Capítulo 02

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Cheguei em casa após a inauguração que foi durante a tarde, eu não sou uma pessoa noturna. Gosto de dormir cedo, acordar cedo. Resolver todos os meus planos durante o dia.

Já Juliano, gosta da noite, de festas, de encontrar com os amigos. Frequentemente me chamava para jantar, e o jantar romântico terminava em uma esticada no barzinho com mais dez amigos.

Neste dia não foi diferente. Juliano me deixou em casa e disse que finalmente iria pegar a Gabi e levar para jantar, depois os dois viriam dormir em casa. Eu estava exausta e pedi para não ir, e ele apenas sorriu e disse que eu deveria descansar. Então, eu terminaria o dia lendo algum romance. Entrei no apartamento que alugávamos no Bairro Peixoto em Copacabana, e enquanto tirava o vestido ouvi o barulho de mensagens insistentes vindo do computador. Fui ao banheiro, tomei um banho relaxante. Sentei na cama, ainda enrolada na toalha, para ler meu livro. Mas o barulho continuava insistente. Foi quando vi o notebook, semi aberto, em cima da escrivaninha do quarto.

A ideia era apenas desligar o programa de mensagens. Eu realmente gosto do silêncio. Não sou daquelas pessoas que precisa de um barulho de fundo, seja música ou televisão, quando estão sozinhas em casa. Ao abrir o notebook para desligá-lo, me deparo com o aplicativo de mensagens do Juliano. As mensagens eram da Amanda, uma de suas colegas de trabalho, acho que ainda não mencionei o fato de que Juliano é um oficial da Força Aérea. Ele trabalha no Departamento de Controle do Espaço Aéreo, bem ao lado do Aeroporto Santos Dumont, por isso muitas vezes está transitando por lá, como no dia em que nos conhecemos. Geralmente trabalha até tarde às segundas, coisa de escala de serviço. Imaginei que pudesse ter tido algum problema no trabalho e por isso das mensagens insistentes. Qual não foi a minha surpresa ao ver que na verdade eram nudes bastante explícitas perguntando se ele iria demorar.

Vi meu mundo se quebrar. Na verdade, sacudir, como uma daquelas bolas de vidro decoradas de Natal, cheias de água. Que ao balançarmos levantam flocos brancos que demoram lentamente a cair. Era assim que eu me sentia. Sentada na cama, enrolada na toalha, ainda com o corpo molhado, vendo nudes de outra mulher para o meu então marido.

Minha mente ficou em branco. Uma letargia tomou conta de mim. Não era apenas o peso de ser traída. Eu estava sendo traída da forma mais clichê e ridícula possível: com a colega de trabalho. Com uma mulher que sabia que ele tinha família, uma filha de um relacionamento anterior, que sabia da nossa vida, das nossas viagens, que me conhecia!

Eu sabia que Juliano estava triste durante a obra da clínica, mas associei que fosse devido a recente perda da mãe e demora no processo de alienação parental da filha. A nossa vida sexual era praticamente inexistente, mas eu pensava que tudo voltaria ao normal quando meus horários estabilizassem e tivéssemos alguma resposta da justiça.

Hoje, olhando para trás, vejo que com a empolgação com a minha carreira, devo ter deixado de perceber alguns detalhes. Ainda custava a acreditar que ele havia preferido me trair a tentar resolver qualquer que fosse o problema entre nós. Afinal não estávamos juntos há 10 meses e sim 10 anos. Sempre acreditei que havia respeito entre nós, antes de qualquer outra coisa. Mas estava totalmente enganada.

Minha mente vagava por pensamentos que iam do "como assim?" em direção ao "que nojo" e "como ele pode fazer isso comigo e continuar dormindo na mesma cama que eu?" Não houve uma conversa, uma reclamação. Pelo contrário havia muito: "vou cuidar para sempre de você, mesmo se quiser parar de trabalhar" junto de muitos "eu te amo".

Devo ter demorado pelo menos meia hora até conseguir finalmente me mover. Quando consegui sair do torpor em que me encontrava, peguei uma mala de viagem e joguei algumas mudas de roupas. Este deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida. E eu estava sozinha, com o peso da descoberta, sem saber o que fazer. Sai com a mala de casa sem saber para onde ir e com a certeza de que nunca mais iria voltar. Sorte que Iolanda também morava no Rio e tinha ido à minha inauguração. Apenas segui em direção ao seu apartamento, na Barra da Tijuca, queria me afastar de casa o mais rápido possível.

Como um GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora