17. Venenosa

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S/N
Empire Richards, Los Angeles
5 de março de 1987, 12:36

 Eu devia estar em casa agora mesmo bancando a triste, mas, minha secretária me lembrou desse compromisso aqui e eu tive que correr. Mal cheguei e já estou me divertindo, Anely puxou o lado mais interessante de Daniel. Está na cara que a garota não puxou Joana em nada!

 Enquanto eles ainda conversam sobre Anely, eu estou pensando no que ela me disse "ela não presta, por isso não são casados, ele não é burro" isso está ecoando em minha cabeça. Essa garota tem razão, eu estou falhando. Ninguém tinha nem que imaginar que eu não presto. Estou transparecendo demais as coisas, preciso tomar mais cuidado.

 — Anely estuda de casa porque não consegue se adaptar com as outras crianças de sua idade! Ela já sabe ler e escrever, gosta de ganhar o próprio dinheiro, então você vai acabar encontrando ela limpando a sala ou ajudando o jardineiro! — Joana respira profundamente — O que quero dizer com tudo isso é que, não quero que ela frequente nenhuma escola! Ela não precisa!

 — Ela precisa aprender a socializar com crianças! — Petra sussurra — Olha pra ela, parece uma mini adulta! Precisa conviver com crianças!

 — Não vai! — Joana diz firmemente e olha para Daniel buscando apoio.

 — Se Joana não quer, é melhor que ela continue estudando em casa! — Daniel fala e Joana suaviza seu semblante, olha para Anely que encosta a cabeça no braço da mãe. Ela parece estar cansada.

 — Concordo completamente, a mãe sabe o que é melhor para a própria filha! — digo firmemente para Petra, que arqueia uma das sobrancelhas para mim. Sem dúvida morrerei hoje.

 — Viu! S/N concorda comigo! — Joana olha para Petra, logo após ela olha para mim e segura um sorrisinho malicioso.

13:21

 — Então, vamos assinar logo essa papelada toda porque quero ir embora! — Petra se levanta da cadeira e coloca uma caneta perto da pilha de papéis.

 — Obrigado por seu apoio a Joana, não está sendo fácil isso de dividir a guarda da filha! — Dan sussurra ao meu ouvido. Aceno positivamente para Dan e lhe dou um sorriso inocente e fofo que eu não usava há um tempo e seu rostinho se ilumina completamente.

 — Vou esperar lá fora! — me coloco de pé e Daniel também se levanta — Quer ir comigo Anely? — a criança olha para a mãe que autoriza apenas com um aceno de cabeça e Anely como um soldadinho anda até a porta. Nunca vi criança nenhuma andar assim tão reta.

 Abro a porta e nós duas saímos juntas. Andando lado a lado, ela me acompanha até a máquina de refrigerantes. Cumprimento a todos enquanto tiro da minha bolsa algumas notas de dinheiro.

 — Você quer qual? — ela olha para trás e logo após para a máquina. Anely aponta para um dos refrigerantes de limão. Dou o dinheiro para ela que parece perdida.

 — É só apertar esse botão e colocar o dinheiro aqui! — explico apontando para ficar claro. Essa menina ficava presa em casa?

 — Obrigada S/N! — ela fala baixinho enquanto faz exatamente o que ensinei a ela — E agora? — fala em um quase sussurro encarando a máquina.

 — Agora você pega seu refrigerante ali! — aponto e ela se agacha e pega no compartimento. Anely olha para mim com um sorrisão e então abre seu refrigerante.

 Ela está usando um vestido rosa que vai até o joelho, ele é bem infantil e eu ainda não entendi porque Joana estava usando um igual. Não sei se é porque ela quer passar uma imagem de boa mãe ou apenas é uma coisa delas isso de se vestir igual. Olha, se for para passar imagem de boa mãe, tem coisa errada aí. Uma boa mãe não precisa mostrar que é uma boa mãe pra ninguém.

13:41

 Após jogar a lata no cesto de lixo saltitante como uma criança comum, ela volta para perto de mim. Estou encostada na parede perto da porta esperando Daniel e Joana terminarem de assinar a papelada. Pelo jeito ela vai ficar um tempo com ele na casa dele e eu vou ficar também!

 Eu iria embora amanhã, mas, com esse negócio de a Joana ficar na casa dele, enquanto Anely se adapta, foi um combustível para que eu fique e resolva tudo o que tem pra resolver!

 Não que eu me sinta inferior à Joana, mas é que as coisas entre mim e Daniel não estão boas. Sem contar que não fazemos amor há tanto tempo que já perdi as contas! Geralmente ele costuma ficar em chamas quando passa muito tempo sem nada, um movimento de Joana e ele se entrega tenho certeza.

 — Você é advogada? — Anely pergunta baixinho para mim — Se eu for advogada vou poder usar um salto desse?

 — Você quer agora? — pergunto a surpreendendo. Seus olhinhos brilham — Vem cá! — coloco minha bolsa no chão e começo a tirar meus saltos. É um par de salto grosso aberto de cor vermelha. Não é tão alto, mas, também não é baixo. Anely se aproxima como se estivesse hipnotizada. Alguém devia avisar Joana que essa garota já é uma pré-adolescente e essas coisas precisam ser apresentadas.

 — Posso mesmo? — confirmo com um aceno. Ela segura um deles e olha para mim, parece em dúvida. Ela nunca usou um salto antes? Nunca pegou nem os da mãe?

 — O que foi? — me aproximo mais — Pode usar! — abro um sorriso para ela.

 — É que mudei de ideia — ela fala com uma voz mais fina do que antes — Obrigada por me deixar ver de perto! — seus olhos se enchem, Anely coloca o par perto dos meus pés e se distancia.

 — Vamos lá? — Daniel pergunta quando se aproxima de mim — Joana disse que confia em você para ajudar Anely a se adaptar, tudo bem pra você? Sei que tem milhares de coisas para resolver! — aceno positivamente e ele abre um enorme sorriso. Então, apenas concordar com Joana a fez abrir a guarda. Voltei a ser inteligente — Anely, seu quarto está pronto há meses! S/N me ajudou em tudo!

 — Vou ter meu próprio quarto! — ela diz muito animada — ELE PODE SER ROSA? — pergunta muito animada.

 — Na verdade, ele é rosa! — sussurro para ela, que arregala seus olhos e abre um sorrisão novamente. Por que a filha de uma mulher tão poderosa está empolgada por um quarto?

Mansão Hichello-Richards
15:32

 — Ela adorou as roupas que você comprou a ela! — Dan fala assim que abre a porta do carro para mim. Anely saiu primeiro e correu para o jardim. Sinto que ela está empolgada por estar longe da mãe.

 — Ela que escolheu tudo! — uso meu tom doce — É uma fofa! — e muito bonita também. Essa menina fará um estrago quando crescer.

 — Muito obrigado S/N, de verdade — Dan suspira pesadamente — Você é maravilhosa! — dá um beijinho na minha bochecha e se distancia — Vou passar no escritório, volto para o jantar! — Dan grita para Anely que acena com as duas mãos para ele se despedindo — Te vejo mais tarde? — leva sua mão até a minha e a puxa para perto da sua virilha, conheço esse sinal.

 — Claro! — digo em quase um sussurro e olho para minha mão encostada em sua virilha por cima da calça — Te vejo depois — volto a olhar para ele e finjo um suspiro. Dan umedece seus lábios e se afasta bruscamente e volta para a direção do carro. Fecho a porta e ando em direção a Anely. Um carro para há uns 20 passos de mim. É Michael. Ele estava em reunião com Sylvester Pritchett.

 — Ela já chegou? — pergunta se aproximando de mim. Ele está segurando uma caixa embrulhada para presente em suas mãos. Aponto em direção a Anely que acaba de cair. Michael desesperado corre na direção dela. Eu também finjo uma preocupação e corro, crianças caem o tempo todo. Ao me aproximar pego o sapato que ficou no caminho e Michael se agacha perto dela e verifica se está tudo bem.

 — Deixa eu te ajudar! — me agacho com a intenção de colocar o sapato em seu pé. Puxo o pé de Anely para que eu possa colocar o sapato novamente e meu sangue gela... olho para ela e logo após para Michael que olha para mim também — Vamos ter que comprar sapatos novos porque esses estão muito grandes! — abro um sorriso disfarçado. Anely com seus olhos cheios de lágrimas se levanta e corre em direção a casa. O que foi aquilo meu Deus?

EximioOnde histórias criam vida. Descubra agora