Verão de 2009
- Esse professor de história é um besta!
A risada baixinha preencheu meus ouvidos e acariciou tudo por baixo da minha pele, como só uma pessoa na minha vida inteira conseguia fazer.
- Não fala assim, Jinnie! Ele só tá fazendo o trabalho dele.
Arregalei os olhos, a voz soando realmente indignada.
- Passando um trabalho sobre a dinastia Tsin inteira valendo nota de hoje pra amanhã, Dan-ah? Ele só pode estar biruta, totoquinha das ideias!
- Pelo menos ele passou um trabalho pra ajudar vocês a melhorarem a nota, para de ser um velho reclamão!
- Eu não sou reclamão! E nem velho, tenho a sua idade!
- Suas piadas ruins dizem o contrário.
Prendi o riso enquanto girava a chave pra abrir a porta da minha casa.
- Você não parecia querer reclamar disso quando eu disse que as velhinhas de Anyang não usavam relógio porque eram sem horas.
E lá estava.
A risada espontânea acariciando tudo por dentro de mim, me causando aquele frio gostoso na barriga que só vinha com ela, terminando por colocar um sorriso no meu rosto.
- Mas essa foi boa demais! - Ela disse enquanto passava pela porta, começando a tirar os sapatos. - Eu nunca mais consegui não sentir vontade de rir quando chamo qualquer uma das amigas da minha avó de senhora.
- Admite logo que eu alegro a sua vida, Seol Dan-eul.
Os olhos cor de avelã encontraram os meus, o sorriso mais lindo do mundo ainda nos lábios. Ela se aproximou e passou os braços pela minha cintura, e meus olhos não conseguiram desviar do seu rosto.
- Mas eu nunca neguei uma coisa dessas. Pelo contrário, já admiti milhões de vezes.
- Admite de novo. - Pedi, passando os braços ao seu redor e sentindo as borboletas no estômago acordarem com o tom de voz tão suave que veio em seguida.
- Você é, sem sombra de dúvidas, a maior alegria da minha vida, Kim Seokjin.
Dessa vez foram os meus lábios que se partiram em um sorriso aberto e eu me inclinei para selar os seus. Falei com o rosto ainda próximo do seu.
- Que bom, porque eu comecei a participar daquele clube de piadas ruins na escola só pra ter repertório pra você.
Mais uma vez a risada preencheu meu peito, o ambiente e a vida inteira. Dan-eul se afastou se mim murmurando alguma coisa sobre pararmos de perder tempo com bobeira e irmos logo fazer os exercícios, e foi andando pra sala, onde sempre estudávamos juntos.
Nós nos conhecemos em 2002, quando minha família mudou pra Anyang. No dia da nossa mudança pra uma casa bem maior e melhor do que a que vivíamos antes, uma garotinha curiosa parou a bicicleta na nossa calçada e perguntou na maior cara de pau quem éramos nós e o que estávamos fazendo na casa da Shin-rae.
Por acaso, a pessoa que estava mais próxima pra respondê-la era eu. E, bom, não seria uma mentira dizer que algo nela me prendeu tanto que sem nem perceber eu parei de ajudar na mudança pra contar tudo sobre mim pra ela, enquanto ela também me contava tudo sobre ela, a tal Shin-rae e as outras pessoas que moravam por ali. E quando ela disse que eu deveria conhecer o bairro, já que eu tinha vindo pra ficar, e me ofereceu uma carona na sua garupa, eu nem pensei em recusar.
O que me rendeu uma bronca épica depois e uma semana de castigo, porque eu não avisei a ninguém que iria e fiz minha mãe quase endoidar, achando que tinha perdido o filho caçula já no primeiro dia naquele lugar.