Instinto

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A jovem percebe que ele exibe surpresa em seu rosto enquanto os seus olhos azuis gelo olhavam atentamente para ela.

Então, após franzir a testa, o tritão responde:

- Você ia morrer se levasse o golpe. Eu ficaria somente ferido.

Mesmo ficando surpresa pela ação de proteção dele ter sido ocasionada por uma simples avaliação e não por nenhum dos motivos que ela imaginou, a princesa conseguiu manter o controle dos selos para ajudar na cura, mesmo que fosse de forma lenta enquanto confessava que nunca conheceu ninguém como ele, mesmo tendo visto centenas de pessoas.

Afinal, mesmo sendo um monstro, não fazia diferença ao ver dela porque a jovem acreditava que eles eram capazes de sentir os mesmos sentimentos dos humanos e para chegar a essa conclusão, tomou como base a corte e todos aqueles que presenciou no palácio e entorno.

Ele era teimoso, mas mantinha a sua sinceridade enquanto se apegava a sua gentileza.

De fato, o jiaoren tinha uma alma pura e a sensação que ela tinha de ser indigna de tocar a pele dele por julgar que era como tocar em um dos Deuses ou Buda era merecida.

Com essas conclusões, o lugar dele era no oceano. O tritão pertencia a aquele ambiente. O mundo que ela vinha não era digno dele. O único lugar digno era a imensidão do oceano.

- Obrigada.

- Disponha.

- A ferida ainda dói?

- Dói. Mas, está melhorando.

A franqueza dele era surpreendente a ela considerando a falsidade, traição e engodo que presenciava ou ouvia dentro das paredes do palácio e no entorno, fosse de nobres, funcionários, servos ou dignitário.

- Eu peço desculpas. A minha magia de cura não é muito boa e parece que esse ferimento é de difícil cicatrização.

- Está tudo bem.

Ela estava comovida pelo fato dele ter a perdoado seriamente conforme olhava para o rosto dele e tal ato a faz derramar mais lágrimas. Aquele demônio era único em tudo.

Mantendo a matriz de cura apenas com a mão esquerda, a princesa estende a mão direita de forma impulsiva, levando-a para a cabeça do jiaoren ao aproveitar o fato de que estava de pé em um rochedo atrás do tritão e que permitia se elevar um pouco sobre ele.

O príncipe observa curioso a mão dela cair em sua cabeça, para depois, começa a acariciar os fios, descendo do topo ao longo dos seus cabelos prateados, para depois, repetir o movimento algumas vezes, com ela ficando fascinada ao sentir que os fios prateados eram macios e sedosos ao toque.. Os jiaorens eram mesmo demônios incríveis e dignos de serem lendários, além de belíssimos.

Conforme acariciava os fios prateados, um sorriso gentil brota em seus lábios e mesmo entretida nessa tarefa, a princesa não se descuidava da cura.

- O que significa afagar a cabeça de alguém? – O tritão pergunta com visível curiosidade em seu semblante.

A jovem não pôde deixar de pensar o quanto ele parecia fofo em muitos momentos como naquele instante e que foi ocasionado por uma pergunta inesperada:

- Esse é um gesto mágico especial que pode fazer as pessoas que foram feridas se sentirem melhor. É como uma cura.

- Humanos podem curar com um toque? – O príncipe do oceano pergunta exibindo estupefação em seu semblante porque não havia lido ou ouvido falar dessa habilidade dos humanos.

Era surpreendente para ele, para dizer o mínimo, fazendo-o questionar o que mais foi mantido em segredo sobre os humanos, embora soubesse que o conhecimento deles era limitado e que os demônios em terra deviam conhecer melhor.

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