O gabarito

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Cristine estava com a aparência tão abatida que nem parecia que já era sexta-feira naquele inferno acadêmico que costumamos chamar de ensino médio.

Evitei conversar com ela ou até mesmo tentar animá-la de alguma forma. Na sua testa estava estampado o mais nítido ''deixe-me sozinha para morrer em paz''.

Percorri todo o pátio com os olhos atentos, esperando ver o crápula destruidor de vidas e desvirginador de moças iludidas do ensino médio. Tudo bem, talvez eu estivesse sendo um pouco extremista demais, mas já estava farta daqueles populares,  — incluindo Jungkook — andarem por aí como se fossem donos da escola, e no mais extremo de seus egos arrogantes, donos do mundo.

Você pode estar pensando que isso é uma lição para vida os ensinar, para a mãe deles os ensinar, ou até para Deus os ensinar. Mas, não. Eu quero fazê-lo provar do próprio veneno e fazer justiça com as próprias mãos. Eu não iria medir esforços para isso.

Como de costume, lá estava ele no pátio, fornicando com uma garota qualquer; esta que encontrava-se entre a parede e o braço de Jungkook. Ele sorria, com seu maior sorriso cafajeste disfarçado de garoto meigo. Ele quase se passava por um, de fato; seu semblante beirava à expressão mais angelical e divina possível. Tão falso.

— Psicopata. — murmurei.

— O que disse? — Cristine fitou-me, curiosa.

— Eu disse obrigada. — falei sem pensar.

— Quê?

— Obrigada por ser uma ótima amiga por tanto tempo. — retruquei sem muita certeza de que aquele era o momento propício pra declarações. Só não podia deixar Cristine perceber o meu plano maligno para com Jeon Jungkook.

Era certo que ela tentaria me impedir, não por ciúmes ou algo do tipo, pois isso não aconteceria na nossa amizade. Mas, talvez, simplesmente por ser trouxa o suficiente para não querer o coração do dito cujo quebrado em pedacinhos.

— Tá com febre? Bebeu? — ela respondeu, demonstrando um bom humor que eu não havia visto desde que Jungkook terminara o seu casinho com ela. — Droga, estou atrasada pra aula! — afirmou, fitando seu relógio de pulso. — Te vejo depois. — correu em direção a entrada da escola.

Continuei a caminhar despreocupada, pois desde que o professor substituto assumira o posto das aulas de biologia, nenhum aluno se preocupava em chegar no horário, visto que o próprio professor se atrasava com demasiada frequência.

Retirei um monte de papéis, contendo minhas anotações de revisão para a prova de matemática que ocorreria no quarto e último horário. Como os deuses ou qualquer divindade que exista no mundo nunca estiveram ao meu favor, senti naquele momento uma ventania agressiva soprar, levando os meus papéis para longe; um por um, voando ao vento.

— Merda. — corri desajeitada como a típica desengonçada que sou. Tentei recolher o máximo de papéis que voaram para longe, alguns pousando no chão. Ainda faltava um, que parecia fazer questão de fugir de mim com mais voracidade. E lá estava eu, correndo alguns quilômetros atrás de uma folha de papel.  — Que ótimo... — murmurei quando vi o papel pousar elegantemente na mesma em que estavam Jimin, Jin, Yoongi e Taehyung. — Mil vezes droga. — sussurrei para mim mesma enquanto caminhava em direção ao squad da realeza, que, a esta altura, já me fitava com sorrisos irônicos.

Taehyung foi o primeiro a sacar a situação e de imediato pegou o papel sobre a mesa.

— Acho que isso é meu. — indaguei, enquanto pausava contra minha vontade e também xingando mentalmente todos os nomes possíveis, de frente para os quatro garotos.

— Loreta Houston. — Tae saudou, abrindo um sorriso detestável nos lábios. — O que temos aqui... — fitou a folha de papel em sua mão. — Revisão para a prova de matemática. Que fofo. Nerd como sempre. — concluiu, fazendo um biquinho nos lábios.

— Me devolve. — estranhamente paciente, estendi a mão para pegar a minha folha, mas algo que estava nas mãos de Yoongi me chamara a atenção.

— Espera aí... — puxei o papel diferenciado das mãos de Yoongi, que me olhou assustado.

— Me devolve isso, garota. — ele tentou puxar, mas consegui me afastar em tempo. Fitei todo aquele papel e sim, era exatamente o que eu estava pensando. Eles possuíam o gabarito da prova de matemática que só iria ocorrer no último horário. Observei com mais clareza a situação e notei que Jin e Jimin escreviam as respostas em seus braços, escondendo por baixo das mangas de seus moletons.

— Vocês vão colar! — mal percebi quando soltei aquela frase o mais alto do que deveria.

— Ei, garota! — grosseiro, Jimin puxou a folha de minhas mãos. — Isso não é da sua conta. — concluiu com a voz alterada. Todos os garotos pareciam aflitos e com seus rostinhos joviais mostrando aquela expressão infantil de criança que acabara de aprontar.

— Não é da minha conta, mas talvez seja da conta da diretora. — abri o sorriso mais sincero e satisfatório da minha vida enquanto virava-me preparada para soltar o famoso verbo e acabar com a festinha do quarteto não fantástico. Todavia, minha alegria durara pouco, tão logo senti a mão de Jimin puxar-me pelo braço.

— Nem ouse... — ele murmurou.

— Qual, é Loreta. Você pode pegar as repostas também, não precisa ser tão dramática. — Tae se meteu, abrindo um sorriso altamente falso em minha direção. Nem parecia o mesmo garoto que estava prestes a fazer chacota comigo minutos antes. Então Yoongi aproximou-se de mim, colocando o braço em volta do meu ombro, forçando uma simpatia que todos sabíamos que ele não tinha.

— Vamos resolver isso de modo mais eficaz. Me diz, o que você quer pra ficar de boquinha fechada? — ele questionou, passando o polegar nos meus lábios, que formavam um bico emburrado não proposital.

Todos os outros três pareciam aflitos e ansiosos a me fitar, aguardando uma resposta ligeira de minha parte. Para minha sorte, o galo rei vulgo rei do galinheiro — segundo apelido que coloquei carinhosamente para me referir a Jungkook e os quatro baba ovos — não encontrava-se presente. Foi quando recordei-me de Cristine falando:

''... Acho que as únicas pessoas que Jungkook realmente amou e ama na vida, são aqueles quatro súditos baba ovos dele''.

Podia parecer estranho, mas completamente eficaz.

Quem melhor do que os próprios melhores amigos de Jungkook para me mostrar o necessário para que o crápula caía de joelhos por mim? Afinal, cada um deles deve ter algo pelo qual Jeon possuí afeição.

Obviamente, uma relação de amizade se diferencia de uma relação amorosa, mas chega perto.

Foi então que a ideia pairou em minha mente como uma lâmpada que se acende. Fitei cada um daqueles rostinhos bonitos e abri o meu mais novo sorriso coringa psicopata assassino.

— Quero que me ajudem a conquistar Jungkook. — ordenei, calmamente.

Four Rules (jjk) (oc) (pjm)Onde histórias criam vida. Descubra agora