Reencontros

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CAPÍTULO 4

No dia seguinte, fui até ao Coliseu para me apresentar em minha primeira luta. Chegando lá, fiquei espantada com a grandiosidade do lugar e com a quantidade de pessoas que estavam lá para assistir. Aquilo me deu um frio na barriga. Eu não lidava muito bem com público.

Mas nada se comparou ao meu desconforto — e leve desespero — quando vi as câmeras.

"O quê?!" Quase engasguei quando vi "Ninguém me disse que isso ia passar na TV!"

"Pois é!" Um Cavaleiro de cabelos castanho-claros, vestindo uma armadura com um tom meio lilás, se aproximou "A Senhorita Saori fez questão de transmitir todas as lutas ao vivo para o mundo todo." Ele olhou para o placar "Assim que é bom. O mundo vai poder me ver quando ganhar esse torneio!"

Para. Tudo. Mundo todo?? Pronto! Agora que a Sirene ia me matar mesmo. Imagina ela me vendo quebrar a regra número um em rede internacional depois de tê-la desobedecido e saído da ilha sem sua autorização?? Era capaz dela me matar e me trazer de volta à vida só para ter o prazer de me matar mais uma vez.

"Ai, socorro..." Resmunguei. Mas aí eu lembrei de quem era culpa daquilo tudo estar acontecendo... "Saori, sua maldita!" Disse entre os dentes, com os punhos cerrados. Por fora, claramente irritada. Por dentro, chorando como se não houvesse amanhã (o que provavelmente não haveria. Meus dias estavam contados).

"Hun?" O garoto me olhou sem entender nada "Espera... Você é a Sayuri, não é?"

"Sim, eu mesma." Me virei para ele ainda com uma sensação horrível no estômago.

"Olha só!" Ele sorriu "Então você é a Amazona de Peixe Austral! E ainda andam dizendo por aí que você tinha morrido!" O garoto cruzou os braços.

Fiquei olhando para a cara dele, tentando lembrar quem era. Charmoso, bonito, com uma risadinha levemente irritante e uma prepotência que transparecia mesmo sem nem tentar.

"Jabu?" Ergui uma sobrancelha.

"Isso mesmo." Ele assentiu "Jabu de Unicórnio agora." Apontou para si mesmo "E me diz, Say..." Ele se inclinou para perto "Uma Amazona não deveria usar uma máscara?" Lá vem esse papo de máscara de novo  "Ou vai me dizer que já está quebrando as regras?"

"Humpf... Eu não..." Ia dar uma resposta malcriada, mas me interromperam.

"Sayuri?!" Uma voz com um tom familiar me chamou. Um tanto mais amadurecida do que há seis anos, mas eu a reconheceria em qualquer lugar. 

Olhei para o lado e vi ninguém mais, ninguém menos, que Shun me encarando surpreso.

Arregalei os olhos e senti como se o meu coração fosse saltar para fora das minhas costelas. Uma sensação antiga se acendeu dentro do meu peito.

Shun, de todos eles, sempre foi o mais atencioso e o mais legal comigo. Diferentemente dos outros, ele era delicado e gentil. Isso me fez querer protegê-lo de alguma forma, sabe? Não que ele precisasse de mim... Ele tinha um irmão mais velho, Ikki, que já cumpria muito bem esse papel. Bastava um "ai" ou uma única lágrima escorrer dos olhos de Shun que "BAM!" o garoto aparecia. Ainda assim, eu tentava dar o meu melhor para estar ao seu lado sempre que precisasse.

"Shun?" Eu estava tão surpresa quanto ele.

Durante muito tempo me perguntei se ele estaria sobrevivendo ao duro treinamento para se tornar um Cavaleiro. Dessa vez, ele não tinha nem o Ikki, nem a mim para defendê-lo.

Não consegui me conter. Na mesma hora em que os nossos olhos se encontraram e eu me toquei que ele estava, de fato ali, corri até ele.

"Shun!" Pulei em seus braços. Um pouco ousada? Talvez. Mas mesmo com toda essa minha ousadia, ele me recebeu com um abraço caloroso.

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