Capítulo 5 - Fica

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ficar; v.
permanecer junto de (alguém).
"tu é labirinto, rua sem saída
me rendi a tua alma nua,
vem cá.
[...] me queira e queira ficar."

Danielle Cuttino sempre foi uma mulher de possuir sonhos gigantes, daqueles que lhe faziam suspirar ao imaginar e passar horas traçando planos de como faria para alcançá-los.
Porém, quando um pequeno barulho a acordou naquela noite, ela calçou os chinelos cautelosa e se aproximou da cozinha, não poderia ser Beka pois sua filha já tinha vindo se despedir a um tempo. Neriman Ozsoy estava ali, concentrada o suficiente nas panelas que mexia com maestria para não notar sua recém chegada. A americana suspirou com a presença, o recomeço delas não havia sido nada fácil para nenhuma das duas, mas ela ja sabia que se tudo desse certo, se as duas dessem certo, ela já havia tudo o que precisava para ser feliz.

Arrisque tudo por uma breve possibilidade, alguém certa vez disse. E ela já havia arriscado tantas e tantas vezes por coisas que simplesmente não vieram. Mas ela estava ali, invadindo sua cozinha na calada da noite, sem coragem o suficiente para falar. Mesmo após anos, Dani sentia que ainda a conhecia de fato, estava cozinhando pois lhe faltava coragem para por suas palavras para fora. Mesmo que ela já tivesse sido corajosa o suficiente para vir até ali hoje.

Decidiu-se por fim que não faria mais rodeios, merecia uma explicação mas não brigaria por ela. Sua guarda estava levantada apenas o suficiente para que Neri a desarmasse da maneira a qual sabia bem.
Recostada no batente da porta, ela apenas proferiu calmamente:

- Veio aqui para que eu te expulsasse? Ou prefere que eu te dê um pouco de esperança para depois te colocar pra fora de uma vez?

Neriman se perdeu nas palavras, uma e depois duas vezes. Dani conseguiu a ver engolindo a seco, nervosa. Sem falar nada, ela tirou as panelas do fogo com calma e se apoiou na bancada para que pudesse por seus pensamentos em ordem.

- Sinceramente? Não sei o que vim fazer aqui. O jantar foi apenas um caminho que encontrei para passar o tempo enquanto você dormia.

Essa não era nem perto da resposta que Cuttino estava esperando. Aquilo a havia magoado, ela realmente achava que pudessem conversar que nem adultas. Sua feição havia mudado um pouco e seus olhos revelavam a tristeza.

- Se não sabe o que veio fazer aqui então pode ir embora.

Ela viu a turca se aproximando enquanto travava uma batalha interna sobre dar um passo para trás ou deixá-la se aproximar.

- É mentira, está bem? Eu nunca esqueci a gente e nunca dei próximos passos. - ela falou relembrando o dia da cafeteria - eu falei aquilo para parecer estar plena mas sigo todos os dias dançando com a solidão e com a ideia de nunca mais te ter. E isso tem me matado, meu deus, cada dia mais.
Eu estou aqui hoje porque você disse que está indo embora, e eu não quero que você vá embora, mesmo que eu não seja ninguém que possa te prender aqui.

- Neri... - o seu semblante já havia se iluminado, mas, mesmo que ela acreditasse nas palavras que a loira estava dizendo, a americana ainda precisava sentir o gosto da verdade em seus lábios.

- Não, Dani, me deixa falar... Desta vez eu quero ser egoísta e se você me deixar eu vou tentar de tudo pra não te deixar ir, porque eu já não aguento mais meu coração desritmado cada vez que pensa em você.

Neriman gesticulava nervosa enquanto falava e acabou não reparando na aproximação repentina da mais nova.

Danielle colou os lábios nos de Neri.
Primeiro de leve, só para que ela parasse de falar, depois, o peso de toda a saudade a invadiu e ela aprofundou o beijo, dando passagem para as línguas se saudarem depois de tantos anos.

Through the Dark • SHORT FIC•Onde histórias criam vida. Descubra agora