2017, Capitólio
Tadeu, Cauê e Erick já tinham doze anos de idade, mais unidos do que poderiam imaginar na pré-adolescência.
Com este novo ciclo, mudanças ocorreram. Agora, ao invés de discutirem sobre jogos que jogaram em casa ou os novos jogadores da seleção brasileira, falavam sobre as meninas bonitas na escola e de namoros que queriam viver.
Erick já se sentia em casa, aproveitando os amigos que fez. Indo à escola, Duque Drummond, de manhã e aturando as novas matérias, depois saindo à tarde e passando o dia inteiro na rua, jogando futebol ou vôlei com Cauê e aprontando com Tadeu, colocando bombinhas embaixo do carro de desconhecidos.
Em uma das partidas de futebol, Cauê e Erick disputavam uma interclasse com o Bom Juventude, uma das escolas de Capitólio.
Foi uma batalha árdua, com passes de bola ousados e grunhidos escandalosos dos torcedores nas bancadas que ladeavam o campo aberto."VAI CACO" gritou Tadeu no banco, com as mãos preenchidas de ansiedade.
Em meio aos urros, os dois times tinham três gols em seus placares. O juiz determinará que quem marcasse outro, ganharia a interclasse. E por isso, Duque Drummond precisava vencer.
Erick em um passe pegou a bola do adversário e começou a correr pelo campo. Seus olhos se voltaram à frente, vendo Cauê próximo ao gol. Era este o momento que ele precisava.
O suor descia por todo seu rosto, mas não ofuscando sua visão. Ele continuava percorrendo com a bola, até chegar na distância necessária para entregar ao amigo. Preparando o chute que os levaria para o ultimato da vitória, antes que seus pés tocassem a esfera de borracha, ele sentiu um baque que destruiu tudo.Um garoto do outro time se chocou com ele, o jogando para o gramado, fazendo sua testa bater contra a terra.
"MEU DEUS" urrou Tadeu correndo com Cauê.
Tadeu afastou o garoto loiro que havia atingido seu amigo, indo até Erick jogado no chão. Um ferimento em sua testa podia ser visto, escorrendo sangue pela lateral de sua cabeça.
"Foi profundo" rompeu Cauê, levantando o pernambucano.
O treinador chegou às pressas, se ajoelhando na frente de Erick e vendo o corte rubro vivo. Seus olhos se encheram de preocupação, até revelar:
"Vai ter que ir pro médico, garoto!"
***
Um dos pontos positivos de se ter uma mão enfermeira, era não ter que esperar longas horas em um hospital público para ser atendido.
Erick foi colocado em uma maca assim que chegou no posto médico Aurélio Fagundes, com sua mãe chegando naquele instante e vendo a lesão na testa do filho.
"Nada grave" disse a sra. Prata, pondo a gaze contra o corte já saturado em quinze minutos. "Mas tem que parar de ser abestado e tomar cuidado. Imagina se fosse uma lesão mais grave, meu Deus!"
"Eu sei, mainha" afirmou o garoto, vendo sua mãe se desvencilhar.
Usando um uniforme branco, ela descartou os materiais usados e guiou seu filho para fora da sala, deixando sentado em uma fileira de bancos em um corredor branco.
"Fica aqui, que eu vou achar alguém pra te levar pra casa" assim, a mãe se foi rapidamente, deixando o filho sozinho em um hospital agitado.
Uma das coisas que percebemos quando crescemos, é os bancos que pendiam nossos pés, se alongaram perfeitamente para pousar no chão. Erick percebeu isso enquanto fitava a ponta da sua chuteira manchada de barro, até ouvir um baque ao seu lado.
Ele se virou para o lado, notando a figura de uma menina da sua idade. Com cabelos ruivos intensos e levemente ondulados, em meio a um rosto alvo e com vários curativos, junto a hematomas em seu braço.
"Oi" disse a menina, mostrando um sorriso mas pousando seu olhar no ferimento de Erick. "O que aconteceu com você?"
"Eu tava jogando bola e um menino me jogou no chão" contou. "E você, o que aconteceu?"
"Eu tentei me jogar em um carroça andando, mas caí." respondeu a menina com naturalidade. "Na próxima eu consigo."
Os olhos de Erick estalou em espanto.
"Eita, por que você fez isso?" indagou o menino com ela sorrindo e desmanchando mais seu coração.
"Aí, não sei. Gosto do jeito que meu coração fica rápido quando faço isso" a ruiva tirou a mão do peito e em seguida estendeu a mão para ele. "Meu nome é Millie, mas pode me chamar de Mih. Qual é o seu?"
Erick apertou sua mão e disse em resposta:
"Meu nome é Erick, mas pode me chamar de..." ele ficou alguns segundos em silêncio "Erick mesmo, não tenho apelido."
Millie riu em prazer com doçura.
"Fica tranquilo, Erick. Eu vou inventar um pra você."
E ela inventou, não só um mas vários. Por que depois deste dia, uma amizade se instalou entre eles, se perdurando pelos anos, virando melhores amigos e quase irmãos.
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𝗢𝗹𝗵𝗮𝗿𝗲𝘀 𝗜𝗺𝗽𝗲𝗿𝘃𝗶𝗮𝗶𝘀
Ficção AdolescenteCapitólio é uma cidade única, onde surgiu uma amizade de um grupo de amigos, que será contada ao decorrer desta novela. Em meio a situações de disputa, travessura ou raiva, laços de amizades foram criados inusitadamente.