Harry aparatava em Spinner's End à noite ou em dias nublados. Seis meses de perseguição a Snape havia ensinado que o canal era o ponto de aparição mais seguro; ao longo dos trechos mais desolados, era raro encontrar outra alma viva. Às vezes, adolescentes perambulavam sob a ponte ou, ocasionalmente, um sem-teto. Se algum dos fantasmas de Snape assombrava o aterro, Harry nunca o encontrara e esperava que continuasse assim. Ele já tinha seus próprios fantasmas o suficiente.
Além das grades de ferro, a cidade se espalhava como um dragão velho e doente, coberto de escamas rachadas e enegrecidas pela fumaça. A neve e a fuligem se misturavam ao asfalto. Depois de escurecer, um brilho sinistro se erguia sobre os telhados de ardósia, com suas telhas brilhantes de geada.
Harry vagou pela rua, meio ouvindo os pneus dos carros que passavam. A lama gelada rangia sob seus pés, e as luzes da rua refletiam na água escura. A voz da razão em sua cabeça (que soava embaraçosamente como a de Hermione) o incitava a desistir e ir para casa.
Mas ele não iria. Não até ver Snape. Ele considerava sua responsabilidade ter certeza de que o bastardo ainda estava bem preso. A discussão com sua Hermione interior era apenas parte do ritual, um golpe em sua consciência. Tremendo com a súbita solidão, enquanto o murmúrio silencioso da água despertava lembranças que não pertenciam a ele, Harry enrolou suas vestes com mais força e subiu a margem lamacenta.
Com a varinha estendida, ele se abaixou por uma brecha nas grades. A ferrugem manchou sua manga e ele a removeu com um pensamento. Nenhuma marca vermelha. Nenhuma lembrança. Em uma das esquinas, maços de jornais embalados em sacos plásticos estavam encostados em árvores de Natal esqueléticas, com os enfeites cintilando à luz dos faróis que passavam. O ano novo estava a apenas alguns dias. Já era um ano inteiro livre de Voldemort. Engraçado, Harry não estava com muita vontade de comemorar. Ele se esgueirou como um lobisomem faminto, as solas escorregando nos paralelepípedos desgastados e úmidos.
Ao virar a próxima esquina, a neblina desceu pela rua como a fumaça de um prédio destruído. Harry deixou que ela o envolvesse, disposto a enfrentar as chamas de frente. Depois de todo esse tempo, ele era o único que ainda estava queimando.
Pare com isso. Não havia chamas, não havia fogo.
Silenciando sua consciência - bem, não a consciência, talvez seu senso de autopreservação - ele atravessou o meio-fio. Fique longe da casa. Era sempre assim. Não faça isso, fique longe. Mas o desejo de invadir a casa era irresistível. Se ele não parasse de ceder a ela, mais cedo ou mais tarde seria pego.
Na verdade, ele estava ansioso por isso.
Distraído com as fantasias de enfeitiçar Snape, ele enfiou a ponta da varinha entre os dentes e mordiscou. Praticamente todo mundo já havia apontado como isso era perigoso. E se ele desse um golpe de feitiço na nuca? Bem, e daí? Um ponto para seus fantasmas, então. O resto deles poderia gravar "IDIOTA FODIDO" em sua lápide.
Ele cuspiu uma lasca e fez uma pausa. No final da rua degradada, a Spinner's End estava envolta em escuridão, com exceção de um retângulo amarelo no andar superior, que brilhava na neblina. Era uma casa alta e estreita, escura e feia, perfeita para seu único ocupante. Harry esticou o pescoço. Em algum lugar dentro do cômodo iluminado, uma vela tremulava. O sujeito inquieto provavelmente estava andando de um lado para o outro. Harry se aproximou mais da frente da casa para evitar ser visto, pressionando contra tijolos tão frios que queimavam. Ele machucou os dedos e um espinho o espetou.
— Ei, deixe pra lá — ele sussurrou, meio de brincadeira. — Sou eu. — As alas crepitaram irritantemente, mas o aroma cremoso de rosas se espalhou em saudação.
Seus fantasmas escolheram aquele momento para invadir seus pulmões. Protegendo a boca para manter a névoa afastada, Harry tentou expeli-los. Eles não iriam embora. Claro que não. Há muito tempo ele havia perdido a esperança de se livrar deles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
When the Rose and the Fire Are One | Snarry
Hayran KurguHarry é assombrado pela culpa. Snape é protegido por rosas. Cada um deve libertar o outro para poder se libertar. [Esta é uma tradução autorizada. "When the Rose and the Fire Are One" do autor(a) perverse_idyll. Tradução foi feita por mim. Não copie...