Slow Dancing In A Burning Room

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Entrar naquele lugar gerou algumas camadas de sentimentos. Mas quando cheguei ao meu antigo quarto sabia que estava certa em ter vindo. Alguns dos livros estavam amarelados pelo tempo, outros estavam fora de ordem. As caixas no roupeiro mostravam que eu tinha uma vida inteira encaixotada que eu simplesmente precisava deixá-la ir. Mas havia uma caixa, uma em especial. Aquela eu teria perto de mim novamente. Felipe não deixou eu pegar sozinha, fez questão de tirar do armário e colocá-la onde, um dia, teve meu colchão.

-É sua. – eu olhei segurando a correntinha que era da minha vó, seus olhos me procuram com precaução. – É o combinado, eu deixo a caixa para você levar o que quer manter.

-Eu quero manter tudo. – ele nem hesitou.

-Você decide. – eu sussurrei.

-Vamos mandar pelo correio direto para a Itália. – ele falou apontando para o objeto. Ele olhou, sabia que a curiosidade estava corroendo ele.

-Quer ver antes? – Ele me olhou e confirmou.

Abrimos sem demora aquela caixa de pandora com nossas lembranças. Meus olhos não secavam nem com as risadas quando nos distraíamos. Tínhamos muita história naquele plástico reforçado. As arestas não davam conta de manter tudo o que vivemos juntos. Era difícil ver os olhos dele marejados depois de um tempo, mas logo dava espaço para um sorriso de canto quando seus olhos me procuravam e me encontravam bem na sua frente. Ainda estávamos na metade daquelas fotos, recordações, embrulhos, presentes e postais quando sua mão me puxou para o seu colo. Meu coração se acalmava a cada respiração sua que fazia meu cabelo se movimentar. Sua mão esquerda me segurava enquanto a direita explorava as profundezas da caixa. Sem avisos acabamos. Repusemos tudo ali, sem tirar absolutamente nada. Vedamos e ele levou para o carro.

Agora eu tinha três caixas na minha frente e elas diziam: Doar, Itália, Lixo. Fe me ajudava com as coisas mais fáceis de separar, enquanto os livros eu mesma avaliava um por um. Quando fui pegar Agora e Para Sempre, Lara Jean, sabia que encontraria a música do Niall que o Fe tinha me dado em nosso último Natal juntos, mas não imaginei que ele teria novas marcações, azul claro no texto e lápis com algumas palavras, soltas e recados, dizeres não ditos em todas as bordas de onde as marcações ficavam. Olhei para Felipe ficou entretido em acertar a caixa de doações com ursinhos de pelúcias que ficaram cinco anos guardados a vácuo.

-Fe... – eu apontei para o livro.

-Eu li. – ele falou dando de ombros, meus olhos piscaram algumas vezes o que fez ele rir. – Não estava brincando, agora eu leio de verdade. – Ele se gabou. A música que ele tinha colocado animou o ambiente, que não tinha motivos para ser triste, mesmo que continuasse melancólico.

-Você leu. – Eu ainda parecia em choque.

-Ela me lembra você. – Ele falou apontando para o livro. – Mesmo jeitinho, herança asiática que está se perdendo, um cara que é louco por ela... – dei um tapa no seu ombro o fazendo rir e abraçar minha cintura por trás.

-Eu gostei de Instrumentos Mortais, gostei muito na verdade, até comprei o resto da coleção. – Ele falou em uma confissão exagerada. – A Seleção eu achei cruel, o que o rei fez com o próprio filho não se faz... achei a parte política muito boa, mas cruel. – Meu coração dava piruetas a cada palavra que ele dizia. – As vantagens de ser Invisível me fez ter ânsia de vomito, eu não acredito que eles amenizaram no filme, mas achei muito bom o livro, mesmo que eu tenha ficado alguns minutos com ele fechado tentando digerir. – ele falou apontando para a capa. – Aquele eu não gostei, aquele eu até que gostei, aquele eu... – parei ele dando um beijo em seus lábios. – Esse eu gostei mais ainda. – Sua voz soou rouca em meus lábios.

US | Felipe Drugovich ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora