CAPÍTULO 2: Quando A Bicicleta Quebrou

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2015, Capitólio

Erick era um típico garoto de dez anos. Com a pele queimada pelo sol, era animado e travesso, gostando de andar de bicicleta pelas ruas e, principalmente, jogar bola em qualquer hora do dia. Porém, na nova cidade ele não encontrou uma quadra para praticar. Na verdade, ele evitou todas que tinham.

Ele havia acabado de chegar de Pernambucano, saiu depois de uma briga difícil entre sua mãe e seu pai, por um motivo tão sombrio que ardia em seu peito. Quando chegou em Capitólio, uma cidade em Minas Gerais que era fronteira com o estado de São Paulo, ficou constrangido e tímido. Algo que ele nunca foi em sua terra, mas naquele lugar sim.

Enquanto observava mais uma vez em cinco semanas os garotos de sua idade, tocando a bola pelos seus pés em uma das dez quadras da cidade, com a expressão melancólica. Poderia estar lá, brincando animadamente, mas o medo de julgarem o novo garoto irradiava em seu peito.

"Da próxima vez eu falo com eles" pensou o garoto, antes de partir com sua bicicleta.

Ainda era dia e ele pilotava pelas ruas, passando pelas casas pequenas. Mas quando passou em frente a quadra vermelha, que ficava próximo ao seu condomínio, o som da corrente de aço se rompendo nas rodas, o fez parar naquele instante quase o jogando para frente.

Ele desceu do banco rapidamente, olhando a corrente jogada no chão, enquanto o ódio tomava seus punhos.

"Essa merda de bicicleta velha" pensou, respirando fundo.

Erick deu um chute nas rodas, que fez o som do baque da bicicleta contra a caçada eclodir.
Fitando com fúria, a única coisa que pensou era levar para o apartamento e assim tentar colar com super bonder, mesmo sabendo que isso não resolveria o problema.

"Ei" uma voz aguda rompeu atrás do garoto.

Erick se virou e se deparou com duas crianças da sua idade. Os dois possuíam pele preta, mas um com cabelos cacheados arqueados, enquanto outro portava um corte militar segurando um sorvete azul.

"Oi" respondeu o pernambucano constrangido.

"Quer ajuda?" indagou um dos meninos. "A gente viu você quebrando sua bike."

"Qual o seu nome?"

"Cauê, mas todo mundo me chama de Cacá. E esse aqui do meu lado é o Tadeu" o menino com corte militar levantou a mão em uma aceno, deixando o sorvete entre os lábios. " Vai querer ajuda ou não?"

Desesperado, Erick assentiu com a cabeça.

Tadeu levantou a bicicleta naquele momento, deixando na luz do sol. Os três observaram atentamente a corrente pendendo no aro, balançando inquietamente.

"Uai, como você fez isso?" indagou Tadeu, jogando o palito de madeira no chão.

"Não sei, essa corrente decidiu dar um pantim em mim" respondeu Erick, colocando as mãos na cintura.

Os dois garotos fitaram o pernambucano, notando seu sotaque acentuado banhando em cada palavra.

"Pantim?" repetiu Tadeu, com Cauê coçando a cabeça. "Você não é mineiro, né. É de outro país."

"Estado" corrigiu Cacá rapidamente.

"Sou de Pernambuco, conhece?" respondeu Erick, com o menino balançando a cabeça em positivo.

"Acho que já sei o que fazer" rompeu Cauê, parando de coçar a cabeça.

Assim, os três garotos foram até a bicicleta e com as mãos animadas, tentaram resolver o problema com suas pequenas mentalidades.

Cauê tentou amarrar de volta a corrente na pedivela, mas quando Erick colocou os pés no pedal, o nó mal feito se desfez.
Tadeu tentou amarrar a corrente com um elástico desgastado que conseguiu dos meninos da quadra. Ele tentou prender o cordão metálico, que sobreviveu em algumas pedaladas, até partir-se a borracha e jogar Erick na rua pedregulhada, roçando seu joelho no material arenoso.

Quando a lua tomou o lugar do sol, nenhum dos três conseguiram arrumar a bicicleta de Erick. Se sentaram na calçada, desolados.

"Não fica assim, Erick. Pede pro seu pai arrumar, as vezes ele consegue" tentou consolar Tadeu, colocando as mãos na costa do menino tristonho.

"Vou tentar, acho que mainha consegue" assim, Erick se levantou.

Erguendo a bicicleta quebrada pela manopla, Erick olhou os dois meninos sentados em meio a luz do poste que espantava a escuridão da noite.

"Tchau, valeu pela ajuda" despediu-se o menino.

"Não tem de quê" respondeu Tadeu, se levantando com o garoto ao lado.

Enquanto observavam Erick seguindo pela rua em passos lentos, Cauê gritou euforicamente o nome do novato na cidade.

"ERICK" ele se virou rapidamente, fitando nos olhos do mineiro. "Vem aqui amanhã pra gente brincar."

Erick não evitou de sorrir. Ele respondeu sim animadamente, seguindo pela noite com o coração dividido. Enquanto sentia a tristeza pela sua bicicleta quebrada, do outro lado, uma imensa alegria surgiu ao ver que duas crianças daquele lugar queriam o ver de novo e que poderia finalmente jogar bola.

Com isso, os três garotos não sabiam que quando a bicicleta quebrou, o caminho de três meninos se cruzaram, formando uma amizade que perdurou pelos anos seguintes.

𝗢𝗹𝗵𝗮𝗿𝗲𝘀 𝗜𝗺𝗽𝗲𝗿𝘃𝗶𝗮𝗶𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora