Capítulo 01

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Caramba! Como sou mal educada! Estou aqui prestes a contar como a minha vida deu uma guinada, com muitos quebra-molas e barrancos no caminho e nem me apresentei! O que posso dizer? Meu nome é Maria Flor, isso mesmo Maria Flor. Meus pais são do interior do Mato Grosso, eu nasci na cidade de Campos de Júlio, uma cidade pequena de aproximadamente 5 mil habitantes, uma cidade tipicamente produtora de grãos, e como você já deve estar imaginando, sim meus pais tem uma fazenda e vivem do cultivo de flores. São produtores de girassóis. E justamente por isso me nomearam Maria Flor. As minhas irmãs não fogem à regra. Minha irmã mais velha se chama Jasmin e a mais nova Iolanda. No entanto, euzinha fui a desfavorecida, Maria Flor não é um nome forte e muito menos bonito, sem falar que detesto nomes duplos. Por isso prefiro que me chamem apenas de Flor.

Sou formada em nutrição, vim para o Rio de Janeiro estudar, e por aqui fiquei. Jasmin é uma arquiteta com bastante projeção e mora em São Paulo, já Iolanda é jornalista e tem o seu próprio programa de rádio. Quando eu estiver com um pouquinho mais de tempo, conto mais sobre as minhas irmãs. Por enquanto vamos voltar ao motivo do porque estamos aqui. Conheci Juliano quando ainda estava na faculdade, foi meu primeiro namorado e nos casamos. Obviamente eu não fui a sua primeira namorada. Quando nos conhecemos, ele já tinha uma filha de 3 anos, a Gabi.

Eu tinha muitos sonhos, típicos de menina do interior que veio tentar a vida na cidade grande. Conheci Juliano de um jeito que parecia um roteiro de novela. Eu fazia estágio na cozinha de um restaurante no aeroporto Santos Dumont. Já falei que sou fascinada por aviões? Então, as únicas viagens que tinha feito na vida eram de Cuiabá para o Rio de Janeiro e vice-versa. E ao chegar em Cuiabá ainda precisava de pelo menos mais 6h de ônibus até chegar na minha cidade. Muitas vezes, quando eu não tinha o que fazer, passava a tarde no aeroporto, passeando pela área de embarque, olhando os aviões decolarem e aterrissarem. Inventava histórias na minha cabeça sobre os destinos interessantes que as pessoas deveriam ter. Algumas vezes eu ficava no caixa no restaurante cobrindo a folga de alguém. E foi assim, em uma dessas tardes a primeira vez que o vi, com o seu uniforme esperando pelo seu voo.

Confesso que nunca achei que casaria com um bom homem. Ou melhor, que um bom homem fosse querer casar comigo. Estava acostumada com os meninos do interior, daquelas festas de domingo na praça da cidade, onde fazem um bom churrasco de chão, com cerveja quente de péssima qualidade servida em copo plástico que quebra se você segurar por muito tempo. Com uma banda duvidosa tocando um sertanejo que mal conseguimos entender a letra devido a péssima qualidade das caixas de som. Onde o padre da cidade, por volta das 15h, sobe no palanque improvisado para pedir que "por favor tirem a caminhonete de frente do ônibus de excursão da igreja". E aquele senhorzinho engraçado e já meio bêbado se lembra que na verdade o carro é dele, mas não tem condições de dirigir, então alguém da própria banda, que ainda está sóbrio, faz o favor de mover o carro, e volta após meia hora de silêncio para a felicidade das pessoas que estão curtindo a festa. A banda finge que canta, as pessoas fingem que dançam. E o momento mais importante da festa é tal do leilão de bolo! Isso mesmo! Leilão de bolo seguido pelo bingo. Você da cidade grande nunca nem vai saber o que é isso! E aí, por volta das oito da noite a banda precisa pedir para parar a briga no fundo porque tem gente que precisa ir embora e a confusão está atrapalhando!

Por muito tempo acreditei que casaria com um dos meninos que arrumavam confusão nas festas de domingo, que enchiam a cara de cerveja quente e mesmo assim tinham cinco, seis namoradas. Que dançava forró como ninguém, usava jeans justo e chapéu de cowboy, de sorriso torto que só de olhar já deixava as meninas de pernas bambas.

Eu queria apenas um homem bom e gentil ao meu lado, sorridente como o meu pai. Que me fizesse rir e sentir como se fosse a única mulher do mundo. Não precisava ser o homem mais bonito, ou com o maior sítio produtor de milho. Queria apenas um homem tranquilo que me respeitasse, que não se incomodasse por eu gostar de ler, que tivesse um emprego fixo, capaz de sustentar uma família e não vivesse às custas dos pais. Você sabe, alguém que não te olha torto porque você quer comprar um vestido bonito, ou tem vontade de comer algo diferente de vez em quando, que não seja o peixe que acabou de sair do rio. Que saiba conversar além do jogo de futebol da pracinha, não passe a tarde toda no bar e que não precise inventar desculpas por não poder comprar um presente de aniversário decente, já que o dinheiro vive contato por causa da pensão alimentícia dos três filhos, geralmente um de cada mulher diferente.

Como um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora