Capítulo 5

1 0 0
                                    

10:35

- Como assim só tem uma cama? - empurrei ele pro lado para passar para dentro do quarto - puta que pariu.
Só tinha uma cama de casal, que acomodaria muito bem duas pessoas.
- Eu não vou dormir no chão - disparou ele.
- Nem eu - rebati - não vou deixar de ter uma boa noite de sono por sua causa.
- Você tá achando que eu vou ceder meu lugar na cama? - ele me olhou de cima a baixo - se toca Ashley, você vai dormir no chão e acabou.
- Mas nem fodendo!
Antes que nós pudéssemos começar uma discussão o ponto falou de novo, dessa vez com o Bruce na voz.
- E então casal? - a voz dele soava como se ele estivesse achando tudo engraçado - o que acharam da suíte?
- Casal o seu rabo - respondi com raiva - quero que você me arrume outro quarto agora.
- Uma pena Ash, não tem outros quartos entende? - ele deu um risinho - vocês vão ter que dividir a cama.
- Nem fodendo - Aaron arrancou o ponto da minha mão - ela vai tentar me sufocar com os travesseiros.
- E você vai tentar me enforcar com o cobertor!
Bruce apenas riu das nossas ideias e continuou falando.
- O trabalho de vocês começa às nove da noite. Ashley você vai ter a sua parte e Aaron vai ter a dele. - ele explicou - vocês vão agir separados no primeiro momento mas depois vão se juntar.
- O que você quer dizer com se juntar? - Aaron perguntou
- Vocês vão a um baile de máscaras - ele parecia tentar reprimir um sorriso - como um casal.
Ao ouvir isso arranquei o ponto da mão dele e gritei com Bruce.
- Escuta aqui seu velho - eu estava pouco me fodendo com a reação dele - eu não vou fingir de casal com ninguém está me entendendo? Muito menos com essa merda aqui!
- Merda é seu pai! - rebateu ele
- Se mata seu lixo! - mostrei o dedo do meio pra ele.
Não obtive resposta do Bruce quanto as ofensas, ele apenas disse:
- Estou enviando dez mil pra cada um - uma notificação apitou em nossos celulares - gastem com roupas pra hoje a noite e o resto é de vocês. Divirtam-se.
E desligou.
Divirtam-se? Isso era sequer possível com esse encosto aqui?
- Eu não vou agir como se fosse seu namorado nem morto!
- Se bem que você morto não soa uma ideia tão ruim!
Sai batendo pé pela porta do quarto e fui até o elevador, apertando o andar da recepção. Eu tinha muito tempo e dez mil nas mãos, umas compras sempre acalmam os ânimos no final das contas. Fui andando até a rua apenas ignorando tudo ao meu redor. Eu já conhecia Las Vegas muito bem então sabia as lojas certas. Fui fazendo compra atrás de compra sem me importar com o dinheiro, afinal não era meu mesmo. Comprei vestidos, sapatos, jóias e tudo o que eu tinha direito.
Indo em direção a um café uma pessoa esbarrou em mim derrubando todas as minhas sacolas no chão.
- Mas que por...
Quando olhei pra cima era uma mulher ruiva, muito parecida com a Sarah, namorada da Alex. Ela era linda, sem dúvida uma das mais bonitas que já vi.
- Me desculpe moça - ela se agachou para me ajudar com as sacolas - desculpa de verdade. Eu estava andando distraída e...
- Calma - tranquilizei ela - tá tudo bem, são só sacolas.
- Mas são sacolas de roupas tão caras! Eu jamais poderia pagar por nenhuma dessas peças.
Dei uma risada, realmente eram coisas caras mas quando drama!
- Olha só relaxa tá? Está tudo intacto.
Ela me olhou como se fosse um cachorro arrependido, seus olhos azuis eram tão claros quanto os do A... Não, esquece.
- Eu estou com muita vergonha de verdade! - ela olhou para o café e depois pra mim - posso te pagar um café como desculpas?
- Não precisa, tá tudo bem - comecei mas ela atropelou minha fala.
- Não, eu insisto - ela agarrou a minha mão e me puxou pro café - vamos.
Nos sentamos em uma mesinha no canto e coloquei todas as minhas coisas no chão. Pedi apenas um café expresso forte e mais nada. Enquanto ela fazia seu pedido eu a observei. Na curva do seu ombro havia uma tatuagem vermelha, mas não consegui olhar direito porque ela se virou direto pra mim.
- O que é essa sua tatuagem?
- Ah essa aqui - ela subiu um pouco a blusa para tampá-la - foi uma homenagem que eu fiz pra um ex namorado.
Ela riu então eu ri também, que coisa estranha. Quem faz uma tatuagem homenageando um homem?
- Posso ver? - perguntei me inclinando um pouco mais pra frente.
- Não! - ela por um segundo pareceu com medo, mas seu sorriso voltou logo em seguida - é muita humilhação.
Demos risada e nosso café chegou. Ficamos conversando por um tempão, ela me contou que cresceu em uma fazenda no Texas e que sua família era muito pobre, também me disse que foi a única que se formou em uma faculdade.
- Qual curso você fez?
- Medicina.
Caramba, então ela era bem inteligente. Mas uma coisa me chamou atenção, se ela era de uma fazendo no interior do Texas como foi que uma faculdade em Las Vegas quis ela? Essa história estava começando a ficar um pouco estranha.
- Vou no banheiro.
Saí da mesa e fui até o toalete, me sentando na privada e pegando meu celular. Digitei seu nome no Google e não apareceu nada. Apenas algumas famosas com o primeiro nome igual. Estranho, já que hoje em dia qualquer um tinha algum vestígio da sua vida na internet. Amelie Taylor. Um nome muito comum, muito fácil de pensar. As engrenagens da minha cabeça começaram a girar e decidi voltar pra mesa, quem sabe eu consigo mais algumas informações.
- Que bom que voltou! - ela empurrou um copo com um líquido verde dentro - pedi esse drink pra você, ele é o melhor daqui.
Ela achava que eu era burra ou o quê? Com certeza eu iria tomar um drink de cor e origem duvidosa vindo de uma estranha que acabei de conhecer e aparentemente não tem nenhum tipo de histórico de vida.
- Ah desculpe, eu não bebo álcool - dei a primeira desculpa que eu consegui achar - mas obrigada de qualquer forma.
Ela afiou o olhar bem sutilmente e seu sorriso voltou, isso estava começando a me irritar.
- Mas esse drink não tem álcool - ela empurrou o copo mais pra perto de mim ainda - é só suco.
A vontade de socar a cara dela só crescia, só de ficar perto do copo eu já senti o cheiro de vodka.
- Muito obrigada mesmo - forcei um sorriso simpático e me levantei - mas está tarde e eu preciso ir embora.
Fui até ela e a abracei, "esbarrando" a mão na sua tatuagem. Eu conhecia aquele símbolo. Era o mesmo que estava na bota do homem que matou minha mãe e minha irmã. Meu ódio cresceu. Homenagem pro namorado é o caralho.
Saí batendo pé pela rua, vendo que já eram quase sete da noite mas como era verão ainda havia luz do sol nas ruas. Fui andando o caminho todo de volta pensando naquela mulher. Ela sabia o que era esse símbolo e com certeza fazia parte dessa organização ou o que quer que fosse essa merda.
Comecei a sentir alguns pingos caindo na minha testa. Ótimo, chuva era tudo que eu precisava agora. Em questão de instantes começou um temporal, ensopando todas as minhas coisas e eu junto. Essa noite não tinha como ficar melhor não é?
Cheguei no hotel pingando água e caminhei direto pro elevador, sentindo o ar condicionado da recepção me congelando. Apertei o botão 6 e fui até o andar do meu, nosso quarto. A porta estava trancada, isso significava que ele já estava aí. Bati na porta e chamei seu nome mas não tive nenhuma resposta. Esmurrei a porta com mais força e continuei o chamando. Eu sabia que ele estava lá dentro, sua sombra estava parada na frente da porta.
- Abre essa merda Aaron! - dei alguns chutes fracos na porta - eu vou te quebrar seu desgraçado!
- Sabe - sua voz era calma - ficar me ameaçando não vai fazer você entrar.
- Abre essa porra de porta agora!
- Não vou - ele fez um pausa - mas tem um jeito de eu te deixar entrar .
Eu estava ensopada, minhas compras também e um frio estava começando a me atingir. Ele estava de sacanagem com a minha cara porra.
- E que jeito é esse? - me obriguei a acalmar minha voz, mesmo que eu estivesse puta da vida - eu só quero entrar.
- Gostei do seu tom agora - ele estava se divertindo, filho da puta - você só precisa pedir por favor.
- Mas nem fodendo - foi minha reação imediata.
- Sendo assim, você vai ficar pra fora.
- Aaron me deixa entrar caralho! - bati com força na porta - eu estou congelando aqui!
- Você está com frio?
- Sim!
Ele riu e disse:
- Achei que piranha não sentisse frio.
- A sua mãe sente.
Ouvi um barulho de chaves.
- Cadê o por favor Ashley? - ele estava balançando as chaves - estou esperando.
Engoli todo o meu orgulho e abri a boca pra falar.
- Aaron... - respirei fundo - você pode por favor me deixar entrar?
Ouvi um "click" da fechadura e escancarei a porta com força.
- Seu filho da puta!
Fui direto pra cima dele mas ele já estava esperando e agarrou meus braços, me colando na parede e colocando meus pulsos a cima da cabeça.
- Você tem que parar de ser tão agressiva sabia? - ele me olhou diretamente pra minha boca - você está com a boca azul.
- Jura gênio? Eu estou toda molhada e você me trancou pra fora do quarto, o que esperava?
- Você está parecendo um cachorro molhado vai tomar um banho. Já que vamos ter que agir como um casal, quero que minha "namorada" esteja minimamente apresentável.
Dei uma joelhada no seu abdômen como resposta e me tranquei no banheiro, indo direto para o chuveiro.
Me deliciei com todos os produtos que tinham disponíveis lá e com a água quente causando arrepios pelo meu corpo. Saí do banho e me enrolei em uma toalha me secando o suficiente para ir pro quarto. Aaron estava sentado na cama mexendo no celular já vestido com seu terno preto. Fui até o canto onde minha mala estava e peguei uma lingerie e depois peguei o vestido e os sapatos que eu havia comprado.
Voltei pra o banheiro e coloquei minhas roupas íntimas, parei e olhei meu reflexo no espelho. No meu abdômen tinha alguns hematomas por causa  da minha briga com Aaron e no meu rosto também. Comecei a me maquiar, passando base e corretivo e depois completando com iluminador. Finalizei tudo com um delineado e batom vermelho vivo. Estava bem satisfeita com a minha aparência. Vesti meu vestido mas percebi que precisaria de ajuda porque ele tinha a merda de um zíper nas costas. Nunca que eu pediria ajuda pra ele.
Me contorci inteira tentando alcançar o zíper mas não conseguia de jeito nenhum.
Abri a porta do banheiro já irritada porque ia precisar da ajuda de alguém. Me recusei a dizer qualquer coisa e só me sentei ao seu lado da cama e ele me olhou, virei de costas pra ele.
- O que você quer? - ele perguntou seco.
Não respondi e só fiquei esperando. Senti sua respiração na minha orelha, me fazendo sentir em alerta.
- Eu quero ouvir você pedir.
Virei minha cabeça, colando nossos narizes e respondi olhando bem no fundo dos seus olhos.
- Nunca.
Me levantei e saí do quarto, entrando no elevador e apertando o botão de recepção. Se ele não iria fechar esse maldito zíper, o homem da recepção iria. Não me importava que eu estava descalça, apenas fui até uma das moças que estava no balcão.
- Você pode fechar o zíper do meu vestido por favor?
- Claro - ela nem pareceu surpresa com o meu pedido.
Veio até mim e delicadamente fechou a parte de trás, ajustando ele na minha cintura.
- Obrigada - disse com uma voz simpática - você foi muito gentil.
- Magina, não foi nada.
Voltei pro quarto e o ignorei completamente. Peguei meus sapatos e me sentei em uma das poltronas que havia naquela suíte imensa e os calcei, amarrando suas cordinhas ao redor da minha panturrilha.
- Seu namoradinho não está aqui pra fechar o seu vestido? - ele me perguntou, desafio passando pelos seus olhos - ou ele só sabe tirar?
- Se ele estivesse aqui - o encarei com ódio - eu não estaria nem vestida.
Raiva pura transpareceu pelos seu rosto e ele voltou a mexer no seu celular. Um sorriso de satisfação abriu nos meus lábios.
Peguei um elástico grande preto e o coloquei na minha coxa que não estava a mostra na fenda do vestido e encaixei minha pistola nele. Na minha bolsa coloquei uma faca e meu celular e minha máscara, aproveitei e coloquei meu batom também, talvez tivessem homens ou mulheres atraentes nesse tal baile. Encaixei o ponto na minha orelha e fui embora, descendo novamente na recepção e andando até o carro que nos esperava. Adrenalina percorreu no seu sangue.
Eu estava prestes a me divertir muito está noite.

Don't trust nobody Onde histórias criam vida. Descubra agora