CAPITULO SEIS

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Hipnoterapia: é o uso terapêutico da hipnose, ou o tratamento de uma doença com o uso de técnicas hipnóticas.

Já vi esse lance de hipnose algumas vezes na TV, mas nunca passou pela cabeça ser usado como tratamento médico ou algo do tipo. Tem literalmente um milhão de coisas passando pela minha cabeça agora. Volto pro meu quarto com o papel ainda em mãos, leio e releio cada canto da folha mesmo já estando entendido o conteúdo ali escrito. Ando de um lado ao outro no quarto. Mais perguntas começam a ecoar na minha cabeça. por que eu faria terapia hipnótica? Pra que isso? Por que meus pais nunca me contaram?

Uma ducha rápida e já saio do banheiro discando o numero.

— manda! — Afonso atende em viva voz.

— preciso de um hacker para um pequeno favor — digo jogando o celular na cama e abrindo o guarda roupa.

— que seria... — ele indaga em tom curioso

— te explico em mensagem — visto a camisa e desligo antes que ele pergunte outa coisa.

Afonso sempre foi vidrado nesse lance de Hacker, porém ele não é cem por cento fera nisso, tanto é que pedir pra ele usar os truques pra achar o suicida pela página — o que seria mais rápido —, mas não rolou. De um nome a uma profissão, rapidinho ele achou o tal médico e o endereço de sua clinica.

Tem meia hora que meu celular não para de vibrar chegando mensagem da Selena dizendo que minha mãe tá louca lá em casa falando que sumir do nada, o que desencadeou umas boas chamadas dela e do meu pai também. A frente do prédio — apesar de aparentar ter sido reformada há pouco tempo — me remete uma imensa nostalgia. Sigo adentro como se fosse à primeira vez que estou em um local assim. O cheiro de hospital exala por todos os lados enquanto as pessoas esperam sentadas na ala da recepção. Sigo a passos pequenos pelo único corredor que não a muita movimentação. De porta em porta vejo os nomes das salas até me deparar com a única que me interessa, a qual vai me dar mais perguntas ou muitas respostas.

— como você entrou aqui? — ele pergunta assustado a me ver sentado em sua mesa

— o senhor não se lembra de mim? — mesmo assustado, ajo serio e focado.

— eu deveria? — ele questiona um tanto confuso

— sou o Glauco! Filho da Maíra e do Alberto — me levanto e cruzo os braços — já me consultei com você, e eu acho que não foi só uma vez.

— tenho muitos pacientes, garoto! Lembrar-me de pessoas especificas é um tanto complicado — ele diz

— mas eu achei que tratamento hipnótico fosse algo serio e inesquecível — digo em dom sarcástico

Confesso que a abordagem a esse tal Gregório está sendo exagerada e teatral, mas ele é o único que literalmente pode tirar essas duvidas da minha cabeça, e levando em conta a cara que ele fez após minha ultima frase, com certeza esse pobre velhinho deve saber me ajudar.

— sai da minha sala! — ele indaga serio apontando pra porta

— ainda não, moço — digo pondo as mãos nos bolsos

— saia agora ou eu terei que chamar a policia! — ele começa a aumentar o tom

— chama! Fica a vontade. Aproveita e diz da Hipnoterapia que você usou em mim sem meu consentimento, eles vão adorar bater um papo — esse com certeza é o maior tiro no escuro da década.

Eu não faço a menor ideia do que estou fazendo, mas seja o que for tá funcionando. Sinto-o baixar a guarda de serio e focar mais em me observar.

— do que você tá falando? — ele pergunta com cara de confuso

o paciente apresenta um estado de transe emocional devido aos recentes acontecimentos — recito laudo clinico que achei em casa — o mesmo se encontra catatônico e incapaz de responder ou fazer ações típicas do cotidiano. Entrarei com o processo de hipnose terapêutica com intuito de restabelecê-lo e guia-lo á um estado emocional estável e saudável o mais depressa possível.

mas como...

— isso foi escrito a mão — digo interrompendo-o — e pelo que eu vi nas pastas quando cheguei tudo aqui é registrado digitalmente desde a inauguração da clinica — o deixo sem resposta e um tanto perplexo — ou seja, você tirou algo de mim, hora de devolver — termino cutucando a lateral da cabeça.

Aparentemente nervoso, o médico se senta e desabotoa o primeiro botão da camisa social. Acho que minha atuação foi comprada mesmo estando tremendo de nervoso por dentro

— não posso reverter isso! — ele indaga me encarando

— ah você pode! Você pode e você vai! — retruco o mais serio que consigo — caso contrario eu mando o laudo pra tudo quanto é canto até caçarem teu registro, ai agente vai tá kit, eu sem memória e você sem emprego.

— devolver o que foi tirado vai sobrecarregar sua cabeça, você não vai aguentar.

— darei meu jeito! — o encaro nos olhos — há meses eu vivo com um bizarro sentimento de duvida. E de uns dias pra cá eu ando cada vez mais confuso até que vim parar aqui. Não vou passar daquela porta de mãos abanando

Ele vai até a mesa e liga pra recepção pedido pra moça cancelar todas as consultas do dia e tira o celular do bolso

— um dos meus melhores amigos hackeou os celulares dos meus pais. Qualquer mensagem ou ligação pra eles sobre eu estar aqui, você se lasca — jogo a mentira nele o mais sério que consigo

Ele desliga o aparelho e se prepara para iniciarmos. Deito-me sobre a maca e me preparo também. Ele explica como tudo irá funcionar na seção.

Sinto medo do que ele vai me mostrar. Não sei se ao passar pela porta da entrada já vou saber quem seja ou tal suicida ou se ele tem algo haver com o Nathan. Minha única certeza é de que vou ter alguma resposta depois de tantas e tantas enroladas dos meus pais que sempre negam tudo ou omitem tudo. Quero entender o porquê deles — na minha frente, na maioria das vezes — negar a existência do meu irmão.

Gregório pede que eu respire fundo e olhe fixamente para o teto. Ele pede que eu imagine uma sala grande e toda branca a qual não tenha portas ou janelas. Ouço-o estalar os dedos, o eco na sala anuncia meu sono, meu corpo relaxa como se eu estivesse afundando em uma piscina. Ele pede que eu pisque três vezes na batida do estalo. O primeiro me leva a escola, todos os olhares a mim logo embasam para o segundo estalo que me coloca na sala imaginária que ele pediu agora pouco. Meus olhos relutam mesmo sem força alguma e no terceiro estalo, tudo se apaga.

Deixe-me morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora