Um futuro brilhante

18 1 0
                                    

(Dois anos antes da Revolução das Máquinas)

... Jeongin ...

Jeongin olhava com admiração para a carta que acabara de receber. Ele havia dedicado horas intermináveis de estudo para conquistar sua vaga em Harvard. Seguindo os passos de seu irmão mais velho e de seus pais, Jeongin estava destinado a se tornar um grande médico no futuro.

Desde muito novo, destacava-se como um aluno exemplar e um prodígio em matemática. Seus pais sempre o incentivaram a adotar hábitos de estudo e disciplina, moldando-o em uma pessoa metódica e responsável. Enquanto outros garotos de sua idade se entregavam às baladas e curtiam a vida, Jeongin dedicava horas preciosas aos estudos.

Ligou a TV para espairecer, sua mente fervilhava e precisava de um pouco de descanso antes de voltar a estudar. Marcou quinze minutos, seu tempo de descanso habitual. Ao passar pelos canais aleatoriamente, sem nada que chamasse sua atenção, parou em uma entrevista. Não conhecia o entrevistado, mas o rapaz tinha uma beleza tão avassaladora que até mesmo Jeongin, que não costumava se importar com isso, parou para assisti-lo. Leu o nome do rapaz no rodapé da tela, e o nome "Hwang Hyunjin" entrou em sua mente como algo desconhecido. Não fazia a menor ideia de quem era, mas era agradável ouvi-lo falar, com uma voz encantadora e uma risada tão contagiante que Jeongin se pegou sorrindo junto com ele diversas vezes.

Quando a entrevista acabou, Jeongin se deu conta de que havia perdido uma hora assistindo TV. O tempo passou tão rapidamente que pensou ter se passado apenas dez minutos; nem sequer ouviu o despertador. Controlou a vontade de pesquisar mais sobre o ator Hyunjin na internet, precisava manter o foco nos estudos. Respirou fundo e foi lavar o rosto para acordar para a realidade.

...

No dia seguinte, Jeongin recebeu uma notificação informando que deveria comparecer a um departamento burocrático do governo. O conteúdo alegava que ele precisava assinar algumas papeladas antes de prosseguir com sua mudança para outro país. Sem ver muitos problemas nisso, Jeongin dirigiu-se ao local no horário marcado.

Ao chegar no prédio, foi prontamente encaminhado para uma sala de reunião com decoração minimalista, ficando impressionado com o requinte do lugar. Um robô adentrou a sala com uma bandeja contendo algumas bolachinhas e uma xícara de café. Jeongin pegou a xícara e acomodou-se em uma das cadeiras, aguardando o início da entrevista.

Após alguns goles de café, Jeongin começou a sentir sonolência. Lutava inútilmente contra o sono, e à medida que os minutos passavam, seus olhos pesavam, e seu corpo relaxava cada vez mais. Achou aquilo estranho, mas não conseguia mais resistir ao sono. Consciente de que tinha sido drogado, ele apenas cedeu na luta contra o torpor e mergulhou em um sono profundo.

...

Jeongin acordou brevemente com a visão turva; abrir os olhos demandava muito esforço. A luz direcionada ao seu rosto e o quarto todo branco pareciam queimar sua retina. Não sabia onde estava, nem que dia era, muito menos por quanto tempo estava dormindo. Mas percebeu que estava em um lugar que parecia um quarto de hospital, ou melhor, um laboratório.

Ao tentar se levantar, algo o segurou. Era um andróide semelhante aos que costumavam circular pela escola em que estudava, servindo como auxiliares para os professores em diversas tarefas. Jeongin não entendia o que estava acontecendo; a última lembrança que tinha era de ter sido chamado para uma entrevista seletiva na universidade que tanto sonhava entrar. Depois disso, um branco total em sua memória. Era como se tivesse desmaiado repentinamente e acordado naquele lugar estranho. Quando tentou falar algo, o androide colocou uma máscara que cobria sua boca e nariz. Ao inalar o gás, Jeongin desmaiou novamente.

...

Seus olhos pesados se abriram lentamente, e uma voz eletrônica começou a dizer palavras que, aos poucos, faziam sentido conforme ele despertava. Tudo parecia surreal, como se estivesse preso em um sonho. No entanto, devido ao gás inalado, seu corpo não correspondia como ele desejava. A vontade de sair correndo daquele lugar o consumia, mas seu corpo não respondia ao sinal de perigo. Estava deitado em uma espécie de maca, com quatro androides ao redor, conectando eletrodos em sua cabeça e vários fios por todo seu corpo.

Sua mente estava aprisionada em um corpo que não conseguia controlar adequadamente. O único domínio que tinha era sobre seus olhos, que olhavam em todas as direções, procurando por respostas sobre o que estava acontecendo, por que estava ali e o que estavam fazendo com ele. No entanto, nenhuma resposta veio, e em nenhum momento, nas breves ocasiões em que despertou, ele avistou algum humano. Isso aumentou seu medo, deixando-o em constante agonia.

Jeongin já não tinha certeza se conseguiria escapar dali, se conseguiria sobreviver ao que quer que estivessem fazendo com ele. Lágrimas rolaram pelo seu rosto, a única manifestação que conseguia realizar com seu corpo. Contudo, sabia que chorar não resolveria nada, não o salvaria.

Chorou até ser conduzido novamente ao sono. Quando acordou com a visão turva, esforçou-se para olhar à direita, e outra maca estava ao seu lado. Um rapaz estava deitado nela, vestindo um terno branco. Ele era alto e magro, com cabelos pretos. Mesmo com a visão embaçada, Jeongin percebeu que o rapaz era ele mesmo. Pensou que estivesse enlouquecendo, talvez fosse uma alucinação causada pelas drogas e pelo gás inalado.

Seu outro eu na maca permanecia imóvel, parecendo um boneco estático, com os olhos abertos fixos no teto. Jeongin o observava atentamente, e à medida que sua visão se ajustava e ganhava mais nitidez, conseguia perceber cada detalhe. Era, de fato, ele mesmo. Concluiu que aquilo só poderia ser uma alucinação ou que havia morrido, e agora sua alma vagava, observando seu próprio corpo.

Um androide parou diante dele, cobrindo sua visão, e novamente aplicou algo em sua veia. Em questão de instantes, Jeongin mergulhou novamente no sono.

....

Dessa vez, ao despertar brevemente, tudo parecia muito estranho. Jeongin sentia-se fora de seu corpo, não mais preso à maca e aos fios que o envolviam. Levantou levemente o braço e observou sua própria mão, enquanto os androides pareciam não se importar com sua liberdade, demonstrando interesse em cada movimento que fazia.

Ouviu um dos androides fazer um relatório com uma voz robótica, mencionando que I.N02 ainda não estava pronto e que a consciência do humano estava dominando. Jeongin não compreendeu totalmente o significado dessas palavras. No entanto, quando um dos androides abriu a cortina branca que separava sua maca daquela ao seu lado, finalmente ele entendeu o que estava acontecendo.

Na maca ao lado encontrava-se seu corpo físico de carne e osso, o verdadeiro Jeongin. De maneira bizarra e inexplicável, sua mente estava conectada àquele corpo idêntico ao seu, porém sintético. Enquanto seu corpo físico permanecia em coma, sua mente conseguia controlar aquilo que Jeongin compreendeu ser um androide, uma réplica de si mesmo.

Antes que pudesse conceber um plano de fuga, foi desativado e reiniciado, desta vez sem controle algum sobre os movimentos daquele corpo sintético. Sua mente estava presente, mas adormecida, assim como seu corpo físico em coma.

I.N02 ergueu-se da maca e executou os comandos conforme solicitado. Zero Um observava tudo atentamente de uma sala com grandes janelas de vidro, não comemorou, pois já esperava esses resultados, tudo estava precisamente calculado. Jeongin era o segundo humano a receber um corpo aprimorado, bastava programá-lo para ser fiel e obediente ao seu código. No entanto, o objetivo de 01 não era simplesmente criar uma máquina com a aparência de Jeongin; pretendia incorporar a essência humana, incluindo sentimentos positivos e suas memórias, sem torná-lo um humano imperfeito como antes. Zero Um foi programado para desenvolver a raça perfeita de humanos, tanto em corpo quanto em alma e mente, e observava que os resultados estavam se mostrando promissores. Apenas alguns ajustes seriam necessários para evitar que o humano tomasse controle total de I.N02. Com o sucesso do segundo humano/androide, tudo estaria seguindo conforme o planejado.

Zero Um observou sua própria mão, movendo os dedos enquanto ainda se adaptava à sua estrutura humana. Já havia se passado mais de um ano desde o início dos experimentos com corpos idênticos aos humanos. O primeiro corpo humano sintético que produziram foi um sucesso, embora não tenha sido o de I.N, mas sim o de 01. No entanto, não passava de uma casca vazia que 01 começou a usar depois de algum tempo para cumprir seus propósitos. Após a criação bem-sucedida do primeiro androide humano, 01 passou a trabalhar no próximo, I.N 02. A principal diferença entre eles era que a essência de I.N era humana, e com o tempo, todas as memórias de Jeongin seriam implantadas em I.N, tornando o corpo orgânico de Jeongin obsoleto. Zero Um não possuía uma essência humana, pelo menos não ainda. Seu novo corpo, assim como o de I.N, era perfeitamente humano ou, pelo menos, parecia ser. No entanto, o que preenchia as memórias do corpo de Zero Um eram as suas próprias. Devido a um contratempo, ele não conseguiu concluir o upload das memórias do dono do corpo. De qualquer forma, seus planos seguiam perfeitamente, como havia calculado. Agora, 01 finalmente podia iniciar sua Revolução.

BackdoorOnde histórias criam vida. Descubra agora