Don't trust nobody

Capitulo 4

5:00

Acordei ofegante e com o corpo todo suado por causa daquele mesmo maldito pesadelo, onde eu estava de volta na beirada das escadas com os olhos cheios de lágrimas usando meu pijama e segurando meu cachorro. Essa lembrança me assombra há vinte anos, sempre me acordando nas madrugadas. Me levantei e fui até o banheiro, ainda com sono, olhei por baixo da fresta da porta e a luz estava acesa, estranho porque eu não havia acendido a luz ontem. Entrei e dei de cara com Aaron, só de toalha na cintura e com seus cabelos loiros molhados grudados na sua testa. Eu apenas o ignorei e segui até a pia, joguei água gelada no meu rosto e pescoço me acalmando um pouco. Comecei a tirar minhas roupas querendo apenas um banho que durasse a vida inteira e o peguei me olhando por trás do ombro. Percebendo meu olhar ele se virou e saiu do banheiro, fechando a porta.
Entrei no box e liguei o chuveiro na temperatura máxima, agradecendo o pequeno ardor que a água causava na minha pele. Peguei o shampoo e comecei a massagear meu couro cabeludo lentamente me sentindo mais leve. Conforme o produto saía da minha cabeça era como se todas as memórias fossem embora junto. Depois de um tempo saí do chuveiro, voltando a ser eu mesma. Me sequei e fui até o quarto de toalha. Que se foda que agora tinha mais alguém lá, ele continuava sendo meu. Abri meu armário e por sorte tudo continuava no mesmo lugar de antes. Peguei uma blusa preta de manga comprida colada e uma calça leg também preta juntamente com meus tênis Vans. Me vesti ali mesmo sentindo um olhar nas minhas costas. Larguei a toalha molhada em cima da cama e comecei a sair quando ouço ele me chamar.
- Ashley - me viro e encosto no batente da porta - nós temos que ir falar com o Bruce.
- Eu estava indo fazer isso agora.
- Então vamos acabar com isso logo.
Ele estava diferente de ontem, parecia mais calmo mas provavelmente era porque tinha acabado de acordar. Nós andamos pelo corredor ainda vendo todas as portas fechadas já que não eram nem seis horas ainda. Demos de cara com Antony que ia me cumprimentar com um beijinho mas Aaron agarrou meu braço e me arrastou pra longe dele.
- Ei - arranquei a mão dele do meu braço - porque você tá me agarrando?
- Não te interessa.
- Não me interessa? - já estava irritada - você me arrasta pra longe do Antony como se fosse um namorado com ciúmes e diz isso?
- Ciúmes? - ele deu uma risada forçada - você fala como se eu me importasse com você.
- Você age como alguém que se importa.
Ele não me respondeu e apenas seguimos em silêncio até a sala do nosso chefe. Entrei sem bater e ele estava escrevendo alguma coisa num caderno e parou quando nos viu.
- Que ótimo que já vieram - ele olhou pro seu relógio - daqui uma hora o voo e vocês sai.
Aaron parecia um pouco surpreso com a notícia tão em cima da hora mas eu já estava acostumada então só perguntei:
- Pra onde?
- Las Vegas.
Sorri, Las Vegas era meu lugar favorito desde sempre, ainda mais depois que completei 21 anos e comecei a frequentar os cassinos e clubes de strip.
Ele estendeu um papel sobre a mesa e começou a dizer:
- Esse aqui na foto é o cara de vocês - ele tirou outra folha contendo diversas informações - ele é um dos caras mais perigosos do mundo, tem uma ficha criminal bem extensa.
Peguei o papel nas mãos e comecei a ler os itens listados.
- Assassinato, assalto a mão armada, estupro, terrorismo, pedofilia - ainda tinha muitas coisas mas parei por aí - o cara deveria morrer na cadeia.
- Pois é, mas você conhece como as coisas funcionam. Quem tem dinheiro se safa de qualquer coisa.
- Você tem bastante experiência com isso - provoquei ele - a sua ficha também não é tãaaao pequena assim.
Ele só me deu um sorrisinho orgulhoso em resposta.
- Bem, comecem a arrumar suas malas para a viagem e se despeçam de quem quiserem. Vocês vão ficar duas semanas lá em um hotel cinco estrelas.
- Duas semanas pra matar esse velho ai? - Aaron perguntou às minhas costas - não acha um tempo exagerado?
- Não é só ele que vocês vão ter que matar. Como já vão estar lá nós vamos mandar vários alvos.
- E cadê as fotos dos outros?
- Vocês só vão ficar sabendo depois que concluírem o primeiro. Estão dispensados.
Me levantei e saí da sala, indo em direção a cozinha para comer alguma coisa antes da viagem. Como os funcionários da cozinha já me conheciam eles reclamaram um pouco sobre o meu roubo mas deixaram. Subi logo em seguida pro meu quarto para começar a juntar as minhas coisas, já que só tinha uns 40 minutos pra juntar tudo. Minhas malas estavam no topo do meu armário e eu não alcançava, por mais que eu ficasse na ponta do pé não chegava nem perto. Dei uma olhada pra trás e vi que Aaron me olhava segurando o riso.
- O que foi caralho? - perguntei com raiva.
- Do que adianta você ter toda essa marra - ele começou a rir - se não consegue nem pegar uma mala sozinha.
- Vai se foder.
Pisei em uma das prateleiras do armário não me sentindo nem um pouco segura e agarrei uma mala, conseguindo pegar ela nas mãos e a arremessei na cama. Desci e o olhei de novo, mas ele estava apenas juntando suas roupas. Babaca. Pensei comigo mesma. Será que alguma mulher conseguia transar com uma coisa dessa? Tipo ele era um desgraçado. Peguei muitas saias e blusinhas curtas já que estava calor lá e biquínis. E abri a minha gaveta especial, onde guardava as minhas lingeries mais sexys e ousadas. Pretendia me divertir muito em Las Vegas. Fechei o zíper da minha bagagem e a coloquei no chão, vendo que já eram 6:35 e o avião saía 7:00. Fui saindo do quarto e parei na porta do Antony e a abri. Ele estava sentado na sua mesinha mexendo no notebook. Ele olhou pra trás e deu um sorriso.
- Você e o seu problema de bater nas portas - ele girou a cadeira, ficando de frente pra mim - vem cá.
Fui até ele e parei na sua frente, observando seus olhos verdes. Ele deu dois tapinhas no seu colo e disse:
- Senta aqui.
Subi no colo dele e ajeitei meu quadril, já sentindo seu volume por baixo da calça. Enlacei seu pescoço com meus braços e o encarei.
- Fiquei sabendo que você vai viajar - ele fez beicinho - vou ficar com saudade.
Dei uma risadinha e o abracei.
- Te garanto que vou sofrer bem mais.
- Com saudade de mim?
- Óbvio que não - segurei seu queixo em uma das minhas mãos - com saudade disso aqui.
O beijei com força e comecei a me movimentar em seu colo, nossas línguas em perfeita sintonia como sempre. Ele passou as mãos pela minha cintura e foi descendo pelo meu quadril até chegar nas minhas coxas. Antes que essas provocações levassem a algo mais eu separei nossas bocas.
- Não, não, não - ele tentou me puxar de volta - você não vai fugir.
Me levantei e ajeitei minhas roupas, caminhando até a porta em seguida, mas ele me agarrou pela cintura e me abraçou por trás, encaixando seu queixo na curva do meu pescoço.
- Você vai viajar com ele não vai?
- Infelizmente, mas nós vamos ficar em um hotel. Se tudo der certo, bem longe um do outro.
- Espero que sim - ele beijou meu pescoço - se não vou ficar com ciúmes.
Só ri em resposta e me virei pra ele, dando um selinho.
- Até daqui duas semanas.
- Até, vai me mandando mensagem do que tá rolando.
- Eu te bloqueei no meu celular.
Ele riu e colocou uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha.
- E não esquece de curtir, até porque você vai estar em Las Vegas e é solteira - ele apertou minha bunda - e é gostosa pra caralho também.
O abracei mais um vez e saí do seu quarto, quase morrendo de susto quando encontrei Aaron do lado da porta.
- Que porra! Está me espionando agora?
- Se manca garota! Eu estava esperando a Alex!
- Alex? - olhei em volta - porque ela estaria falando com você aqui? Justamente na frente da porta dele?
Antes que ele pudesse me responder a Alex realmente apareceu ali e pulou nas minhas costas, me dando um mata-leão.
- Então você tá achando que vai embora sem se despedir de mim?!
Eu comecei a rir muito, porque ela realmente estava brava. Com cuidado tirei ela das minhas costas e a abracei com força.
- Eu não sou louca de fazer isso, você iria até Las Vegas só pra me espancar por causa disso.
Ela riu e concordou, me soltando e colocando na minha mão um ponto e outro na mão de Aaron.
- Pra que isso? - ele perguntou.
- Isso é pra eu poder falar com vocês - ela explicou - agora que vocês vão embora eu vou ser o braço direito do Bruce e vou ajudar vocês nas missões.
Ela segurou a minha mão e a do Aaron, nos aproximando demais pro meu gosto.
- E por favor - ela pediu com uma voz seria - tentem não se matar nesses dias.
- Não garanto nada - ele disse.
- Eu menos ainda.
- Vocês vão voltar de lá até amigos sabia?
- Deus me livre! - ele gritou
Ela riu e me deu mais um abraço e foi abraçar o Aaron, que por incrível que pareça aceitou.
- Boa viagem pra vocês, vou sentir saudades.
- Eu também vou - encostei a testa dela na minha - vê se não mata o Bruce do coração tá? Ele é insuportável mas é como um pai pra mim.
Ela riu e concordou.

6:50

Chegamos na pista de decolagem particular e o nosso jatinho já estava esperando. Ele era pequeno demais para ser considerado um avião e era bem luxuoso por dentro. Nossas malas já estavam guardadas e fui subindo a escadinha que dava até a entrada do jato, sentindo o ar confortável da parte de dentro me acalmar. Precisava tentar apagar o fogo da minha bunda que o Antony havia deixado. Ele era gostoso demais e me tentava muito. Tirei aquele abdômen sarado e bronzeado da cabeça e foquei no cara que nós tínhamos que matar. A palavra "nós" ainda era estranha no meu vocabulário, já que desde os meus 12 anos quando comecei a trabalhar com o Bruce eu sempre fui sozinha, nunca tinha parceiros. Mas provavelmente era porque eu espancava todos eles porque eram muito lerdos. Acho que isso não vai acontecer dessa vez, já que nós nos odiamos muito e quase não vamos conviver porque estaremos em quartos separados.
O jatinho começou a decolar e eu senti uma paz muito grande. Eu estava sozinha numa nave muito chique, sem Aaron pra me tirar do sério, sem Antony pra me tentar, sem Alex pra me arrastar pra festas duvidosas, sem Bruce reclamando na minha orelha, sem ninguém. Apenas eu e eu mesma. Reclinei o banco e peguei um cobertor junto com meus fones de ouvido. Me ajeitei e peguei no sono.

10:00

- Senhorita Ashley?
Ouvi de relance uma voz gentil me chamando e uma mão leve no meu ombro.
- Senhorita Ashley? - a voz repetiu.
Achei que estava sonhando e apenas virei pro lado. Alguns segundos depois sinto um tapa forte na cara me acordando de imediato.
- Acorda caralho! - Aaron gritou - tá achando que é a Bela adormecida porra?
- Seu filho da puta! - levantei fui atrás dele, que já estava saindo do jato - você tá fodido!
Desci as escadas muito rápido, quase tropeçando em alguns degraus e corri atrás dele na maior velocidade que eu pude. O alcancei e o empurrei direto de cara no chão. Subi em cima dele e logo quando eu ia socar aquela sua cara nós ouvimos uma voz dentro do meu bolso.
- Ei vocês dois! - era a Alex - podem parar agora!
Mas que porra?
- Como você tá vendo a gente? - Aaron perguntou.
- Isso não deixa de ser um mini aeroporto, então tem câmeras seus idiotas - ela continuou - e saí de cima dele Ash!
- Nem fodendo! - ia voltar de onde eu parei mas ela me interrompeu de novo.
- Sai de cima agora ou eu corto seu salário!
Puta da vida eu levantei mas dei um chute na sua costela, fazendo ele arfar de dor.
- Vê se para de me espionar sua estranha - disse no ponto e depois o enfiei no bolso da calça sem esperar resposta.
Fui andando até o carro que nos esperava para nos levar até o hotel. Aaron entrou logo em seguida, com uma das mãos nas suas costelas e isso me fez dar um sorrisinho. Ele me mostrou o dedo do meio com uma expressão de ódio e dor.
O motorista dirigiu por alguns minutos e nos deixou na porta de onde nós nos hospedaríamos pelos próximos 15 dias. O lugar era lindo, cheio de palmeiras e fontes de água que davam um ar de realeza. Realmente parecia um palácio. Entrei pela recepção, meu "parceiro" logo atrás e um homem com um uniforme elegante veio até nós.
- Vocês devem ser o Sr. Aaron e a Srta. Ashley - ele nos entregou uma chave com nossas iniciais gravadas - aqui está sua chave, todas as nossas chaves são personalizadas, por isso as iniciais.
- Mas cadê a outra chave? - ele perguntou.
- Como assim? - o homem parecia confuso - só foi feita a reserva de um quarto.
- Um quarto só? - não era possível.
- Sim Srta. apenas um quarto foi reservado.
- E não tem outro? - Aaron perguntou - eu pago outro separado.
- Infelizmente estamos lotados Sr.
Mas que merda! Eu estava com uma leve esperança de que ia ter paz aqui, mas pelo jeito o Bruce quer me foder com força.
Aaron foi pro elevador e eu fui também, já que como ele estava com a chave a chance dele me trancar pra fora era grande.
- Por que você veio tão rápido pro elevador?
- Porque você vai me trancar pra fora do quarto.
Ele reprimiu um sorriso e respondeu:
- Vou tentar depois então.
Nós chegamos no andar do quarto e fomos até o nosso número "666" . Escolha curiosa de número. Aaron abriu a porta do quarto mas parou de repente me fazendo bater com o rosto nas suas costas.
- Por que você parou? Não sabe andar mais?
- Só tem uma cama.