CAPITULO DOIS

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Nathaniel Bustamante Williams. Nem me lembro a ultima vez que ouvir esse nome, meus pais evitam cita-lo desde o acidente. O trauma deles foi tão grande que até mesmo as fotografias espalhadas pela casa foram todas recolhidas. Imagino que somente eu ainda tenho foto dele guardada. Vejo o código binário como uma apontada de dedo na minha cara. Já não bastasse invadir minha pobre página desativada, ainda surge mais essa. 


— mas o que o Nathan tem haver com isso? — Selena questiona checando a página pelo meu computador

— eu não faço a menor ideia! Eu não faço a menor ideia de nada pra falar a verdade

— diz pra mim que você não mandou mensagem pro perfil da página — ela diz se virando pra mim

— tarde demais...

— Glauco! — ela checa os chats

— não me contive Ok!

Ela faz sinal de negação com a cabeça ao mesmo tempo em que seu celular toca uma notificação fazendo-a ir o mais rápido.

Conheço Selena desde o jardim de infância, teve até uma época que ela passou a morar com a gente pra não viajar com a mãe a trabalho. Sempre fomos colados, por isso a chamei pra falar sobre essa bizarrice toda. Um toque no computador revela a resposta do '' suicida ''

sinto muito invadir a sua pagina, mas foi necessário — ele diz na resposta.

— o que foi necessário? Usar-me de cartaz pra anunciar sua ida embora da terra?

o foco era chamar sua atenção, tanto é que usei sua pagina. Não vou embora da terra sem que você saiba a verdade, isso eles não terão o gosto de ver — leio a mensagem em um tom melancólico, não sei por quê.

Fico cada vez mais confuso após essa mensagem, mas isso não vai ficar assim, já me meteram nesse BO agora eu vou até o fim. Logo que a noite vira dia, a ironia do destino me faz lembrar que Selena trabalha pé a pé com nossa querida diretora Veridiana e isso já me dar uma boa ideia de por onde começar.

Já que meu acesso ao colégio está barrado até segunda ordem, peço que minha fiel amiga banque a tia dos livros e me traga tudo que tenha o nome do Nate escrito. Porém isso pode vir a demorar já que a diretora sempre foi rígida com informações pessoais.

Pego minha caixinha de lembranças que guardo em cima do guarda roupas, lá vejo a foto do meu irmão aparentemente nos auges dos seus 16 anos, sempre sorridente e alegre. Selena sempre me disse que Nathan adorava brincar comigo, que a gente corria pela casa fazendo o caos e deixando nossos pais zangados. Fazia questão de ter somente um quarto, só pra dividir comigo e fazermos baderna até altas horas da noite. O estranho é que não me lembro de muito dele e do pouco que lembro chega a ser confuso. Toda vez que pergunto pra mamãe ela desconversa o assunto, certeza que ela e o pai iriam enlouquecer se soubessem da única foto que tenho dele.

Reviso pela milésima vez o poema, só que agora com outro pensamento. Na mensagem o S dizia que não queria ir sem que eu soubesse a verdade, e levando em conta o fato dele ter trocado o URL da página só porque eu iria saber do código, deve ter mais alguma pista na publicação. De ponta a ponta, começo a revirar a publicação e a página do avesso, apesar de ter apenas aquele post, sinto que vou encontrar nem que seja uma única migalha de informação no meio disso tudo, e lá estava.

Abrindo a foto do perfil, no canto da imagem vejo meio que um site escrito verticalmente. Imaginei ser uma marca d'água da foto pela maneira que tá, mas pelo sim ou pelo não escrevo o mesmo em uma nova guia. O link da em outra página do Facebook, sobre uma parada LGBT que aconteceu em uma cidade chamada flor azul, porém o que mais me chama atenção é o fato do Nathan ser o criador da página e organizador do evento.     



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