Capítulo 4 - Deixo

219 43 37
                                    

"lembro daquele beijo que você me deu,
e que até hoje está gravado em mim.
e quando a noite vem, fico louco pra dormir
só pra ter você nos meus sonhos, me falando coisas de amor."

"Teria sido aquela a decisão certa?" Neriman pensava diversas vezes, enquanto seu corpo não era capaz de fazer nenhum tipo de movimento além de olhar o sol se por pela janela da sala.
Ela sabia que pudera ter sido dura demais com Dani no último encontro que tiveram, quando a disse que estava na hora de seguir em frente. Porém, como iria pedir que Cuttino seguisse em frente se nem ela mesma havia conseguido dar esse passo? Todos sempre foram em falso.

Tudo o que ela conseguia fazer agora era lembrar. Ela lembrava dela, lembrava delas, do primeiro beijo trocado e do aconchego dentro do abraço que ela mais sentia falta. Agora, com a noite aos poucos caindo na cidade, talvez já fosse muito tarde para mostrar que estava arrependida e que sentia, ainda sentia muito. Ela esperava que Danielle nem cogitasse em seguir seu conselho de dar o próximo passo, pois Neri sabia que seria quase impossível fazê-la voltar atrás.
Nesta noite ela teria que se forçar a dormir enquanto seus pensamentos corriam soltos para somente uma direção, mas, quando o dia chegar, não queria ter de deixá-la ir.

____________________

O dia havia chego, e Ozsoy sentia que havia a deixado ir. Primeiro um dia e depois outro, que se tornaram semanas de silêncio e distância.
Nenhuma aproximação estava parecendo ser eficaz, porém, o que a turca estava esperando, afinal? Algumas flores deixadas estrategicamente no armário, juntas de poemas de perdão não seriam o suficiente. Ela sabia disso, e estava tentando ser suficientemente boa enquanto sua vergonha e receio não a deixavam avançar mais.

Porém, o coração da turca batia no ritmo de uma escola de samba no meio da Sapucaí cada vez que ouvia a voz dela, ou a via passar, mesmo que seus olhares já nao se cruzassem mais havia um tempo.
Neriman havia pego o costume de vê-la por todos os lugares e nas pequenas coisas.
No café que tomava, no cheiro do perfume que por vezes insistia em passar por seus instintos e nos instantes em que pensava que estava a vendo, mas era somente um rosto parecido no meio da multidão.

Foi só quando a americana reuniu todas as colegas de clube para fazer um anúncio que Ozsoy pensou que as coisas não poderiam se acertar nunca mais. Ela caminhou a passos lentos para o meio da roda e, com a voz levemente embargada, anunciou que estaria deixando o clube nas próximas semanas.
A turca deu um passo para trás com o baque da notícia, e decidiu que não ficaria mais ali para ouvir mais sobre o seu pesar.
Ela pediu dispensa do clube pelo resto do dia e se afundou em sua casa assim que passou pela porta. Seu cérebro se forçou a dormir durante algumas horas e quando acordou a noite já caía pela capital mineira, tão escura quanto os pensamentos porém não tão frias como outrora estivera, pois ainda havia uma esperança.

E com aquele pouco de calor invadindo o seu peito ela saiu de casa. Decidiu que não compraria nada pois suas palavras deveriam bastar por suas mãos vazias.

Quando chegou, o porteiro estava avisado que não deveria deixá-la subir, mas ele já conhecia as duas mulheres de muitos anos, portanto queria também que as coisas se resolvessem.
Quando Neri chegou no andar certo, após ter subido pelas escadas para poder adiar um pouco mais o seu fim, ela estava prestes a bater na porta quando ela foi aberta por Bekaw, que saiu de lá e fechou a porta atrás de si.

- Você é realmente a última pessoa que eu esperava ver aqui hoje. Mas não me surpreende que tenha sido a primeira a vir. - disse a garota.

- Como ela está?

- Não pergunte isso para mim. Você já esta aqui, afinal, vá perguntar a ela.

- Me desculpa, filha. Eu sei que você sabe de tudo e...

Through the Dark • SHORT FIC•Onde histórias criam vida. Descubra agora