-Quando percebi que as pessoas estavam nos cercando, entrei em desespero e perdi o controle-Olho para o chão com uma expressão vazia- Matei cada um. Matei cada pessoa inocênte. Matei crianças, jovens, adultos e idosos. Invadi cada casa me certificando de que ninguém soubesse do que eu havia feito...-Minha voz falha-E hoje me arrependo profundamente do que fiz-Engulo seco-Vou carregar esse fardo até o dia em que morrer.
-Não foi sua culpa Júlya.
Balanço a cabeça.
-Não, Nyx-Bebo um gole de água-Eu sei que a culpa disso foi minha-Respiro fundo antes de terminar-Depois daquilo, eu simplesmente fugi sem olhar para trás, levando somente minha adaga e Akira em minhas costas. Fugi antes do vilarejo próximo perceber, e espero que ninguém venha atrás de nós. Nossa mãe sempre nos alertou: se algum mal nos acontecesse, era pra corrermos para os reinos feérico que, vocês, iriam nos entender e ajudar. No final, foi isso que fiz-Tento sorrir, mas falho-Passamos duas semanas andando sem rumo algum. No início consegui algumas frutas para Akira, mas com o tempo a comida foi acabando, até quase morrermos de fome. Não sei como não perdi a cabeça. Tive medo de...machuca-lá por fome. E quando aquela fera nos atacou e consegui matá-la, Azriel apareceu. O resto vocês já sabem.
O silêncio permanece antes de Amren falar.
-Acreditamos em você, criança.
Olhei para todos, e seus rostos diziam a mesma coisa.
Eu a encaro perplexa.
Todos acreditaram em mim. Eu consegui.
-...é sério?
-Sim querida. Vamos ajudá-la até que você consiga dominar seus poderes.
Feyre sorri de empolgação.
Meu coração se preenche de alívio.
-Obrigada...não sei como agradecer vocês.
-Não precisa-Rhysand diz-Vocês serão bem-vindas em nossa corte-Ele bota a mão em cima da de Feyre.
Olhei para Nyx, mas ele já estava me olhando, como se dissesse "Viu? Eu avisei".
Cretino arrogante.
Ele parece entender e começa a gargalhar.
Porém, o desconforto se instala em mim novamente.
-Por favor, só peço uma coisa à vocês-Sinto as palmas das mãos suarem-Akira não sabe de nada depois de seu desmaio. Ela não sabe o que fiz.
Todos me olham, compreendendo.
-Não se preocupe, isso é entre você e ela. Não nos meteremos-Rhysand assegura.
-Obrigada.
Sinto que um peso foi retirado de meus ombros.
-Bem, já que ela é a nossa convidada, temos que nos apresentar formalmente-Mor diz, olhando para Feyre, que sorri para mim-Sou a Grã-Senhora da Corte Noturna. Rhysand é o Grão-Senhor, meu parceiro. Como você já sabe, Nyx é nosso filho-Ela indica com a cabeça o outro sofá, onde estão os outros-Designada por Rhys, Amren é a segunda no comando da Corte Noturna. Morrigan é a terceira no comando, encarregada da Corte dos Pesadelos e da Corte de Sonhos-Mor sorri para mim. Retribuo o sorriso-Azriel é nosso mestre-espião-Ele balança a cabeça em forma de cumprimento-Cassian, que não está presente, é o comandante dos exércitos da Corte Noturna. Minha irmã Nestha é sua parceira, que está o acompanhando. E por final, Elain, minha outra irmã, é a chefe de cozinha e jardinagem.
Vejo olhares reconfortantes em minha direção.
Sorrio, com sinceridade.
-Meu nome é Júlya, não tenho sobrenome e sou metade feérica. Minha mãe era metade feérica, meu pai era um guerreiro Illyriano. Então, somos metade Illyrianas também. Meus poderes vieram de nossa mãe-Observo as sombras de Azriel se agitarem em seus ombros-Eu controlo qualquer ser vivo que entre em contato com meu sangue, farejo coisas e sentimentos a kilometros de distância e tenho-Meu sorriso vacila-...tinha...asas Illyrianas.
Essa frase doeu em minha alma.
Eles me encaram perplexos. Sei que o maior medo de Illyrianos como Rhysand, Nyx e Azriel, é perder as asas. Não deixou de ser meu medo, até aquele dia. Ninguém fez perguntas a respeito, e eu não falei nada.
Depois deles me acolherem, ficamos conversando um pouco, e consegui saber melhor de cada um.
Rhysand e Feyre são, tecnicamente, rei e rainha da Corte Noturna, que não é a única.
O território de Prythian, um continente, é composto por sete territórios divididos e governados separadamente por Grão-Senhores, e agora, pela primeira Graã-Senhora, consistindo de quatro Cortes sazonais, a Corte Estival de Tarquin, Corte Outonal de Beron, Corte Invernal de Kallias e Corte Primaveril de Tamlin, e três tribunas solares, Corte Diurna de Helion e a Corte Crepuscular de Thesan. A Corte Noturna de Rhysand e Feyre, é dividida em duas sub-cortes, a Corte dos Sonhos, onde estamos, e a Corte dos Pesadelos, governada por Keir, que serve como um administrador. Mas, Rhysand disse que detesta Keir, e que, evitará de me levar para aquele lugar, principalmente, para a Corte Primaveril. Não me explicaram do por quê e perguntei o motivo. Melhor deixar quieto.
Agora fiquei curiosa para visitá-los.
Rhysand me explicou sobre a história de Velaris e me disse que é Segredo de Estado.
Mor ficou me perguntando sobre as minhas caçadas.
"Como foi caçar um urso com nove anos pela primeira vez?"
"O que fez com a pele do urso depois?"
"Qual foi o mais divertido de se caçar, o urso ou o lobo?"
Depois de algumas horas de conversa, o cansaço começa a inundar meu corpo.
-Mais uma vez, muito obrigada por entenderem meu lado e de Akira. Estou muito aliviada, achei que passaríamos nossas vidas inteiras fugindo. Obrigada por nos darem...tudo isso-Um lar. Queria ter falado um lar, mas não consigo chamar assim. O sentimento de que não pertenço a lugar nenhum continua ali. Me forço a botar um sorriso em meu rosto-Mas está tarde e preciso dormir. Então, se me derem licença...-Digo levantando.
-Nós que agradeçemos por confiar na gente-Feyre diz-Sei que não é fácil confiar em pessoas desconhecidas, e sei também da solidão que está sentindo. Mas, nós nunca usaríamos isso contra você e sua irmã. Estão seguras aqui.
Pela Mãe. Feyre é igualzinha à ela. De início quis ignorar, mas é impossível. Até seu jeito carinhoso de falar comigo. Preciso conter as lágrimas diante de todos.
-Boa noite-Murmuro para o além e saio. Indo em direção ao quarto onde estou hospedada.
Segundos depois, sinto seus passos ecoando no corredor.
Me viro e deparo com ele.
-Nyx-O encaro com uma expressão neutra.
-Júlya.
-Vai dizer que está indo na mesma direção que eu, ou vai admirir logo que está me seguindo?
-Nenhum dos dois-Seu ar brincalhão some-Vim perguntar se está tudo bem.
Ele me pega de surpresa.
-E por que não estaria?
Percebo a tensão entre sua têmpora.
-Porque passou a maior parte do tempo quieta e distraída.
Ele percebeu.
-Estava escutando minhas dúvidas-Digo tentando fingir desinteresse.
-Não foi isso. Toda vez que minha mãe falava, você parecia cada vez mais deprimida.
Não sei como reagir.
Mas, não quero mais guardar as coisas para mim. Cansei desse fardo.
Tenho que começar a confiar neles.
Confiar nele.
Desvio o olhar de Nyx para o chão.
-É que...Feyre se parece muito com a minha mãe-Digo sussurando. Como se alguém além de nós pudesse nos escutar-Toda vez que eu a olho e escuto sua voz, me prendo ao passado e começo a lembrar...de coisas. Sinto muita falta dela.
Ficamos por alguns minutos em silêncio.
Então, Nyx me abraça.
Ele me abraça.
Há quanto tempo eu não recebia um abraço desse jeito?
Eu abraço de volta e o agarro precisando de seus braços para não desabar. Como se eu estivesse me afogando, e Nyx, me puxando para a superfície.
Nenhum de nós fala. O silêncio não é desconfortável. É aconchegante. Como se Nyx conseguisse me reconfortar sem palavras.
Quando me sinto melhor, o afasto gentilmente e lhe digo:
-Você também me pareceu estranho-Levanto minha cabeça em sua direção-Não falou nada durante a conversa toda e só ficou me encarando. Tem algo a me dizer?-Nyx, pela primeira vez, pareceu nervoso.
-Sobre as suas...suas asas-Ele se atrapalha na fala-O que aconteceu com elas?
O arrependimento de ter falado sobre elas bate assim que ele toca no assunto.
-Olha, Nyx, sei que você está tentando ser paciênte e cuidadoso comigo, mas pare de pensar que sou uma pessoa frágil, e começe a me tratar com o respeito que mereço. Isso não vale só a você, mas para os outros. Isso já aconteceu. Acabou. Pode me perguntar qualquer coisa agora, mesmo que eu não tenha superado, me sentirei melhor em colocar em palavras sabe...-Quando ando em direção ao meu quarto, consigo senti-lo me escutanto atentamente-E respondendo a sua pergunta-Me viro, fazendo nossos corpos se chocarem. Não desvio o olhar-Foi meu pai.
-...o que ele fez?
-As dilacerou sem dó nem piedade.
Nyx paralisa subtamente. O choque fica estampado em seu rosto.
-Sinto muito, por tudo.
-É, eu também sinto-Volto a caminhar pelo extenso corredor mal iluminado-E muito.
Ficamos em silêncio até chegarmos ao meu quarto. Quando eu estava prestes a entrar no quarto, Nyx pega minha mão que estava na maçaneta, e a tira gentilmente. Ele mesmo abre a porta.
-Eu nunca achei você fraca e nunca a tratei como uma. Pelo contrário, eu a admiro muito. E eu nunca tive medo de você. Estou sim sendo cuidadoso com você, porque não sei até onde seu trauma pode chegar, nem você sabe, Júlya. Então, pegue leve com você mesma. Estarei aqui sempre que precisar. Pode contar comigo. Confie em mim-Ele implora-Confie em si mesma...-Ele sorri-Deixe seus instintos te guiarem e me chame...a hora que precisar. Mas, sinceramente, eu preferiria que você me chamasse pela noite...
Entro em meu quarto fechando a porta.
-Boa noite, Nyx-Digo fechando a porta.
Nyx ri.
-Boa noite, Júlya.
Fecho a porta e olho para a janela com uma expressão vazia, tiro minha roupa, ficando nua. Odeio dormir de roupa, não consigo dormir com elas, me sinto sufocada com o tecido em volta do meu corpo. Como se a roupa pudesse me suforcar enquanto durmo.
Deito em minha cama.
E sonho com meu pai cortando minhas asas que não terei de volta.
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O Dia em que te Conheci
Fanfic-Estamos quase chegando Akira-Uma mentira descarada para tentar manter minha irmã acordada-Aguenta só mais um pouco. -...nunca chegamos...-Senti sua respiração trêmula em minha nuca, partindo meu coração já despedaçado a muito tempo. Minha irmã e eu...