CAPÍTULO 1: A Disputa Pela Goiaba

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2013, Capitólio

Capitólio era uma cidade única e só quem morava naquele lugar reconhecia. Separado com uma parte de São Paulo pelo rio da Divisa, não era reconhecida mas também não esquecida. Não era tão linda mas possuía casas belas que transformaram o ambiente em algo harmônico.

E nesta pequena, e não tão pequena, cidade, com uma população relativamente mediana as ruas eram tranquilas. Principalmente a Campos Tomasio, no subúrbio da cidade. Com árvores ladeando as calçadas mal feitas e a brisa branda tocando o rosto dos moradores que se sentavam nos degraus, aquilo poderia ser o sinônimo do céu.

Porém, mesmo na tranquilidade da rua, as crianças agitadas brincavam animadamente. Principalmente dois garotos, um deles era Cauê Ferreira. Um menino que nasceu em Minas Gerais e marcado pela infame morte dos pais em um acidente, que levou a ser cuidado por sua madrinha Eliana. De estatura alta para seus nove anos de idade, era reconhecido pelas crianças por seus belos cachos como cetim e que sempre trocava vôlei por futebol.

O outro menino era Tadeu Vieira. Um garoto de altura média para sua idade, o mais travesso da rua. De estatura comum, vivia com sua avó e esperava ansiosamente pela chegada de seu pai. Tendo um corte militar para evitar os cuidados em seu cabelo, gostava de fazer tudo, principalmente aprontar com os adultos.

Os dois moravam na mesma rua, mas não se gostavam e nem queriam se conhecer. Mas um dia, isso mudou.

Em uma costumeira manhã quente, os dois saíram de suas casas e brincaram até seus estômagos roncarem pela tarde. A fome os obrigou a ir embora de bicicleta da pracinha e voltarem para suas casas.

Enquanto Cauê pedalava pela sua rua, sua bicicleta parou quando avistou algo. Era uma goiaba jogado ao chão, com sua casca verde lisa brilhando pela luz do sol, fazendo a criança salivar pela fruta.
Mas naquele momento, Tadeu chegou e ficou ao lado de Cauê, também avistando a suculenta goiaba, aumentando sua fome.

Os garotos se olharam naquele momento, percebendo que uma disputa havia sido instaurada entre os dois.

"Eu vi primeiro" brandiu Cauê, apertando a manopla de sua bicicleta.

"Eu tô com fome" respondeu Tadeu, afiando seu olhar.

Cauê franziu as sobrancelhas e por isso uma ideia surgiu em sua mente:

"Então, quem chegar até a goiaba primeiro, come ela."

Tadeu assentiu com a cabeça, colocando os pés no pedal ao mesmo que tempo que seu inimigo.

Quando a folha de uma árvore pousou na frente deles, os dois guianam velozmente em direção da goiaba. A ansiedade fervia em seus dedos, motivando as pedaladas fortes e ágeis, ansiando não só pela fruta mas sim pelo prazer pela vitória.

As rodas se moviam vertiginosamente, até que Cauê percebeu que Tadeu estava a frente dele, começando a sentir a derrota em seus lábios.
O menino quase perto da goiaba, sorria sem parar. Estava tão próximo, já podia sentir a doçura da fruta em sua língua.

Perto o suficiente para ganhar, Cauê perdeu as esperanças quando Tadeu ficou em frente a goiaba. Mas o que não contava, era que quando o garoto tentará parar, apertando o guidão do freio, nada aconteceu. A bicicleta continuou prosseguindo, até a roda passar por cima da fruta e esmagar ela por inteiro.

"Não" soltou Tadeu, colocando os pés no chão e parando à força a bicicleta.

Ele foi até o local da fruta, se deparando com a casca espalhada pela polpa vermelha e o líquido escorrendo pela superfície arenosa.

Cauê caminhou até Tadeu, com sua bicicleta em mãos. Ele riria do garoto pela sua derrota, mas quando se deparou com o olhar de amargura, sentiu seu coração se desmanchar em tristeza.

"Ei" chamou o Ferreira, vendo o garoto ajoelhado em frente a fruta destruída levantar seu rosto para ele. "Eu tenho outra ideia, me segue."

Tadeu respirou fundo e voltou a sua bicicleta, seguindo Cauê pelas ruas, até chegarem em uma mangueira da vizinha. A árvore possui inúmeras mangas pendendo pelos galhos, fazendo Cauê subir pelo muro e tirando duas frutas, entregando para Tadeu.

Assim, os dois meninos que se odiavam aproveitaram aquela tarde deliciosamente. Que por meio de uma disputa, gerou-se uma amizade que perdurou por longos anos.

𝗢𝗹𝗵𝗮𝗿𝗲𝘀 𝗜𝗺𝗽𝗲𝗿𝘃𝗶𝗮𝗶𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora