Capítulo 03

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É isso, sou uma jovem senhora, no auge dos seus trinta anos, divorciada sem saber o que fazer. Sem ter onde morar. E ainda preciso atender meus pacientes como se nada tivesse acontecido. Ah, você quer saber o que aconteceu naquela segunda-feira? Eu entulhei todas as minhas coisas na casa da minha irmã e cheguei atrasada para o primeiro atendimento do dia. Sorte que tinha apenas 4 agendamentos. E ainda descobri que o trajeto Barra x Centro é extremamente exaustivo sem carro!

Juliano apenas me mandou uma mensagem com a foto do estado que encontrou a sala e eu não respondi. Dez anos jogados no lixo, assim como a minha sanidade e autoestima.

Eu tinha duas coisas a resolver: precisava alugar um apartamento para mim, mais perto do trabalho e pegar meu carro de volta. Então conversei com um conhecido que é advogado, e faz parte do meu clube do livro, que me orientou a mandar uma mensagem para o Juliano caracterizando minha boa vontade em realmente estabelecer os termos do divórcio e pegar meu carro de volta. Então assim eu fiz. A vontade era de esganar aquele desgraçado! Mas precisei engolir a raiva e escrever um texto mostrando que eu sabia lidar com a situação de forma adulta e controlada.

Com toda a sua própria autoestima intacta, Juliano respondeu a minha mensagem inicial somente com um "precisamos conversar sobre o que você fez com o apartamento". E eu argumentei que iríamos conversar somente sobre os termos da separação e a devolução do meu carro, que os danos deveriam ser entendidos apenas como uma indenização pelas traições (se eu acredito que a Amanda era a única? Obvio que não, apenas foi a única que eu descobri, fora o consumo de pornografia) e não entrariam nas questões a serem resolvidas. Por fim acordamos que eu teria meu carro de volta, meu consultório não seria divido com ele e eu não iria brigar pelos bens que ele herdou com a morte da mãe. Cada um viveria sua vida e ponto final. Finalizei nossa troca de mensagens me sentindo uma negociadora nata. Nos encontramos pessoalmente somente para ir ao cartório assinar a papelada do divórcio uma semana depois e nunca mais nos vimos.

Aposto que não era isso que você esperava. Nem eu. Muito menos eu. Achei que em respeito a todo o tempo que passamos juntos ele iria ao menos me perguntar como eu estava ou o que faria da vida, se já tinha onde morar, qualquer coisa. Eu esperava qualquer coisa! Que pelo menos ele falasse alguma coisa! Foi tão fácil para ele jogar nossa história juntos pelo ralo. Eu realmente não esperava. Lutava para me manter forte, não sucumbir pela dor do abandono e do vazio que sentia em meu peito. Eu sei, fui eu quem saiu de casa, mas a gente sempre espera que o outro queira ao menos tentar se conciliar.

Já li tantas histórias de amor. Esperava que no mínimo ele falasse um "sinto muito" ou "me desculpe pela forma que agi, não deveria ter te traído", sei lá, agisse de forma gentil. Eu esperava qualquer coisa diferente do que realmente aconteceu. Esperava qualquer coisa ao invés dele fingir que nunca fomos casados e eu não existia. De uma coisa eu tinha certeza: agora eu era a nova louca para a família dele, nos últimos anos havia sido a mãe da filha, e agora seria eu. Todos iriam passar a mão na cabeça dele, dizendo que ele não conseguia arrumar uma boa mulher, com pena do coitado. E era isso que me deixava com raiva! Eu sei que o problema não fui eu. "Nossa a Flor fez isso? Quem iria imaginar!" Esses seriam os comentários. Quer saber? Que se exploda. Quero que aquela família toda vá para o inferno.

Enquanto isso eu continuava enchendo a casa de Ioiô de comida, cozinhando como se fossemos um batalhão. A geladeira não suportava mais nada! E a despensa estava explodindo. "Apesar de amar ter você aqui, eu não aguento mais comer Flor!" e "Estou me sentindo em casa, você cozinha igual a mamãe, mas por favor, nada mais de bolos e doces", era o que ela me falava quase todos os dias. Resultado: Precisei começar a distribuir comida para os porteiros. Em menos de um mês encontrei um novo apartamento, saí da casa da Iolanda na Barra e aluguei um apartamento de um quarto no Leme, com uma cozinha decente. Assim poderia usar o sistema de bicicleta compartilhada da cidade em frente de casa até a estação de metrô em Copacabana ou Botafogo e seguir de metrô para o Centro, até chegar ao consultório. Como estava perto da praia, poderia voltar a correr e voltar para uma rotina de atividade física. Sou nutricionista! Preciso mostrar meu estilo de vida com uma boa alimentação, e mais do que nunca preciso de pacientes.

Como um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora