Not Today

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Meu coração disparou no exato momento que o carro número 10 saiu da pista! Segurei firme a bandeira que estava enrolada, quase sem ar, minhas mãos tremendo enquanto segurava o celular com a transmissão da corrida que eu escutava em um fone de ouvido, enquanto deixava o som do autódromo de Monza se intensificar com os poucos remanescentes que queriam ver a formula 2. Não era do jeito que queríamos, mas o que importava era apenas uma coisa:

Felipe Drugovich era campeão da formula 2.

Eu já chorava antes mesmo de soltarem o anuncio na transmissão. Mas era impossível Theo chegar na sexta posição. Quando mostrou o Felipe na tela era o mesmo Felipe de sempre. Olhos brilhantes, olhar focado, semblante sério, cabelo desajeitado, lábios contorcidos. Quem olhasse apenas uma vez poderia jurar que era alguém metido ou chato, porém era só olhar uma segunda vez para saber que ele era tímido demais para demonstrar qualquer emoção. Mesmo que ele tenha acabado de calar a boca de metade do mundo do automobilismo ganhando esse título em uma equipe pequena.

Ele continuava o mesmo, ainda que tenha passado todos esses anos, era apenas o Felipe. Eu conseguia ver isso, mesmo que de longe. Mais longe do que eu sempre imaginei.

Me permiti chorar, me permitir gritar, me permiti sentir, me permitir desmoronar.

Ele estava dando um passo importantíssimo na sua vida, principalmente na sua carreira. E eu... bom, eu estava o assistindo como sempre!

Respirei fundo assistindo ao pódio sem prestar nenhuma atenção em quem estava lá em cima, apenas procurando o pontinho laranja com uma bandeira, bem menor que a minha, no paddock.

Depois que tudo tinha se acalmado, e ele já não estava mais perdido no meu campo de visão, tomei o caminho para longe do meu lugar, fui acompanhada por dezenas de torcedores que comentavam animados o dia de sábado em Monza. Um outro grupo de brasileiros reconheceu a bandeira que ainda estava amostra, amarrada na minha mochila. Fizemos festa e soltamos algumas palavras de apoio com um sorriso de sonho realizado. Afinal fazia-se 22 anos que não víamos um brasileiro vencendo uma categoria de base e ainda mais de um piloto se tornando quase uma unanimidade entre os fãs.

Passei pelo canto mais próximo a grade da formula 2 que continham muitas pessoas esperando a passagem dos meninos. Mas eu não esperei, caminhei mais um pouco até onde tinha deixado minha bicicleta, tirei o cadeado dela e fui para o apartamento onde eu estava. Foram só 10 minutos pedalando, perto o suficiente para eu não ficar exausta para o dia seguinte.

Arrumei minhas coisas para o domingo, tirei minha camiseta da MP e a da Ferrari da mochila colocando elas na máquina para lavar o mais rápido possível para eu conseguir usá-las amanhã. Mandei mensagem para Alisson e Lucas, meus melhores amigos. Dizendo que estava bem e que ele tinha ganhado. Sabia que Lucas estaria vendo, mas Alisson nem lembraria que era hoje. Minha mãe me ligou, conversamos por um tempo enquanto ela tentava desvendar se eu estava realmente feliz ou apenas fingindo para ela não ir me buscar no mesmo instante.

-Eu estou bem, mãe! - Confirmei suplicando um tempo sozinha para o universo, já que eu não falaria isso para ela.

-Ok querida, mas você chegou a vê-lo? - neguei rápido.

-Só do meu lugar. Mas vi o Charles, Mick e Sebastian, os meninos da formula 3 também, Ollie, Arthur, Jak, Caio e o Victor. - Ela me olhou.

-Você não tentou né? - eu neguei prendendo os lábios. - Filha, você não quis ver nem os outros pilotos, você vive falando dos pilotos da formula 2. - Até demais!

-Não, eu prefiro não correr o risco de ver ele de perto. - Eu dei de ombros escutando o barulho da máquina. - Tenho que estender a roupa, depois vou jantar, nos falamos amanhã.

US | Felipe Drugovich ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora