Capítulo 04

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Os fins de semana são sempre piores. A falta de rotina para quem está criando uma nova vida é a pior coisa que existe. De segunda a sexta consigo organizar o dia entre corridas na praia, café da manhã, consultório, academia, almoço, consultório novamente, casa e descanso. Aos fins de semana o horário que seria dos meus atendimentos fica vazio e ainda não sei como ocupá-los. Sorte que esse fim de semana teria um evento com apresentação medieval no Aterro do Flamengo, e alguns amigos do clube do livro combinaram de ir. Ainda estou na fase de querer combinar eventos, mas quando chego neles quero voltar para casa correndo. Não quero ficar sozinha e ao mesmo tempo não quero sair toda hora. É uma contradição que não sei como lidar. O tumulto e zumbido dos falatórios me irritam, ao mesmo tempo que o silêncio me apavora. Essa indecisão acaba me fazendo combinar de sair e me colocar em situações que não sei exatamente como me comportar.

Até que o evento foi divertido, vimos uma apresentação de luta medieval, com pessoas vestidas como cavaleiros, vestindo roupas de metal e empunhando espadas. Tinha ainda uma equipe de falcoaria apresentando suas aves e consegui uma foto com uma águia. A pior parte do encontro foi quando me convenceram a criar uma conta em aplicativos de relacionamento. A diversão dos meus então "amigos" foi criar um perfil para mim no Tinder, onde cada um deles dava uma ideia diferente para o que colocar na minha bio. Já em casa, fiquei alguns minutos, ou melhor horas, olhando o aplicativo para entender como funcionava, mas me arrependi logo em seguida. A sensação que tinha era de estar em um supermercado onde as pessoas, no caso os homens, eram os produtos expostos. Da mesma forma que eles eram os produtos, eu passei também a ser também um produto exposto na prateleira para qualquer um ver, avaliar e escolher. A questão é: será que alguém iria me escolher?

Sempre tive a impressão de que esses sites de relacionamentos eram voltados para pessoas desesperadas, e que a maioria das que estavam ali, estavam em busca de relacionamentos rápidos voltados para encontros sexuais casuais. E eu não estava desesperada. Eu estava triste, isso sim. Extremamente triste e decepcionada. Estava vendo minha vida tomar um rumo totalmente diferente do que eu havia imaginado. Havia acabado de me separar e, entrar em um novo relacionamento estava longe de ser uma prioridade. A prioridade era manter a sanidade mental, estruturar minha vida financeira e garantir que teria pacientes para me manter, isso sem falar que em algum momento precisaria visitar meus pais em Campos de Júlio para dar uma explicação dessa reviravolta que a minha vida tinha tomado.

No entanto, passei a noite de domingo deitada, olhando para o celular, passando o dedo de um lado para o outro no aplicativo, questionando a minha sanidade mental por não ter desinstalado. Jogando homens para um lado ou para o outro, conforme os considerava atraentes ou não, puramente pela estética, sem me dar ao trabalho de pensar sobre suas próprias biografias. Péssima forma de matar o tempo em uma noite de domingo. Fui dormir tarde, acordei cansada e odiando ter instalado o aplicativo no celular.

Apesar de ter dormido pouco e não ter a menor disposição para correr, resolvi levantar assim mesmo e, pelo menos dar uma volta pela praia. Afinal foi por isso que escolhi esse apartamento. Coloquei a roupa de corrida e ao invés de vestir um tênis, coloquei um chinelo e andei até a praia. Desci na areia caminhando perto das ondas. Ainda estávamos no verão e ver a água indo e voltando era como ver minhas angústias sendo levadas embora. Voltei para casa para iniciar o dia. E na pausa dos atendimentos fui na academia, precisava compensar a falta de corrida, apesar da dor de cabeça causada pelo pouco sono. Jamais contaria pro Will que havia me inscrito em um aplicativo de relacionamentos mesmo curiosa para saber sobre a experiência dele no assunto.

De volta ao consultório, vi Camila pela primeira vez no dia, enquanto eu estava sentada na copinha comendo minha marmita após o meu treino, ela entrou segurando um enorme copo de café da Starbucks que mais parecia um milk-shake.

Como um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora