CAPÍTULO 6: A Nova Ruiva Na Cidade

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2020, Capitólio

Anastasia passou um ano em pura diversão. Ela não esperava que fosse tão bom participar de um grupo, que a fazia rir quase todos os dias e quando precisava de apoio, corriam o mais rápido para a ajudar. Aquilo conseguia ser bem melhor que a vida de luxo que viveu todos seus anos.

A mansão em Capitólio se tornou sua única casa, com Matilde administrando sua vida escolar e seu pai mandando raras mensagens perguntando se estava bem ou inúmeros presentes que chegavam pelo correio. Das roupas até as jóias, ela sabia que isto era só uma forma falha de compensar sua falta. Sua falta em sua vida ativamente, surgindo após a morte da mãe de Anastasia.

Fitando pela sacada de seu quarto, Ana observou um caminhão de mudanças indo em direção a uma nova mansão perto da sua, sendo seguido por um carro de última geração. Novos moradores, novas pessoas que ela não faria esforços para conhecer.

As horas se passaram e o relógio marcou duas horas. Era um sábado ensolarado de fevereiro e Anastasia fitou a chave do carro esparramada na mesa de vidro, se lembrando do presente de seu pai que nunca usou. Motivada pelo tédio, Ana achou que seria uma ótima ideia dirigir.

Ela se direcionou até a garagem, vendo a BMW preta ao lado do Jeep Compass de mesma cor, que era usado para seu motorista levar aos lugares.

"Vamos ver o que essa coisa faz" pensou a Valverde, abrindo a porta e colocando a chave na ignição.

O som do motor roncando suavemente preencheu o recinto, junto com a porta da garagem sendo aberta, partindo para as ruas da zona opulenta.

A sensação era boa, sentir o vento batendo em seu rosto enquanto passeava pelas belas mansões. Como não pensei em dirigir antes? pensava Anastasia, passando por um casal saindo com seu cachorro.

Mas enquanto pilotava, seus olhos se perderam com o céu azulado acima, tirando sua atenção e não percebendo que avançava no sinal vermelho. As rodas continuaram a volutear, enquanto uma garota atravessava a faixa de pedestre. Os olhos da desconhecida estalou, junto com seu grito que despertou Anastasia.
A Valverde afundou seu pé no freio, batendo sua cabeça contra o banco em um solavanco, parando o carro, com o capô ficando a poucos centímetros do corpo da garota.

"Oh my gosh!" exclamou a desconhecida, enquanto Anastasia saia do carro rapidamente.

"Ai meu Deus, me desculpa" pediu rapidamente, se deparando com uma das garotas mais bonitas que andavam por Capitolio.

De pele alva como o crepúsculo, seus cabelos ruivos escandescentes desciam até sua cintura presente em um belo corpo estreito, com leves sardas que acentuavam sua face preenchida de medo.

"Você quase me atropelou" disse a garota, colocando as mãos contra o peito.

"Eu sei, me desculpa de novo." respondeu Ana, pensando na bronca que poderia levar do seu pai.

"Okay" falou a ruiva engolindo seco, com seu português realçando as palavras em inglês espontaneamente.

"Nunca te vi, é nova por aqui?" indagou Anastasia se lembrando do caminhão de mudanças. "Meu nome é Anastasia, prazer. E você?"

A ruiva afilou seu olhar, passando por todo corpo da Valverde a analisando.

"Ye..Sim, sou nova aqui. Meu nome é Jasmin" revelou a ruiva, engolindo seco. "Você pode dirigir? Parece que temos a mesma idade. Não sabia que as regras aqui mudaram."

O que poderia ser uma frase banhada em sarcasmo, foi cintilada com inocência e dúvida, desencadeando um sorriso em Ana.

"Você tá certa, possivelmente temos a mesma idade e ainda não posso dirigir. Porém, isso fica entre a gente, um segredo nosso, Jasmin" a ruiva curvou seus lábios em um sorriso discreto. "Fez intercâmbio lá fora? Achei que fosse gringa pelo jeito que fala, mas seu rosto é bem brasileiro pro meu gosto."

Jasmin soltou uma risada, colocando as mãos na cintura.

"Eu morei em New York metade da minha vida, mas por conta de algumas coisas eu me mudei pra cá" contou a ruiva. "É tão idiota ficar misturando palavras em inglês e português, desculpa."

"Sem problemas, tenho um melhor amigo que mora nos EUA que é igualzinho a você. E também, sou acostumada com pessoas que trocam de língua" respondeu Anastasia. "Já fiquei com uma turquesa que me elogiava em francês e um polonês que me xingava em alemão, dá pra ver que tenho ótimas lembranças da Europa." Jasmin soltou mais uma risada. "Quer dar uma volta? Quero conversar mais com você, parece legal."

"Então, se você não tentar atropelar outra pessoa, óbvio que vou com você"

Assim as duas meninas embarcaram no carro e andaram por toda Capitólio, indo nas melhores lanchonetes da cidade e nos lugares que a elite frequentava, se conhecendo a cada instante e se afeiçoando a cada minuto.

"Bom, os melhores lugares pra comer aqui não existe" revelou Anastasia, com o sol enfraquecendo pela chegada da noite. "Porém, eu amo O Capital. É gorduroso, mas gostoso" disse dando um gole em seu milkshake, pilotando o carro com a mão direita.

"Nem ligo" admitiu Jasmin, no banco ao lado, comendo batatas fritas tão gordurosas que molhavam seus dedos ", se fritar na manteiga uma pedra eu como. Tenho um buraco negro no estômago pra ser saciado."

Anastasia riu, enquanto passava pelos faróis verdes e agradecia pela guarda de trânsito não ter notado que uma menor de idade dirigia pelas ruas.

"Jasmin, eu preciso te apresentar pros meus amigos" ela virou uma esquina ", eles são os mais legais dessa cidade, mas não são da nossa zona."

"Ah, okay. Vai ser legal conhecer novas pessoas" A ideia se tornou assustadora quando o carro parou em frente a mansão de Jasmin.

Anastasia fitou os olhos caramelos da ruiva, anunciando:

"Sábado à noite, no Gato Preto. Eu venho te buscar" Jasmin deu outro sorriso que mostrou durante a tarde inteira, assentindo com a Valverde.

O rabo de cavalo de Jasmin balançava junto com o movimento do seu corpo, enquanto se direcionava ao Bar do Gato preto, ao lado de Anastasia. Seus olhos estranharam um pouco o estabelecimento, era simples e parecia velho. Porém, pelo que a Valverde dissera, era o único lugar que acreditava nas identidades falsas dos adolescentes, liberando qualquer tipo de bebida, os livrando de tomar o mesmo corote vermelho das adegas nas esquinas.

Quando entrou no local, se deparou com um enorme grupo de adolescentes esperando Anastasia. Eles a receberam com um coro animoso, agindo como se fossem universitários travessos, felizes que ela se juntou a eles e depois cumprimentando a novata da cidade.

"Prazer, Jasmin." "Oi, é Jasmin." "Meu nome é Jasmin", assim respondeu cada um, não evitando de notar o olhar de um garoto pernambucano e uma menina com o mesmo tom de seu cabelo, fitando-a sem cessar. Ela se sentiu como se fosse um animal raro em um zoológico.

"Bom, vou querer só uma skol" pediu a ruiva, um pouco tímida ao garçom.

"Skol?" repetiu o garoto pernambucano, que ela identificou como sendo Erick. "Uma garota da alta classe bebendo bebida de plebeu? Uau, essa é nova." a novata passou os olhos na garrafa que o garoto segurava.

"Bebida de plebeu, mas que consegue ser bem melhor que essa coisa que você toma" ela respondeu, com a outra ruiva abrindo um sorriso travesso.

"Stella é muito bom" respondeu avidamente Erick, com um sorriso também nos lábios.

"Bebida de fracote" afirmou Jasmin novamente.

"Erick" exclamou Millie, levantando seu rosto que estava deitado nos ombros do melhor amigo ", não vamos julgar nossa nova colega. Mesmo que ela seja um pouco estranha por gostar de bebida ruim, vamos tratar ela como se fosse gente normal."

Os três caíram na risada, junto com toda mesa.

Naquele momento, a novata se sentiu à vontade, mostrando suas melhores piadas e conquistando a todos com seu jeito elétrico. Por isso, eles deram o espaço para mais uma ruiva entrar, surgindo mais uma amizade em um grupo que era tão pequeno.

𝗢𝗹𝗵𝗮𝗿𝗲𝘀 𝗜𝗺𝗽𝗲𝗿𝘃𝗶𝗮𝗶𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora