algo deveria mudar, eu tinha Haerin.

Jeong Hae-rin era filha de Jeong Jin-hyun, um dos grandes produtores musicais da Coreia, e muita gente me chamou de louco quando eu disse que trabalharia com ela e não com ele. Mas eu admirava quem Haerin era. Admirava que, mesmo tendo um pai famoso que poderia lhe dar tudo que ela queria conquistar de mãos beijadas, ela lutava para traçar seu próprio caminho em uma área dominada quase completamente por homens e ser reconhecida por quem era e pelo que fazia, não por um sobrenome.

Tanto que ela nem o usava, e no mundo musical era chamada apenas de Wind.

Um nome perfeito pra ela, eu arriscaria dizer. Porque, eu ainda não tinha visto todos os traços de sua personalidade, mas tinha certeza que ela podia ser como o vento mesmo. Suave, refrescante, revigorante... mas também destruidor quando queria.

Assim como eu e todos os meus lados que ninguém via.

Foi por isso que a escolhi pra finalizar o álbum comigo. E era por isso que estávamos enfiados em um estúdio à uma e vinte e três da manhã, terminando de ouvir os últimos acordes da última música do álbum.

Quando as caixas de som pararam de produzir notas e entramos em um silêncio estático, ouvi sua voz suave ao meu lado.

- Acabou, Namjoon.

Concordei com a cabeça.

- Acabou.

- E aí?

Aquela pergunta ficou ecoando em minha mente. Levantei o olhar pra ela devagar, ainda atônito com o que tinha ouvido. Então, tão devagar quanto levantei minha cabeça, um sorriso começou a tomar meus lábios.

- Ficou perfeito.

Haerin sorriu de um jeito que parecia iluminar a sala inteira e então se levantou, batendo na mesa à nossa frente e ainda olhando pra mim.

- Eu te falei que tava incrível, Namjoon! Você se menospreza demais, isso tá uma obra de arte!

Ri diante de sua fala.

- Não exagera, Hae.

- Não tô exagerando, tô falando muito sério! Vou pegar um whisky pra gente brindar.

Antes que eu pudesse sequer pensar em negar, ela saiu daquela sala pequena e voltou segundos depois com uma garrafa e dois copos com gelo. Serviu e parou à minha frente, me entregando um deles. O peguei e me levantei, ficando de frente pra ela.

- Por obras que ficam guardadas, mas o mundo inteiro merece ouvir. - Ela disse.

- Por pessoas tão incríveis que conseguem transformar letras comuns em obras de arte. - Eu completei.

One Shots BTS (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora