SEM REVISÃO
Ao entrar na casa, pode ver as mudanças drásticas sofrida ali. Conhecendo bem sua mãe, sabia perfeitamente que aquela mulher iria ter a casa perfeita, para demonstrar a todos que entrassem ali, o quão perfeita era sua família. Seus olhos pararam justamente na enorme fotografia pendurada a parede.
Seu pai e Fabio estavam sentados enquanto sua mãe se postava atrás de seu pai, Duda atrás do marido e Juliana ao lado do pai, a perfeita fotografia da família feliz. Essa qual jamais iria pertencer. Um pouco mais abaixo, sorriu ao ver a fotografia que seu pai havia tirado em seu último torneio de ginástica e ao qual era condecorada com a medalha de segunda lugar.
Se lembrava bem daquele torneio, afinal pela primeira vez sua mãe mostrou interesse em algo que ela fazia. Claro que sempre dava um pitaco ali e outro ali. Mas no momento que as outras mães se aproximavam e elogiavam seu desempenho, via o brilho orgulhoso de sua mãe. Por alguns momentos pensou que talvez fosse ser aceita, mas tudo desmoronou naquele mesmo ano.
Balançou a cabeça e se afastou daquelas lembranças de seu passado, queria apenas focar em se manter lucida e calma para sua pequena batalha que iria enfrentar naquele fim de semana. Sabia que seria uma grande tortura, afinal colocada perto de sua irmã perfeita, ela era um nada. Maria Eduarda era dona de um clínica de estética e suas clientes eram da mais simples até a alta sociedade do estado.
— Veja se não é minha pequena ginasta!
— Papai.
Soltou a mochila de qualquer jeito no meio da sala e correu em direção ao homem que se manteve ao seu lado, mesmo depois de ser expulsa da família.
— Não quero saber de suas tralhas jogadas pela casa, Camila. — Madalena repreendeu a filha.
Podia até ouvir as reclamações de sua mãe, mas fechou os olhos no momento que os braços de seu super-herói contornaram seu corpo. Ao sentir o cheiro de seu pai, aquele cheiro recordava os melhores momento de sua infância. Precisou conter as lágrimas que queriam sair.
— Está abusando demais Rogerio. — Madalena se aproximou do marido e o encarou — Sabe perfeitamente que o médico o proibiu de ficar se estressando atoa.
Voltou os olhos para filha caçula e revirou o olhar. O homem apenas fez um sinal qualquer com a mão e tocou com carinho no rosto da filha.
— Está linda, meu amor.
— Obrigada, papai.
— Irá ficar até quando? — Madalena cruzou os braços e encarou a filha — afinal suas tias irão vir aqui no domingo e talvez passar o feriado...
— Não se preocupa, Madalena, até domingo se irá ver livre de minha presença.
Camila voltou os olhos para a mulher que a encarou por alguns segundos. Não importava o quanto tentasse jamais seria aceita por sua mãe. Se bem que nem a poderia considerar daquela forma, afinal a mulher pouco se importava com sua existência.
Rogerio encarou as mulheres a sua frente, balançou a cabeça de forma triste. Jamais entendera o porquê dá implicância de sua esposa com a filha caçula. Tentou puxar em sua memória em que momento aquela guerra toda começou a ser travada entre as duas.
Se aproximou e sentou-se com cuidado na poltrona, soltou um suspiro baixo e descontente. Tudo o que queria era a volta de sua filha caçula ao seio daquela família, mas vendo aquela pequena cena ali, sabia que tudo iria continuar do mesmo modo. Era doloroso ter que ficar conversando com sua filha como se fosse uma criminosa.
Voltou seus olhos para o casal que estava parado a porta. Maria Eduarda estava com as mãos fechadas e as apertava fortemente. Podia ver o olhar de revolta contra a mãe. Sabia o quanto a filha mais velha sofria com o afastamento da irmã.
— Vovô, o senhor pode contar uma história. — Juliana se aproximou e sentou-se em seu colo.
— Claro que posso meu amor.
Camila encarou a cena a sua frente, sentiu novamente o aperto em seu coração. Ali no colo de seu pai deveria ter duas lindas meninas. Puxou o ar com força, balançou a cabeça com força e tentou reprimir aqueles sentimentos.
— Irei ficar no meu antigo quarto...
— Ele não existe mais. — Madalena disse de modo desdenhoso — assim que saiu por aquela porta, o transformei em minha sala particular.
Voltou os olhos para a filha caçula que abriu levemente os lábios e logo os fechava de forma dura. Arqueou a sobrancelha e sorriu de modo vitorioso. Voltou seus olhos para sua perfeita filha, sabia que Maria Eduarda logo iria se recompor, afinal aquele fim de semana seria perfeito.
Seus olhos sobre caíram sobre a neta que sorria enquanto o avô falava algo. Amava aquela menina com todas as suas forças, sabia que tinha um temperamento um pouco difícil, mas nada que algumas lições bem dadas não resolvessem tudo. Sentia orgulho do casamento perfeito da filha mais velha, era casado com um homem justo e honesto e de uma família muito rica do estado.
Claro que foi não fora nenhuma surpresa quando ele apareceu ali pela primeira vez para pedir Maria Eduarda em namoro. Sabia que logo estariam casados. E foi o que aconteceu um ano depois. Claro que teve um pequeno contratempo com a filha mais velha, mas foi preciso uma conversa seriamente e fazê-la entendê-la que Fabio era sim o homem de sua vida, e não aquele pé rapado de Paulo Vinicius.
— Fabio, você pode dormir aqui na sala, eu durmo com a minha irmã e assim mato a saudade que sentia dela. — Maria Eduarda decretou.
— Claro que não, Maria Eduarda. — Madalena repreendeu a filha — ele é seu MARIDO e deve sempre dormir a seu lado.
— Com todo respeito, mamãe, mas isso sou eu quem decido e não a senhora.
Camila abriu levemente os lábios ao ver a irmã mais velha enfrentando sua mãe. Voltou os olhos envergonhados para Fabio e murmurou um pedido de desculpas. Ele apenas acenou com a cabeça e ofereceu um singelo e sincero sorriso. A mulher precisou conter seu coração disparado ao ver novamente aquele sorriso que tanto amava.
Se recriminou por ainda se sentir atraída pelo marido de sua irmã. Mordeu o lábio inferior e virou o rosto. Precisava aceitar que ele era impossível para ela e que também ele amava sua irmã, a esposa dele.
— A tia Cami, pode dormir comigo! — Juliana se animou — afinal minha cama é beeem grande!
Fabio sorriu para a filha que estava animada com a vinda da tia que tanto amava. Voltou seus olhos para Camila, pode ver seu rosto envergonhado por toda aquela situação. Nunca entendera muito bem o porquê de sua sogra não gostar da própria filha. Sentiu seu coração se apertar ao lembrar que deveria ter uma segunda menininha ali, sua Isis.
Precisou conter as lágrimas ao saber que a menina não resistira. Fora difícil o momento em que teve que enterrar aquele pequeno caixão branco. Balançou a cabeça e mudou o rumo de seus pensamentos. Não podia ficar preso a um amor do passado que jamais seria novamente correspondido.
— Por mim, tanto faz. Maria Eduarda odeia que trabalhe na cama mesmo, e dormindo aqui na sala, posso trabalhar tranquilamente sem atrapalhar o sono dela. — deu de ombros.
— Onde já se viu isso!? Está feliz?? Mal chega e já causa esse estrago todo em minha família!
Madalena se virou de modo brusco e deu alguns passos em direção a filha caçula que manteve a cabeça erguida enquanto a encarava esbravejar.
— Talvez se abrisse um pouco os olhos e parasse de encarar apenas seu umbigo, iria ver que até mesmo a esposa de Fabio não se importa que ele durma na sala e o próprio também aceitou. Pare de jogar a culpa sempre em minhas costas. — voltou os olhos para o casal — agradeço de coração, mas irei matar saudades da minha princesa. E outra Duda, nos vemos todos os dias...
— Por vídeo chamada! — Duda retrucou e revirou os olhos, mas logo sorriu — Iremos fazer melhor então! Fabio fica em nosso quarto — se aproximou da filha que a olhava com interesse — e nós três iremos fazer nossa festa do pijama, o que acha?
— Ebaaa!
Camila acabou sorrindo para alegria contagiante da sobrinha que fora capaz de aniquilar todo estresse causado por sua mãe.
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Laços Que Nos Unem
Literatura FemininaUma família. Três vidas afetadas de formas intensas e dramáticas. Três mulheres. Três escolhas. E um segredo que ao surgir em um fim de semana podem mudar laços que jamais deveriam ser desfeitos.