Como um Girassol

Capítulo 5

Apesar de me esforçar para não ficar pensando no passado. De tempos em tempos as memórias vem de repente, me fazendo esquecer completamente do presente. É engraçado como parece que nossa mente tenta nos poupar dos detalhes tristes, nos enganar em relação ao que realmente aconteceu.

Eu tentava buscar sinais de um relacionamento abusivo desde que meus amigos deram a entender que era isso que pensavam sobre o meu casamento.

No entanto, o dia do embarque chegou rápido demais. Antes que eu me desse conta, era sexta-feira e estávamos entrando em um armazém no Pier Mauá, era uma confusão de gente amontoada. Filas e filas que não acabavam mais.

Eu andei poucas vezes pela área do Boulevard Olímpico, lembro quando inauguram os armazéns reformados para a Olimpíada, com murais pintados pelos mais diferentes artistas plásticos e de ter vindo vê-los e fotografá-los. Vários dos armazéns eram locais de exposições ou de eventos. Eu gostava de ver as cores e o espaço aberto, hoje utilizados em sua maioria para atividades físicas, principalmente corridas.

Fomos seguindo as outras pessoas com malas até o Armazém 03, onde deixamos nossa bagagem e nos direcionaram ao Armazém 05 para o check-in.

— Vem comigo! Quando comprei, só tinha a opção da Experiência Esplendorosa, que é uma modalidade mais exclusiva, a gente não precisa enfrentar fila — E assim Camila seguiu puxando a minha mão em direção ao balcão de check-in.

Nosso embarque foi tranquilo e rápido. Em menos de 20 minutos entramos no navio e chegamos em nossa cabine. Eu nunca havia viajado assim. Juliano era bastante comedido, então sempre viajávamos de classe econômica, ficávamos em hotéis baratos "pra que pagar caro só para dormir?", como da vez em que fomos a Nova York e nos hospedamos no Bronx, demorava quase uma hora de metrô para chegarmos em Manhattan para os passeios e visitar os pontos turísticos. Já havia acontecido também de viajarmos a noite para economizar a diária de hotel. Por mais ridículo que seja, ver Camila se importar o suficiente para comprar uma passagem melhor, eu sei que essa história de só ter essa opção para a nossa viagem era uma mentirinha, a conheço tempo demais para saber que o que ela falou não era inteiramente verdade, mostrava o quanto ela se importava comigo para nós divertimos em um momento difícil tanto para mim quanto para ela.

O que posso dizer do navio? A primeira coisa que percebi foi o cheiro. O navio tinha o mesmo cheiro dos cassinos de Las Vegas. Era um cheiro gostoso, familiar, que sempre me remetia a viagem e aventuras. O navio em si era um luxo só! Uma verdadeira explosão de luzes, brilhos e cores. Ao entrarmos demos de cara com um átrio enorme, que parecia muito mais um Hall de entrada de um hotel de luxo do que um navio. Tinha um balcão de recepção, onde fizeram uma nova checagem dos nossos documentos. E bem no meio do salão um bar central enorme, com uma escada de cada lado, revestidas de brilhos.

Esse salão central tinha o pé direito livre, onde podíamos ver dois elevadores panorâmicos com a visão voltada para o salão. No alto de uns quatro andares, um lustre belíssimo de cristais. Era possível ver o guarda corpo em vidro dos andares superiores. Acima do bar e entre os elevadores tinha um palco, onde provavelmente haveriam shows. Eu olhava para o alto, para todos os cantos, me sentindo uma criança em noite de Natal vendo uma loja de brinquedos. Não conseguia olhar para um só lugar, queria ver tudo. Camila segurou minha mão me conduzindo para o elevador para visitarmos nossa cabine e deixarmos nossas bolsas.

A cabine era incrível! Enorme e espaçosa, muito diferente do que eu imaginaria para um navio. Eu nunca tinha feito um cruzeiro e imaginava que as cabines fossem apertadas, com os espaços bem reduzidos. Só que a nossa cabine era maior que o quarto do meu novo apartamento! Além disso, tínhamos uma varanda com vista para o mar. Dentro da cabine tinha um champanhe acompanhado de uma enorme cesta de frutas e chocolates, além de um bonito roupão em cima de cada cama e chinelos no estilo pantufa atoalhada.