Seul, 2011.
As ruas de Seul já eram tão conhecidas pra mim quanto as de Daegu. Por mais que tivessem apenas alguns meses que eu estava vivendo ali, esse tempo estava sendo mais intenso do que todos os 17 anteriores que eu vivi na minha cidade natal.
Seis meses antes eu participei de uma competição para ser trainee de uma companhia pequena, fiquei em segundo lugar, fui selecionado, e desde novembro eu morava no dormitório da Big Hit com alguns outros trainees. Não éramos muitos ali, mas alguns dos meninos que também tinham sido contratados tinham um espírito de competição aguçado e viam todos nós como rivais, não como parceiros. O que me irritava. Eu absolutamente odiava esse ambiente hostil, o sentimento de que não podia confiar em ninguém porque em qualquer deslize, alguém iria me prejudicar pra se beneficiar. De todos eles, os únicos que eu me identificava eram Kim Namjoon, que já estava lá quando cheguei, e Jung Hoseok, que entrou um mês depois de mim. Eram os únicos que pareciam pensar da mesma forma que eu, e que eu arriscava chamar de amigos por enquanto.
No total, até aquele momento, éramos sete membros em um grupo que, ainda não tínhamos decidido com certeza, mas provavelmente se chamaria Bangtan Sonyeondan, que significava "escoteiros a prova de balas".
Eu achava meio ridículo, mas infelizmente não era eu quem decidia.
A Big Hit era uma empresa realmente pequena. Estávamos começando em uma sala tão apertada que parecia um porão, e o dormitório era tão pequeno que eu mal dormia, ouvindo os roncos de Namjoon todos os dias como se estivessem no meu ouvido e ouvindo Hoseok falando de onde quer que estivesse, porque ele parecia ter engolido um microfone às vezes.
Por conta disso, também não recebíamos muito. Nosso pagamento era apenas o suficiente pra nos sustentarmos ali, comprarmos comida e fazer algum tipo de locomoção que fosse necessária. Os outros meninos tinham ajuda financeira dos pais, que acreditavam neles e no futuro da companhia. Já meus pais deixaram claro desde o momento que fiz a inscrição pra competição que, se eu insistisse nessa ideia maluca de ser trainee de uma empresa "merda como aquela" ao invés de estudar, podia esquecer qualquer apoio deles.
Então eu só tinha eu mesmo.
Apesar de ter uma rotina exaustiva como trainee, a minha não era tão exaustiva quanto a dos outros meninos, porque desde o começo minha única condição foi de que eu não ia debutar como membro de nenhum grupo. Eu só queria ser compositor e ficar nos bastidores, fazendo minha música pra que outras pessoas apresentassem.
Seria vergonhoso pra mim debutar em um grupo pop, fazer dancinhas e cantar sobre meninas, conquistas e corações partidos. Antes de entrar na Big Hit eu fazia parte de um grupo de hip-hop, e se não fosse pra debutar em um grupo como o Epic High, eu não debutaria em merda nenhuma.
Então, como eu não treinava voz, porque não ia cantar mesmo, e nem muito de dança porque PDnim, o dono da empresa, sabia que eu me recusava a fazer aquelas porcarias, eu tinha um pouco mais de tempo livre que os outros meninos.
Eu arrumei um emprego de meio período como entregador de pizza, porque precisava de alguma forma conseguir dinheiro pra ter algum tipo de lazer, comprar algumas roupas, equipamentos, e o que mais eu precisasse com alguma urgência. Então, quase todos os dias, eu saía da empresa quando finalizava as obrigações e ia até aquela pizzaria pequena no centro de Seul, fazer o meu segundo trabalho.
Era exaustivo sim.
Mas eu não tinha opção.
O lado bom disso é que era um emprego relativamente tranquilo. Eu não precisava conversar com ninguém, não precisava interagir com os clientes além do necessário para a boa educação, ganhava gorjetas e de vez em quando ainda me sobrava tempo pra escrever músicas entre uma entrega e outra. Era bem fácil me manter focado na escrita nesse espaço de tempo, porque já que eu não conhecia ninguém em Seul, não corria o risco de ser interrompido com algum conhecido (sempre indesejado) como acontecia em Daegu.