Um dia conturbado

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Na manhã seguinte, sem novidades, fui a primeira a acordar. Talvez fosse muito cedo ou o tempo estivesse nublado. Estimei que dormira cerca de três horas. Minha cabeça pulsava. Parecia que iria explodir se eu fizesse qualquer movimento brusco. Fervi a água enquanto apoiava a cintura contra a bancada e cruzava os braços observando a dança da água em processo de ebulição. "Que merda eu fui fazer?" "Reality show, Melissa?" Era só o que ecoava em meus pensamentos. E, para piorar a situação, estava fazendo papel de ridícula. A apaixonada traída.

— Bom dia. – Ouvi a voz repetir a frase três vezes e só então caí na real. Ortega.

Sentou-se na banqueta do outro lado do balcão. Seu rosto estava um pouco inchado. Seus olhos miúdos. Estava com aquela cara de quem também dormira pouco. Ele coçou a cabeça e bocejou, fazendo barulho desnecessário.

— Bom dia. – Respondi voltando a encarar a água.

— Tá surda? – Perguntou em seu tom grosseiro usual.

— Só estou com sono. – Disse tentando ignorá-lo e agradeci mentalmente pela água ter fervido. Cuidadosamente apanhei o bule.

— Coloca açúcar nisso daí, hein? – Provocou e riu.

Era algo que ele sempre falava quando me via passar café.

— Eu sei o que estou fazendo, Orteg... – Antes que eu terminasse de falar, acidentalmente bati o bule contra o mármore do balcão.

Instintivamente, Ortega tentou segurá-lo para que eu não me acidentasse. Sua reação fora imediata e, por um breve instante, percebi que tentara me proteger. Despejei cuidadosamente a água fervente no coador e nos encaramos. Rimos.

— Você é muito estabanada, Melissa. Pelo amor de Deus! – Ele disse rindo e deu a volta no balcão, ficando ao meu lado.

Eu ri, relembrando de maneira melancólica nosso relacionamento. Era sempre assim. Eu fazendo trapalhadas e Ortega evitando desastres. Ele me observou coar o café. Assim que o fiz, apanhei uma xícara, forrei com uma espessa camada de açúcar e enchi-a com o café. Entreguei-lhe.

— Muito bom. – Disse após dar o primeiro gole.

— Quer mais açúcar? – Perguntei observando-o saborear o café.

— Não, tá perfeito assim.

Voltei ao fogão e iniciei o preparo da refeição para o café da manhã. Para alguns, fazê-lo era um sacrifício, mas para mim era terapêutico. Concentrei-me para quebrar os ovos sem que nenhum esfarelasse a casca, quando Ortega interrompeu o silêncio:

— E aí, perdeu o sono pensando na noite do seu namoradinho?

— Sério, Pedro? – Encarei-o irritada.

Ele soltou uma gargalhada exagerada. Por alguns minutos eu havia deixado de odiá-lo, mas eu deveria saber. Ele não estava agindo de forma pacífica à toa.

— Sério, ué. – Debruçou-se sobre a bancada, encarando-me com um sorriso sarcástico. – Como se sentiu ao vê-lo subir as escadas para curtir a noite com a garota nova? Porra, ele nem esperou a gente memorizar o nome dela.

— Não quero falar sobre isso. – Respondi focando em tirar um pedaço de casca de ovo que havia se misturado às claras.

— Thaigo pra lá, Thaigo pra cá, Thaigo isso, Thaigo aquilo. – Disse imitando minha voz de maneira ridícula. – Viu só onde isso te levou?

— E daí, Ortega? Isso não é da sua conta. – Disse de forma mais agressiva.

— Eu tentei te avisar que ia dar merda, mas você foi otária. Ignorou.

De Férias com o Ex, MelissaOnde histórias criam vida. Descubra agora