Prólogo

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Sexta-feira, treze de janeiro. Este deveria ter sido um dos dias mais importantes da minha carreira. Finalmente tomei coragem e abri o meu próprio consultório em sociedade com uma amiga médica. Segui o esperado pela sociedade e fiz uma pequena festa de inauguração, chamei alguns amigos e colegas de profissão. Alguns dos médicos que costumam recomendar as minhas consultas. Alguns dos meus pacientes antigos. E também foi o dia que larguei o meu marido, portanto, foi realmente o dia em que a minha vida mudou.

Sabe aqueles momentos onde devemos ouvir nossa intuição? Durante as últimas semanas um pensamento constante cismava em passar pela minha cabeça: ano novo, trabalho novo, vida nova, tudo novo. E olha, eu não tinha o que reclamar da minha vida. Tenho uma clientela constante, parceria com diversos profissionais da área de saúde e estética. Sou relativamente bem sucedida na minha carreira como nutricionista.

Acreditava viver em um casamento tranquilo, pensando que o problema era eu. Quando pedia para conversar sobre algum assunto, Juliano falava que tínhamos problemas mais urgentes para resolver. Vamos comprar um apartamento? Agora não, estou com muita demanda de trabalho. Quando vamos começar a planejar uma família? Estamos em crise no setor aeronáutico. Podemos fazer qualquer planejamento para o nosso futuro juntos? Você está louca? Preciso dar um novo curso de tráfego aéreo, não tenho tempo para pensar nisso agora.

Enfim, não tínhamos uma vida ruim, viajávamos a cada seis meses para algum destino fora do país, alternando entre Estados Unidos e Europa. Nossos únicos planos em comum eram as próximas férias. Dez dias em um lugar qualquer. E tínhamos alguns casais de amigos com quem saímos toda semana para jantar.

Não sei se você sabe, mas empreender e abrir um novo negócio requer bastante planejamento, coragem e investimento. Passei noites acordada pensando em estratégias de marketing, estudando lançamentos digitais, já que não podia planejar uma família. Em muitas coisas na minha vida tento seguir aquele velho pensamento popular: não conte pra ninguém, faça o seu, com calma, constância e o resultado vem. Eu sou uma pessoa discreta, não gosto de badalação, de festas. Gosto de passar meu tempo livre em casa, sozinha, lendo, cozinhando alguma receita nova. Meu instinto só dizia: abre o consultório, começa a atender e pronto.

Durante a fase de projeto do consultório, Juliano não me acompanhou nenhuma vez. E talvez aí eu devesse ter percebido que algo estava errado. Somente dizia que acreditava no meu bom gosto. Quase toda semana eu e Camila íamos à obra, ver o acabamento, receber os móveis. Ela é mãe solteira de dois adolescentes, mas eu era casada. Acreditava que meu marido deveria me acompanhar, reclamar dos pedreiros, falar mal do marceneiro quando eu dissesse que o puxador das gavetas veio errado. Mas não, ele apenas me dava um beijo na testa e falava que tudo seria perfeito e não devia esquentar minha bela cabecinha.

Nesse ponto eu e Juliano éramos muito diferentes. Ele parecia um vereador, sempre disponível e disposto a agradar a todos e a qualquer um. Em todos os lugares que íamos, ele sempre encontrava alguém. Ex-amigo de escola, ex-colega de faculdade, aquele cara do cursinho, o primo de um amigo, o colega do colega do colega do primo. Uma vez, visitando uma caverna em Luxemburgo, ele encontrou uma ex-professora de algum curso que fez e me deixou ali sozinha, como se eu fosse mais um pedaço qualquer de rocha incrustado na parede, enquanto conversava com ela sem ao menos me apresentar.

A família dele era daquelas que tinha centenas de pessoas, onde as festas e encontros de família eram sempre em um clube ou simplesmente fechavam um restaurante ou hotel para o fim de semana. Para todas as ocasiões precisava ter uma festa, uma comemoração. E foi assim que surgiu essa inauguração do meu novo consultório e clínica de estética em parceria com uma amiga médica endocrinologista.

Nossos planos eram que o paciente seria atendido com ela, mostraria seus exames e depois passaria por mim para um novo plano alimentar. Seria quase um atendimento conjunto, de forma a conseguir a melhor orientação possível em prol da estética, saúde e emagrecimento. Se fosse necessário, seria encaminhado para algum profissional da área de estética.

Minha ideia original era eu mesma preparar a comida, mas como a festa tomou uma proporção gigantesca, contratei um buffet com canapés fitness porém extremamente gostosos, e Camila, minha sócia, se encarregou das bebidas. Espumantes da melhor qualidade. Havíamos lançado o consultório nas redes sociais na segunda, e na quarta da mesma semana, já tínhamos a agenda do mês lotada. Éramos um sucesso antes mesmo de começar.

Eu não queria uma festa. Não precisava de uma festa. Era apenas para constar. No entanto, fiquei feliz em ver todas aquelas pessoas reunidas desejando o nosso sucesso. E foi por isso que Juliano estava lá, participando da festa e desse momento feliz. Já a história do porque nos separamos, ah... essa é um pouquinho mais complicada. 

Como um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora