Through the Dark • SHORT FIC•

Capítulo 3 - Loving you silently

"mesmo que você ligue o foda-se,
você segue sendo
a maior saudade de todos os tempos".

Uma música tocava baixinha nos fones de ouvido posicionados nas orelhas de Danielle, enquanto ela terminava suas seções do treino de perna na academia.
Pudera, talvez, não ter sido a melhor escolha deixar aquela música tocar, afinal, o ritmo dela não era o ideal para malhar, e o aleatório do seu aplicativo de músicas certamente estava lhe pregando uma peça hoje.
Porém, Cuttino resolveu prestar atenção na letra que parecia lhe chamar muito atenção.

You always said I'd break your heart (one day, one day)
Ain't it funny how the roles reversed?

Ela soltou uma risada contida, já que os papeis não haviam sido invertidos quando aquele mesmo rosto de sempre vinha em sua mente. Elas costumavam brincar que se casariam no fim do jogo, afinal, já tinham uma filha, o que seria mais um passo?
Só que este passo nunca foi dado, e Danielle tinha certeza que havia quebrado dois corações com aquela história.

I should've known it from the start (no way, no way)
I was never gonna put me first
No use in holding you from afar
If I'll just be opening other scars

Que inferno de música, ela pensava repetidamente, e por que sua vida parecia estar contida naquela letra? Não diretamente mas muito de seus pensamentos pareciam ter sido moldados por ali. Mas diferentemente do que estava sendo dito agora, havia sim muita coisa que ela poderia fazer.

So I'll gon on, loving you silently
You're not the one, but you're still a part of me
We never won, and never even really got to try.

Seus olhos se fecharam para ouvir a fundo a música, porém, alguem lhe tocou no braço levemente e esperou para ser notado.
Quando a americana se deu conta de quem era, uma Neriman com um sorriso lindo lhe esperava.

- Pandora, está pronta para irmos?

O café, Cuttino se lembrou, elas haviam combinado de irem após o treino daquele dia.
A americana sorriu com o reconhecimento do apelido e aceitou a ajuda para levantar do equipamento.
Quando as mãos se encostaram, depois de tanto tempo, a música estava novamente na cabeça da mulher.

Ela já sabia disso, mas ali veio mais uma confirmação de que ela seguia amando Ozsoy silenciosamente, mesmo depois de todo aquele tempo, mas não houvera e talvez nunca haverá outra pessoa.

x.

Havia um silêncio incômodo entre as duas mulheres enquanto elas caminhavam até a cafeteria mais próxima do clube e a americana já estava querendo voltar correndo para sua casa e se trancar em seu quarto. Mas ela não podia, havia prometido para si mesma - e para Rebeca - que estaria ali totalmente presente hoje.
Assim, resolveu puxar algum assunto qualquer para tirar aquele elefante enorme do meio das duas.

- Como foi o dia hoje? Senti sua falta nos treinos.

- Tudo tranquilo, me encontrei com a Duda Lisboa pela manhã, não a via desde o jogo da Bekaw.

Ele estava ali presente de novo. Danielle sentiu o amargor na garganta só por ouvir aquele nome.
A americana não tinha nada contra a jogadora, inclusive já havia conversado com ela algumas vezes e tudo parecia normal, mas vindo de Neriman e dotado de palavras de carinho, não era normal. E ela apenas não conseguia controlar.

- Hm, legal. - Cuttino respondeu apenas. Ela sequer havia ouvido o resto da frase de Ozsoy.

A turca percebeu, e não falou mais nada até chegarem no lugar e pedir seu café para o atendente.
Dani repetiu o pedido exatamente igual.

- Desde quando você gosta de café preto e amargo? - questionou a turca.

A americana levou um tempo para responder. Ela realmente nunca gostou do café assim, mas, se o amor da um jeito na pessoa, a saudade é capaz de fazer isso também. E ela o fez.
Cuttino tomava café porque sabia que era o que Neriman gostava, e sabia fazer do jeito que ela gostava. E diversas vezes contava com isso para os piores dias, aqueles que o gosto do nome dela sempre estava na ponta da língua e a fazia querer simplesmente largar tudo e voltar atrás.

- Acho que desde aqueles dias. - ela fez menção à quando foi embora. - ele tem sido um ótimo companheiro para os dias ruins desde então.

Neriman não respondeu de imediato, mas devolveu com outra pergunta.

- E o que estamos fazendo aqui, afinal?

- Achei que pudéssemos conversar, não sei, talvez esclarecer algumas coisas?

A turca se aproximou, buscou as mãos da americana por cima da mesa e as segurou entre as suas.

- Dani, o que você quer esclarecer? Quer falar mais uma vez que me largou a mais de dez anos atrás? Ou que sente muito por que sabe que poderíamos ter dado muito certo?
Eu já não quero mais ouvir isso, estou bem com isso agora e não quero ter que reviver lembranças que me custaram muito pra esquecer.

- Por que aceitou vir então?

- Porque eu faria de tudo pela Bekaw, e parecer que estamos bem significa muito pra ela, talvez mais do que possamos imaginar.

Neriman suspirou fundo, aceitou seu café que já veio embalado para a viagem como ela havia pedido anteriormente, e falou por fim:

- Todo mundo já deu próximos passos, ou fechou portas do passado, entenda como quiser, só acho que está na hora de você fazer isso também.

Ela se levantou, deixou algum dinheiro sobre a mesa e saiu, deixando Cuttino lá parada.
O café da americana permaneceu lá intocado, enquanto ela apenas ficou sentada, com os olhos na janela observando o caminho que Ozsoy tinha feito ao sair pela porta.

Era bom tentar, mas era bom tentar sabendo que haviam chances de dar certo. Essa era a expectativa de Cuttino, ao apresentar um café quente, tentar depositar palavras de conforto e receber somente tempo e ainda mais espaço.
Se ela soubesse não o teria feito, e talvez não estivesse agora chorando no meio de desconhecidos em uma cafeteria pequena, esperando sua filha chegar para lhe oferecer apoio.

Danielle já havia caído muitas vezes, e em todas elas seus braços suportaram a queda e lhe ajudaram a erguer novamente. Mas ela sabia que ali ela não conseguiria suportar sozinha, e foi quando Rebeca chegou, lhe oferecendo um abraço e palavras de carinho, prometendo que sempre estaria ali para ela e que a ajudaria a se erguer novamente.

O próximo passo ela nunca conseguiria dar sozinha, mas ter alguém ali já a fazia ter esperanças de que amanhã algo dentro de si iria parar de doer tão constantemente.

.
.
.
________________________
oi pessoal,
como estamos?

me doeu muito escrever esse capítulo mas ele é muito importante pro rumo que a historia vai tomar

A música citada no meio é Loving you silently- Kira Kosarin

espero que tenham gostado e sofrido assim como eu hahahah

até o próximo!