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O Cheiro da Maresia, o gosto salgado nos lábios do mar, a pele que estava queimada do sol marcando uma marca do biquíni pequeno que Belinda tinha colocado na mala antes de pegar algum dinheiro, algumas roupas, e a vontade de esquecer um pouco da sua vida caótica.

Não viajou de avião, nem tinha dinheiro pra isso, viajou de ônibus até a divisa do Brasil com o Uruguai, pegou algumas caronas duvidosas, e nunca pensou que seu castelhano pouco praticado seria útil até chegar no seu destino final: Punta Del Leste.

Queria esquecer um pouco da vida, queria viver por ela, queria poder decidir, queria poder escolher, ter uma autonomia que nunca pode, teve sempre que viver pelos outros e para os outros, seguia regras, seguia vontades, sim senhor, não senhor, você tem razão, eu estou errada, eram frases cotidianas para ela.

Belinda Sanchez, uma brasileira com descendência uruguaia, neta de uma rebelde dos anos quarenta que saiu de Montevidéu com um brasileiro fugindo de uma família tradicional uruguaia para viver um amor.

Maria Rosa Sanchez era sua maior figura de vida, adorava ouvir suas histórias, adorava ficar com a avó, achava que ela era a maior figura do feminismo e de liberdade pra ela, se apegou nesse sentimento quando terminou uma faculdade que não queria ter feito, de uma vida que não queria viver, seria apenas uma aventura, só isso, ela voltaria a vida pequena que não a preenchia ou a completava, Mas Belinda acima de tudo queria viver nem que se fosse um pequeno momento.

Sentia o sol ainda queimar na sua pele enquanto vestia a saia que trouxe do quarto do hotel barato que ela tinha alugado, não ligava pra luxo, olhou em volta da praia que começava a ficar mais cheia, notou que logo à frente um DJ tocava alguma música latina enquanto alguns jovens dançavam, conversavam, bebiam, viviam.

Bom ou quase, notou que também a sua maioria ficava presa no aparelho celular, gravando vídeos para algumas pessoas verem, tirando fotos pra encher de efeito, checando suas redes sociais a cada segundo, isso para ela não era saudável, quando decidiu vir fazer essa aventura decidiu pôr fim "sumir" excluiu suas redes sociais, pegou outro chip de operadora, não pediu por internet móvel, de fato ela não existia no mundo on-line, e se sentia muito bem com isso.

Sentiu a boca secar e pensou por que não ir até o bar que estava tão animado? Por que não escolher se divertir um pouco? Caminhou pela areia até o bar indo até o barman e pedindo alguma bebida, ela sentia sede, mas sede de viver ou por que sua boca estava seca? Desistiu de pensar quando tomou o último gole da bebida e se juntou às pessoas que dançavam, não precisava ter um par, Belinda só queria se sentir viva.

Deve ter dado alguns foras em caras chatos, não que fosse uma santa, longe disso ela não era nenhuma santa e adorava que pelo menos em suas peripécias sexuais e amorosas ela conseguia ser ela mesma, mas ali ela simplesmente não se sentiu atraída por nenhum dos homens que estavam por ali.

- Hola Chica está sola? - Uma moça loira com um sorriso enorme se aproxima.
- Hola!! Si estoy!
- Ven a quedarte con nuestro grupo de amigos entonces!

A loira puxou Belinda pela mão, em situação normal a acharia louca e negaria o convite, mas não pensou muito, queria aproveitar, se aventurar, a loira se chamava Camila, Camila Piquerez, era médica e estava na praia e bar com amigos e o irmão, era tão simpática que parecia que era íntima de Belinda, não parecia que só a conheceu a minutos atrás.

O grupo de amigos era diverso, mas sinceramente Belinda estava pouco se importando, comprimentou a cada pessoa da roda, se sentou com eles, se apresentou, conversou, riu e bebeu, foi jovem, foi livre pelo menos nessa viagem ela estava fazendo o que queria, a bebida começou a correr pelo seu sangue a deixando ela quente, a Belinda que não tinha pudor estava quase dando as caras, passou a própria língua pelos lábios e olhou em volta do bar a procura de alguém para tirar sua roupa naquela noite, mas nenhum pareceu mais atraente que o irmão da recém amiga.

PUNTA DEL LESTE - JOAQUIN PIQUEREZ (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora