Capítulo 13

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Alerta de gatilho⚠️

No momento em que chegamos na sala onde todos nos aguardavam, um silêncio sufocante se instalou no ar.
Nyx me guiou até um sofá vazio, no meio de onde os outros estavam sentados. Mas ele não sentou. Permaneceu ao lado de onde seus pais estavam sentados.
-Você está com fome querida?-Feyre me questionou com a voz reconfortante.
-Muita.
Quando me dei conta, havia uma bandeja com três cumbucas de sangue, sob uma mesinha, ao lado de onde estou sentada. Não perdi tempo e devorei a primeira em segundos. Terminado a segunda, começei a falar.
-Obrigada Feyre. Seu nome é bonito.
Todos pareceram surpresos, inclusíve Nyx que abriu um sorriso.
-O seu também é, Júlya.
Retríbuo o sorriso. Quando me dou conta, não vejo Akira em lugar nenhum.
-Onde está minha irmã?
-Dormindo. Eu a levei para a cama, assim que vi a pequena deitada ao seu lado no seu quarto-Desta vez, foi Nyx que respondeu-Ela parecia tranquila, apesar de você ter dormido o dia inteiro.
-Acontece-Dei de ombros. Pegando a terceira cumbuca e bebendo rápidamente-Vocês têm ótimos cozinheiros, esse sangue está muito bom.
-Obrigado pelos elogios-Diz Rhysand-Porém, acho que você não venho aqui só para comer e nos paparicar.
-Pai!-Repreende Nyx-Ela passou por muita coisa antes de chegar até aqui. Respeite-a.
-Ela também já passou tempo demais aqui.
-Rhysand-Feyre o encara segurando sua mão-Eu sei que está preocupado, mas falando desse jeito só vai deixa-lá mais desconfortável.
Ele pareceu se recompor.
-Desculpe. Prossiga.
Respiro profundamente antes de falar.
-Nyx me contou sobre o pensamento de vocês sobre mim-Começo falando e observando todos-E concordo com ele. Sou uma completa estranha que invadiu suas terras e que agora, está hospedada em seu lar-Limpo a garganta-Sei também que não expliquei nada desde que chegamos aqui, mas eu precisava colocar meus pensamentos em ordem antes de falar. Agora me sinto pronta.
Olho para Nyx antes de proseguir. Ele acena, me dando um pouco de coragem.
-Não sei por onde começar. Vou tentar contar de uma forma onde todos possam entender-Cruzo minhas pernas no sofá-Bom, minha mãe era metade feérica, e meu...pai era feérico-Não me surpreendo por ficarem surpresos-Foi a minha mãe quem me criou e me amou desde pequena, foi ela quem me explicou sobre o poder correndo em minhas veias. Mas, quando ela engravidou de Akira, começou a ficar muito doente. Talvez porque dar à luz a uma filha era seu limite, devido ao seu corpo não muito estruturado para engravidar mais de uma vez. Porém ele não respeitou os limites dela, e a fez engravidar denovo. Meu pai queria um menino, e quando descobriu por uma curandeira que era menina, queria matar Akira, mesmo estando dentro do ventre de minha mãe-Todos estavam sérios, me escutando atentamente. Precisei tomar mais sangue para continuar-Eu tinha dez anos na época em que descobri o que ele planejava fazer. E foi com dez anos que começei a ficar protetora em relação à minha mãe e Akira. Foi nese período também, que meu poder aflorou de uma forma incontrolável-Entrelaço as mãos-Meu pai não suportava ficar em casa e ficava fora, bebendo o dia inteiro. Quando voltava bebâdo, queria bater na minha mãe, como eu não deixava, acabava apanhando por ela-Forço um sorriso e desviei meu olhar para o chão-A mãe não suportava me ver apanhando, mas ela não conseguia nem sequer se levantar sem minha ajuda. Depois de apanhar, meu pai capotava e eu ia correndo para os braços dela.
Como minha mãe era metade feérica, ainda tinha seus poderes, e um deles era a cura. Assim que me jogava na cama, chorando em seus braços, ela me fazia dormir cantando uma canção que me curava um pouco. Acho que ela nunca se deu conta, mas toda a noite eu sentia suas lágrimas escorrendo em seu rosto, pois pingavam em minha testa-Fecho os olhos e escoro minha cabeça no sofá. Me sentia tonta em meio a um turbilhão de emoções que estava sentindo-Preciso de água.
Um copo surgiu nas mãos de Nyx. Ele caminhou em minha direção para entregar, e quando estendi a mão ao copo, percebi que estava tremendo.
-Você não precisa continuar se não quiser.
Dou um rápido gole e deixo o copo sob a mesinha, onde as cumbucas estavam cheias novamente. Eu o encaro de volta.
-Preciso fazer isso.
Nyx abre um sorriso, como se...se ele estivesse orgulhoso, e volta a ficar com seus pais.
Deixo o pensamento de lado e retomo de onde parei.
-A cada dia que passava, minha mãe ficava mais fraca e nossa comida acabava. Foi então que começei a procurar comida por conta própria. Eu sabia que ele só voltava à noite, o que me dava mais tranquilidade de ficar fora de casa, na maior parte do tempo.
No começo foram pequenos coelhos, depois raposas, mas com o passar do tempo, fui ficando mais experiênte no que fazia, resultando em lobos, alçes e ursos como comida...
-Espera-Mor me interrompe-Você caçava ursos com apenas dez anos de idade?
-Sim.
-Que maravilha! Cassian ficará empolgado quando retornar-Diz empolgada-Rhysand, temos uma nova espiã na Corte Noturna.
-Podemos pensar a respeito-Respondeu ele para a minha surpresa.
-Como você caçava?-A loira me questionou.
-Com meu sangue.
-Só?
-Deixa ela falar Mor-Nyx disse impaciente.
-Me empolguei-Ela dá de ombros.
-Não, imagina, sei que todos devem estar cheios de perguntas. Mas, responderei depois de terminar de contar tudo-Tomei mais um gole de água-Enfim, eu usava meu sangue para caçar. Qualquer ser vivo que entrar em contato com meu sangue, paraliza no mesmo instante, se eu permitir. Com isso, cortava meus pulsos e derramava meu sangue por vários kilometros para atrair as presas-Levanto um pouco as mangas de minha blusa e mostro meus pulsos-Não tenho as marcas, pois me recupero em segundos. Eu fiz tudo isso pela minha mãe e Akira, mas só por elas-Continuo-Pelo que perceberam, só me alimento por sangue. Então, algumas vezes caçava e consumia o animal eu mesma. Minha mãe sempre soube, mas não conseguia me explicar sobre isso, ela não fazia ideia da capacidade de meus poderem.
Perto de dar à luz a Akira, meu pai foi ficando mais violento, e eu mais forte. Chegou a um ponto, onde eu não deixava mais ele me tocar, nem de respirar perto da minha mãe. Ele acabou descontando a raiva nos poucos móveis que tínhamos, mas pelo menos estávamos mais tranquilas-Meus olhos ficam vazios-Até que chegou o dia em que Akira nasceu. Numa tarde quente de verão, minha mãe começou com as contrações e fui correndo chamar a curandeira. Mas, a vadia disse que só podia iniciar o parto com o bendito homem da casa presente. Na hora eu fiquei com tanta raiva, que ameaçei a ordinária à morte, e usei meu poder para traze-lá até minha casa. Quando chegamos lá, a expressão que minha mãe estava no rosto...-Trago minhas pernas para perto e agarro meus joelhos-Nunca me esquecerei daquela expressão. Dava para ver em seu olhar que ela sabia que iria morrer-Peguei o copo com as mãos tremendo mais que antes. Bebi toda a água-E que não havia nada que podíamos fazer para reverter a situação. Então eu fiquei lá, segurando sua mão, vendo ela se partir. Vendo ela nos abandonar. Mas, eu sabia de quem era a culpa daquilo tudo. Antes de se esvair totalmente, ela puxou com as mãos trêmulas, uma adaga escondida em seu travesseiro e me entregou, sussurrando suas últimas palavras "Proteja Akira com essa adaga. Amo vocês. Sempre estarei ao seu lado, minha guerreira." Depois, ela partiu...nos deixando sozinhas com aquele monstro. Eu fiquei com tanta raiva de tudo na hora, porém, quando segurei Akira em meus braços pela primeira vez, me senti viva novamente, senti que minha vida tinha outro propósito. Lembro-me fe sorrir em meio às lágrimas e dizer que eu nunca a abandonaria e sempre a protegeria. Foi por causa de Akira, que meu mundo não desabou, até hoje-Paro de falar e tomo uma cumbuca com sangue. Ninguém fala nada. Continuo- Com o passar do tempo fui criando Akira sozinha, foi muito difícil no início, mas depois peguei o jeito e fui me virando. Quando eu caçava, sempre levava Akira junto, não sabia do que meu pai era capaz de fazer. Depois da morte de nossa mãe, o pai ficou fechado e não falava mais comigo. Foi menos um problema em nossas vidas. Ou imaginei que fosse.
Quando Akira completou 3 anos, as dívidas pelas bebidas começaram a aparecer. Quando não batiam nele, pegavam as poucas coisas que tínhamos dentro de casa. Chegou a um ponto onde só tínhamos nossa cômoda, com pouca roupa, e nossas camas. Com isso, ele começou a enlouquecer tanto, que tentou vender minha irmã e...me botar em um prostíbulo. Claro que não conseguiu, mas aquele ser tentava pegar Akira enquanto dormíamos. Foi aí que começei a virar a noite para proteger Akira. Eu dormia muito pouco, e quando eu dormia, era na floresta onde caçava, no topo de uma árvore imensa, tinha que levar Akira junto-Suspiro, trêmula-Até que chegou uma hora onde não aguentávamos mais. Eu estava exausta de viver daquele jeito. Na madrugada em que planejamos fugir, ele nos viu. Naquele momento, eu percebi que se não fugíssemos, iríamos morrer. Akira estava ciente de tudo, era só eu dar o sinal que agiríamos. Mas...não deu ceeto. Aquele monstro conseguiu agarrar minha irmã com uma faca em seu pescoço e me disse "Se for para morrer, morreremos nós três, como uma família."
Na hora, ele pegou um tanque de alcoól,  jogou por cima dele e de Akira, e em sua outra mão estava o bendito isqueiro. Não pensei duas vezes antes de cortar minhas mãos e jogar meu sangue nele, paralizando-o. Minha vantagem era que ele sabia muito pouco sobre meu poder. Assim, consegui desvenciliar Akira desmaiada de exaustão de seus braços, mas o que não percebi na hora, é que o isqueiro caiu no chão, botando fogo na casa e nele-Sorri, inconscientemente-Foi satisfatório na hora. Vê-lo gritando e implorando por ajuda-Gargalho-Mas fui piedosa com ele e o matei eu mesma. Senti cada osso se partindo, cada músculo enrijecendo, cada órgão falhando e seu cérebro despedaçando. Deixei seu coração por último-Passo minha lingua pelos dentes-Eu já sabia que podia fazer isso, só nunca havia feito em uma pessoa antes-Relembro a cena-Porém, o alívio foi momentâneo, pois com todo o caos que aconteceu, as pessoas do vilarejo estavam ao redor da nossa casa. Nos cercando como se nós, como se eu tivesse sido o verdadeiro monstro-Tento forçar um sorriso-No final eu realmente fui.

O Dia em que te ConheciOnde histórias criam vida. Descubra agora