CAPITULO NOVE

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Ele entra no quarto e fecha a porta com o pé, só mesmo eu e o Nathan pra tomar café em plenas duas da manhã enquanto jogamos Pandemic.

— organizou tudo? — ele me entrega uma das xícaras

— sim, não vai ser estranho jogar só nó dois? — digo soprando o café quente

— a gente se vira — ele se senta no chão a minha frente — ou preferiria não ter irmão pra jogar?

— vai se lascar idiota, eu não quis dizer isso — digo com um risinho meio vergonhoso.

— tô zoando pirralho — ele diz mexendo nas cartas — seria estanho ser filho único

— você seria muito antipático, e também não teria pra quem perder como filho favorito — falo em tom debochado.

— não tem filho favorito pra eles! — ele diz em um tom revoltante e ao mesmo tempo engraçado

— mamãe gosta mais de mim — debocho outra vez

— e o papai de mim, dã! — ele retruca

— ah é mesmo — caímos na risada

A chuva inicia lá fora ao mesmo tempo em que começamos o jogo. Nossa risada me faz abrir os olhos, sonho ou lembrança? A terapia hipnótica meio que estimulou meu cérebro a lembrar de umas coisas e a ter esses sonhos.

Todo o caos com o nome do Nathan me tirou de total foco do tal suicida. Pulei de pista em pista até o Gregório que esqueci completamente do post. Parando pra pensar — se acaso o suicida realmente for o tal namorado do Nathan — será se foi essa a promessa que ele fez? Contar-me tudo sem se identificar? Será se meus pais o ameaçaram...? Estou em um nível de pensar literalmente qualquer coisa.

Abro a pagina e a mesma se encontra igual, até o URL voltou a ser o que é de padrão. Leio o poema algumas vezes e só agora percebo a data. Se ele for fazer o que o poema diz, o dia é amanhã.

— Adotado? — Selena indaga com uma voz quase de choro

Vejo em seus rostos a reação de quem não fazia a mínima ideia de tal informação.

— Maíra veio aqui ontem e me contou — digo na poltrona de braços cruzados — Nathan se assumiu pra eles e o Alberto perdeu a cabeça, gritou que não queria filho gay, e isso, e aquilo, homofobia típica. A discussão subiu de nível e quando ela foi ver ele já tinha falado. Nathan se trancou no quarto, jogou tudo pelos ares e o resto vocês já sabem.

— Deus! — Álvaro solta pondo a mão no rosto

— ele era louco pelo pai — Selena começa — a gente sabia que ia ser complicado ele se assumir, mas isso?

— o Alberto não é pai de ninguém, nem meu e nem dele — meus olhos vermelhos de uma noite inteira de choro revelam a seriedade do que digo — e não importa o que a Maíra disse. O Nathan... É... Meu irmão

Sigo pro quarto e me jogo na cama. Não sei se minha cabeça vai explodir de dor ou de tantos pensamentos. Ligo o notebook e vou pra página, abro a conta secundaria e mando mensagem.

— não sei qual é a tua. Não sei se fazia parte da tua promessa esfregar o Nathan na minha cara até eu descobrir quem ele e todos a minha volta são. Não sei se você queria afetar aqueles que ele chamou de pais e os negaram quando ele mais precisava de apoio, ou que o apunhalaram. Não sou a melhor pessoa com as melhores palavras pra impedir o que você vai fazer. Tudo que eu sei é que sair desse mundo, não vai coloca-lo aqui de volta.

Envio a mensagem e ponho o notebook na cama. Não creio que ele vá ler; compreender ou muito menos responder. E se for pra acontecer, não acho que eu seria capaz de impedir.

Deixe-me morrerOnde histórias criam vida. Descubra agora