Capítulo 3

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Harry não morreu naquela noite, embora até hoje ele às vezes se arraste durante o sono. Mas só porque ele caía da cama regularmente não significava que tivesse muito interesse em morrer. Ele tinha coisas para fazer, certo? Ele tinha que cuidar do Ron.

Uma pena, isso. Ele poderia ter levado Snape com ele.

Tudo bem, então. Ele se conformaria. Foi o suficiente para ver o bastardo das Trevas preso, enlaçado, atordoado demais para dizer uma única palavra horrível, à mercê de Harry demais para ser uma ameaça a alguém. Misericórdia. A respiração de Harry se acelerou. A fumaça escorria da ponta de sua varinha.

A cabeça de Snape estava inclinada para trás, com o couro cabeludo em desordem. Algo se enraizou na camada de óleo de seu cabelo. Harry estremeceu. Ele não precisava ver os espinhos para saber o que eles estavam fazendo. Eles já haviam perfurado sua própria pele muitas vezes. O bastardo deveria pelo menos recuar; sua quietude não era natural.

Algo escuro e úmido brotou subitamente na linha do cabelo de Snape, ungindo sua testa pálida, e começou a escorrer para baixo. Desviou ao longo da lateral do nariz de Snape e se arrastou até a distância de contato com seus lábios. Em suas bochechas encovadas, à luz da vela, a cor era horrível.

Harry engoliu e sua fúria começou a se dissipar.

Ele baixou a varinha. Como se estivesse aguardando seu sinal, as proteções começaram a se soltar e o corpo, que não resistia, caiu para baixo. Ao ouvir o saltador se rasgar e depois se rasgar novamente, Harry engoliu em seco. Ele estava suando. Esfregou a testa e se forçou a manter a calma.

Pequenos pedaços de lã preta estavam espalhados pelo chão, em meio a cacos de vidro e pétalas de rosa. Snape se ajoelhou com vários baques abafados e nada de sua graça habitual. Emaranhado de espinhos, seu cabelo se ramificou atrás dele e depois caiu, mecha por mecha, sobre seus ombros curvados.

Harry tremeu. Certo, era isso. Era isso que ele esperava, não era? Severus Snape ajoelhado, com a cabeça abaixada até que o nariz adunco corresse o risco de pegar lascas, as mãos rasgadas apoiando-o nas tábuas gastas do assoalho. A respiração de Snape enchia seus ouvidos. Ele se lembrava de ter ficado em silêncio, observando o bastardo dormir, maravilhado com cada respiração normal e uniforme.

Bem, Hermione o havia avisado. Lupin também. Por que ele não havia escutado? Fosse o que fosse que Snape tivesse feito, fosse o que fosse que ele merecesse, Harry era o único que tinha acabado de liberar toda a força de sua magia contra um homem desarmado.

Então Snape levantou a cabeça. Ele se concentrou na parte estreita de seu cabelo, sua expressão através da abertura era dura como osso e branca como osso. — Eu sabia — ele exalou, com a voz rachada como papel queimado. A faixa torta brilhava, dividindo seu rosto. — Eu sabia que o Lorde das Trevas havia transmitido os pecados dele a você. Não é de se admirar que esteja com tanta raiva de mim por tê-lo mantido vivo. Você está louco de culpa, Potter.

— Pare de falar — disse Harry. Uma chama de raiva surgiu em seu coração. Suas entranhas pareciam estar cheias de cicatrizes minúsculas e desagradáveis. — Você não sabe quando deve parar?

— Mesmo engasgando com meu próprio sangue, eu ainda encontraria meios para te dizer o que penso.

Palavras ousadas, com certeza, até que chegou a hora de Snape se levantar. Então, o sujeito foi forçado a fechar a matraca e poupar sua energia. Especialmente porque, na primeira tentativa, ele teve que se afundar e tentar novamente. Harry sabia que não deveria se oferecer para ajudar. Com um sussurro, ele limpou o sangue do rosto de Snape e baniu as manchas pegajosas de seu cabelo. De outra forma, não era possível olhar para ele.

When the Rose and the Fire Are One | SnarryOnde histórias criam vida. Descubra agora