Fundo do mar

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O imperador das tribos do oceano fica horrorizado ao ver o seu filho se jogar de costas na frente da humana, a protegendo do ataque ao usar o seu corpo como escudo, fazendo com que ficasse gravemente ferido.

Aproveitando o estupor do pai e movido pelo desejo de se afastar em segurança com a humana, ele faz o impensável e o golpeia com a sua cauda.

Por estar atordoado por ferir o seu filho e pelo ato inesperado, o imperador acaba sendo arremessado para trás pela força do golpe enquanto o mais jovem fazia as barbatanas em forma de lótus florescerem e a ponta da sua cauda também ao mesmo tempo em que as escamas reluziam intensamente.

Ele foge como um raio para fora da água onde a tormenta havia cessado e ao romper a superfície, ele passa a voar no céu.

A princesa consegue ar para os seus pulmões e após tomar algumas golfadas de ar, ela fica estupefata ao ver que estavam voando. A jovem confessava que nunca imaginou que demônios com cauda possuíam um jeito próprio de se locomover fora do seu ambiente, sem saber que ele podia usar pernas quando desejasse.

A mestra de demônios reparou que o brilho nas escamas ficou ainda mais atraente e sobre a incidência do sol, as escamas ganharam um aspecto ainda mais reluzente enquanto a brisa soprava por eles ao mesmo tempo em que a cauda continuava flutuando com leveza e majestade no ar rarefeito como se estivesse na água.

A jovem se encontrava fascinada ao ponto de não se importar de estar nos braços frios dele em contraste com a pele quente dela. A seu ver, o tritão era chocantemente lindo e questionava se era algo próprio da espécie dele segundo o que falavam os pergaminhos sobre a beleza transcedental dos jiaoren.

Tomada pela beleza a sua frente, a humana se permite levar a ponta dos dedos a bochecha dele, a tocando levemente.

Conforme fazia isso, a princesa tinha a estranha sensação que estava sendo desrespeitosa porque surgiu a impressão nela de estar tocando o rosto de alguma divindade ou até mesmo de Buda e frente a este pensamento inusitado, ela retira rapidamente a mão.

Por algum motivo, ela podia sentir que a alma desse jiaoren era muito pura e conforme refletia sobre isso, percebeu que era verdade porque essa sensação não a abandonou em nenhum momento.

A princesa se recorda de que somente leu sobre monstros semelhantes a fadas em livros e pergaminhos ilustrados cujo conteúdo era considerado meramente uma fantasia porque pelo consenso comum, não havia como um demônio ser uma fada no campo da pureza de alma conforme o que era propagada pelo conhecimento comum por mais notório que fosse a existência de monstros piedosos para com os humanos enquanto que para os mestres de demônios, todos os demônios eram malignos e não havia monstros bons, justificando assim o extermino e a escravização deles sem qualquer exceção ou análise.

Mas, ao olhar para ele e conforme interagia com o tritão, a princesa passou a acreditar piamente que não era fantasia e sim, a verdade. Pelo menos, em relação ao jiaoren a sua frente.

Afinal, após conviver na corte e presenciar absurdos e injustiças, além de interagir com várias pessoas embora raramente interagisse com monstros, a jovem podia falar com convicção que a alma desse demônio era pura como se fosse de uma fada.

A princesa sai dos seus pensamentos erguendo os olhos e ao fazer isso, a jovem vê que o rosto dele estava erguido, olhando com determinação para frente e conforme percebia que ele havia usado magia para ela ficar protegida da rajada de vento pelo voo dele, a princesa resolve fazer uma pergunta boba ao ver a altura em que voavam, ignorando o fato de que havia criado um apelido para ele por se sentir à vontade:

- Eu gostaria de saber, peixe de cauda grande. Se eu usar a minha magia e molhar a sua cauda, você poderá voar ainda mais alto. Talvez, até o céu? – Ela pergunta enquanto sorria.

Vínculos das almasOnde histórias criam vida. Descubra agora